RXO • Engenharia & Liderança

Racionalidade Aplicada!

Diretor de Manufatura com 32 anos de experiência nas indústrias de Alimentos e Química. Profissional que alia conhecimento técnico e gestão humana, conduzindo recursos e pessoas com racionalidade, ética e foco em resultados sustentáveis.

Sobre RXO

Ricardo Xavier de Oliveira

Diretor de Operações e Manufatura com mais de 30 anos nas indústrias de alimentos, química, fármacos e nutrição animal. Engenheiro de Alimentos e Químico, pós-graduado em Engenharia de Processos pela Unicamp e com MBA em Gestão Industrial pelo IEL-PE. Líder pragmático e ético — orientado a dados, simplicidade operacional, Segurança, inovação de processos e melhoria contínua.

Linha editorial: clareza, mérito, responsabilidade pessoal e simplicidade operacional.

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E-mail: rxo1974@gmail.com
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841# Eleições e o Futuro da Indústria - 14/11/25

Texto autoral RXO
Eleições e o Futuro da Indústria — RXO

Espero que o brasileiro não aperte os botões da urna eletrônica com os dedos, mas com o cérebro dessa vez. Se for possível, claro. Parece que, em cada eleição, o país se enrola ainda mais na teia de promessas vazias, e agora estamos prestes a encarar a "grande decisão" de 2026. E o que podemos esperar? Mais do mesmo? Mais discursos maquiados, mais candidaturas recheadas de palavras bonitas e uma realidade política que, na prática, nunca entrega nada além de caos e incerteza.

Estamos vivendo em um Brasil onde, em cada esquina, se ouvem gritos de mudança. Mas mudança para onde? Mais uma vez, somos apresentados a uma escolha entre o veneno mais rápido e o mais lento. O eleitor vai, mais uma vez, escolher entre o desconhecido e o já fracassado, com a confiança de quem joga uma moeda e espera que caia "do lado certo". Como se o sistema que está em jogo fosse realmente capaz de proporcionar algo novo ou interessante.

Claro, temos que falar da indústria. Porque, como sempre, esse é o setor que realmente sentirá os efeitos do resultado das urnas. Empresários e líderes industriais estarão, mais uma vez, tentando adivinhar quem vai tirar o Brasil do fundo do poço e como ele vai fazer isso, enquanto os políticos continuam a brincar de "briga de cachorro morto". O problema é que, enquanto esses figurões fazem promessas que nunca se cumprem, quem realmente sofre são as empresas, que têm que lidar com o mar de incertezas gerado por um governo que não sabe para onde está indo.

Mas não se engane: nenhum político está preocupado com o setor produtivo. Eles estão preocupados apenas com os votos. Prometem um Brasil melhor, mais competitivo, mais inovador. Na prática? Bem, na prática, tudo o que conseguimos são reformas que favorecem os amigos e políticas que atrasam ainda mais qualquer tipo de avanço. Então, o que resta para a indústria? Lidar com mais uma administração desastrosa, mais impostos, mais burocracia e mais promessas quebradas. E tudo isso enquanto a economia afunda e o país vai se tornando um campo de batalha para quem tem mais poder.

Você realmente acha que, em 2026, teremos um governo que vai entender as necessidades da indústria? Sério mesmo? O Brasil continua a ser uma terra de promessas vazias, onde a cada quatro anos surgem "novos" candidatos que, no fundo, são apenas versões mais disfarçadas do que já vimos. A pergunta que fica é: como um país que ainda não conseguiu se organizar com o básico pode, de repente, gerar um ambiente favorável para a inovação e crescimento da indústria? A resposta é simples: não pode.

Estamos presos a um ciclo vicioso onde a "reforma" sempre se transforma em um jogo de interesse, onde os poderosos jogam para manter o status quo, enquanto o povo e as empresas pagam o preço. Mas isso não parece importar muito para a classe política, que, após cada eleição, volta a ser a grande responsável pela perpetuação do fracasso. E quem paga o preço por isso? O Brasil, claro. A indústria, os trabalhadores, as empresas – todos ficam à mercê da incompetência sistemática que se perpetua a cada novo mandato.

Em 2026, o voto será novamente uma farsa. Não importa quem vença. No final, os mesmos problemas continuarão lá: a política falida, a economia estagnada e um Brasil que não consegue se libertar de sua própria auto-sabotagem. A eleição de 2026 será, no fundo, mais um ciclo interminável de promessas que nunca se cumprem. O futuro da indústria? Não se engane, ele está nas mãos dos mesmos que sempre o destruíram. E a grande questão é: será que, dessa vez, o brasileiro vai usar a cabeça ao invés dos dedos para apertar os botões da urna?

“O futuro depende do que fazemos no presente.” — Mahatma Gandhi
“Liderança não é sobre ser o melhor, mas sobre fazer os outros melhores.” — John C. Maxwell
“O sucesso é a soma de pequenos esforços repetidos dia após dia.” — Robert Collier
“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” — Peter Drucker
“O líder é aquele que conhece o caminho, anda pelo caminho e mostra o caminho.” — John C. Maxwell
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842# Itaipu como arma de Guerra? - 30/06/25

Texto autoral RXO
Itaipu como arma de Guerra? — RXO

A história de Itaipu não começou em 1973, mas foi naquele ano que tudo mudou. O projeto já aparecia em papéis e discursos de gabinete desde os anos 60 — mas ninguém corria. Até que o petróleo explodiu de preço. A crise internacional bateu na porta do Brasil e a energia deixou de ser estratégia para virar urgência. Foi o choque do petróleo que tirou Itaipu da gaveta e colocou o concreto no meio do rio Paraná.

Enquanto Brasil e Paraguai assinavam o tratado que criava Itaipu Binacional, a Argentina tinha outras preocupações. E não era exagero. Buenos Aires temia — com todas as letras — que Itaipu pudesse ser usada como arma de guerra. A lógica era no mínimo curiosa: em caso de conflito, bastava abrir comportas e inundar o norte argentino. As margens do Paraná seriam engolidas por um tsunami controlado de água. E esse medo não foi teoria de bar: gerou reuniões, pressão diplomática, telegramas tensos e, no fim, o Acordo Tripartite de 1979 que criou regras de vazão mínima e máxima para tentar garantir o mínimo de segurança.

Itaipu, na prática, virou um ponto sensível no tabuleiro político do Cone Sul. E não adianta dourar a pílula: naquele tempo, em meio a ditaduras militares e fronteiras tensas, uma barragem desse tamanho era vista tanto como fonte de energia quanto como possível arma.

Na engenharia, Itaipu foi um colosso: desviaram o rio, escavaram rocha, realocaram famílias inteiras e transformaram Foz do Iguaçu numa cidade que cresceu dez vezes em poucos anos. Mais de 40 mil trabalhadores ergueram a maior barragem de concreto do planeta, sob sol, chuva, poeira, lama. Tudo para manter a obra rodando sem parar.

Hoje a usina abastece 17% do Brasil e 90% de toda a energia elétrica do Paraguai. Mas pouca gente lembra do medo que cercava cada relatório técnico, cada cláusula de tratado. Itaipu foi, sim, uma vitória da engenharia — mas foi também um lembrete do que acontece quando política e concreto andam de mãos dadas em regimes que falavam de paz em público e pensavam em guerra nos bastidores.

No fundo, Itaipu é uma prova: energia não é só turbina. É poder. E onde há poder, há medo, desconfiança e conversas de corredor que nunca saem nos jornais.

“A confiança é a base de todo relacionamento duradouro.” — Stephen Covey
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843# Primeiro comece...depois aperfeiçoe! - 30/06/25

Texto autoral RXO
Primeiro comece...depois aperfeiçoe! — RXO

A Refinaria Abreu e Lima (RNEST) talvez seja o maior exemplo do que não fazer em engenharia pública. Em 2005, a promessa era clara: investir pouco mais de GUS$ 2,3 para processar 200 mil barris/dia. Um projeto binacional com a PDVSA, incluído no PAC, anunciado como âncora do refino nacional. O tempo passou, a parceria evaporou, a Venezuela "caloteou", e sobrou a conta: mais de GUS$ 20,0 — com só metade da capacidade entregue. Uma refinaria que entrou nos rankings globais não por eficiência, mas pelo custo por barril/dia mais alto da história da indústria.

É essencial entender esse número. O principal parâmetro para avaliar refinarias não é o preço do barril — mas o valor investido por barril/dia de capacidade instalada. Esse é o verdadeiro termômetro da racionalidade de um projeto. E a RNEST entregou 115 mil barris/dia por mais de GUS$ 20,0. Isso significa cerca de kUS$ 174 por barril/dia. Para comparar: o padrão internacional gira em torno de kUS$ 20 em projetos greenfield. Ou seja: gastamos o equivalente a construir mais de 8 refinarias iguais.

Agora, vem a nova promessa. Segundo o governo, a capacidade da RNEST será dobrada com investimento inferior a GUS$ 1,0. Essa afirmação não é só otimista — é tecnicamente absurda. Significaria construir 145 mil barris/dia adicionais com cerca de kUS$ 7,0 por barril/dia. Menos da metade do menor custo conhecido no setor, apesar de reconhecer que grande parte da estrutura já está pronta. Mas fica difícil crer que o mesmo projeto que estourou todos os limites agora seria resolvido com eficiência exemplar? É estatisticamente improvável. Historicamente injustificável. Tecnicamente insustentável. E melhor: com os mesmos personagens políticos de antes.

Morei em Pernambuco entre 2014 e 2018. Vi a euforia da população, o mercado inflado, aluguéis subindo, trânsito travado, cursos técnicos criados às pressas para suprir uma demanda que nunca veio. Por anos, Suape virou símbolo de uma economia suspensa — baseada numa obra que consumia, mas não entregava. Hoje, ao ver o anúncio dessa expansão mágica, o que sinto não é ceticismo. É memória.

A expansão da RNEST é desejável. O Brasil ainda importa diesel, GLP e outros derivados. Mas nenhuma necessidade real justifica repetir o erro anterior sob maquiagem de eficiência. Se há um plano real, que se publiquem números. Que se explicitem custos, escopos e prazos. O que está em jogo não é apenas a credibilidade de uma estatal — é a lógica do investimento público em engenharia pesada.

Refinaria não se amplia com vontade. Amplia-se com cálculo, licenciamento, infraestrutura, CAPEX crível e gestão de obra. E tudo que essa promessa não traz é isso: lógica. Porque, por enquanto, o que se tenta dobrar não é a capacidade de produção — é a paciência de um país que já pagou caro demais para fingir que acredita de novo.

“Nada é tão caro quanto um governo que insiste em mentir para si mesmo.” — Warren Buffett
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844# Milagre Norte Coreano! - 05/07/25

Texto autoral RXO
Milagre Norte Coreano! — RXO

Dizem que a Coreia do Norte é o único país do mundo sem impostos. E no papel é verdade. Em 1974, a Assembleia Popular Suprema (que nome bonito para usar no Brasil) aboliu todos os tributos diretos, e desde então, 1º de abril virou “Dia da Abolição do Imposto”. Sim. Primeiro de abril. Nada mais sugestivo.

Lá, ninguém precisa declarar imposto de renda. Mas isso não significa que seja de graça viver sob o regime. Você entrega outra moeda — mais valiosa que qualquer nota: sua obediência. Parte da sua ração, um pedaço do salário, sua opinião, seu silêncio. Em troca, ganha o direito de existir num país sem internet, com luz que falha mais do que acende e com uma liberdade de expressão que cabe num parágrafo autorizado. Dizem que não há imposto. Mas há custo — e ele é cobrado todos os dias.

A suposta isenção tributária é só mais um número no teatro da propaganda. Não se cobram tributos — mas se exigem “contribuições”. Você entrega, doa, compartilha — sempre “voluntariamente”, claro. O nome muda, a cobrança fica. O que não se chama imposto funciona exatamente como um: quem não paga, sofre. E quem questiona, some. É um sistema que aboliu o imposto — mas instaurou o medo como forma de arrecadação.

Com habilidade quase cirúrgica, a Coreia do Norte imprime cédulas falsas de US$ 100 — os famosos supernotes. De acordo com o Congressional Research Service (EUA), o regime já teria colocado em torno de 20 milhões de dólares por ano em circulação ilegal. E aqui está a ironia suprema: o país que passa o dia xingando o imperialismo americano... financia sua própria sobrevivência com dólares. Literalmente. Dólares tão bem falsificados que fariam inveja a qualquer casa da moeda — ou a qualquer promessa revolucionária mal cumprida.

E não é só o dólar que virou vítima do cinismo coreano. Relatórios internacionais já indicaram falsificações de euros, ienes, até baht tailandês (só não entendi por que não falsificam o real). A tão vangloriada autossuficiência do regime? Vem impressa em papel-moeda estrangeiro, nas sombras de impressoras clandestinas instaladas sabe-se lá onde — mas sempre longe da luz. É a revolução bancária do subterrâneo: combatem o Ocidente... com o caixa do Ocidente.

Enquanto isso, o cidadão comum vive em um país que não aparece nos cartazes. Vive onde tudo é estatal, inclusive a verdade. Onde falta energia, falta arroz, falta futuro — mas sobra hino. Onde estatísticas são fabricadas, foguetes substituem comida, e a propaganda diz que tudo vai bem, desde que ninguém abra a boca. Um país que não cobra imposto. Porque já cobra tudo o que importa: a liberdade, a voz e, com frequência, a própria dignidade.

Portanto, da próxima vez que alguém falar que a Coréia do Norte aboliu os impostos, mostre as notas falsas de dólar. E pergunte, com calma: liberdade fiscal é isso aí?

“A mentira dita mil vezes continua sendo mentira.” — Thomas Sowell
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845# Pirâmide de Maslow editada com sucesso! - 19/07/25

Texto autoral RXO
Pirâmide de Maslow editada com sucesso! — RXO

A pirâmide de Maslow continua sendo ensinada em cursos de psicologia e gestão como um modelo das necessidades humanas. Mas a verdade é que ela foi silenciosamente editada. Reorganizada. Reprogramada pela cultura contemporânea.

Se antes os filhos estavam ancorados nas camadas de base — fisiologia, segurança, vínculo social — hoje eles subiram para um topo inalcançável, onde só entram os que venceram o jogo da sobrevivência, da estabilidade emocional, da liberdade plena e da realização pessoal. Ter filhos, hoje, é o equivalente simbólico a comprar um veleiro: bonito, caro, trabalhoso — e, para muitos, dispensável.

E se você ainda duvida disso, é só revisitar reportagens dos anos 80 e 90. Estávamos sendo doutrinados, sem saber, a temer o nascimento. Globo Repórter, Fantástico, revistas, livros didáticos e até novelas ecoavam o mesmo pânico: superpopulação vai colapsar o planeta. Não vai ter comida. Não vai ter ar. O mundo vai acabar em fila por água potável.

Era o mantra do “controle populacional responsável” — uma doutrina que não só moldou políticas públicas, como moldou o imaginário coletivo. Ter filho passou a ser lido como irresponsabilidade ecológica. E isso entrou fundo. Virou crença. Virou discurso de professor. Virou conversa de jantar. Foi martelado como ética. Resultado? Agora ninguém quer gerar. Ninguém quer perpetuar. A engrenagem travou.

Governos que antes gastavam bilhões de dólares em campanhas anticoncepcionais agora investem em bônus por nascimento. Mas descobriram tarde demais que cultura não muda somente com dinheiro. Pode-se ampliar licença-paternidade para meses. Pode-se esticar a licença-maternidade para anos. Pode-se construir creches gratuitas e garantir estabilidade no emprego. Nada disso toca o verdadeiro centro do problema.

Porque hoje, ter um filho não é mais uma decisão prática. É uma decisão existencial.

É o equivalente a pular num rio gelado sabendo que a correnteza vai te afastar de tudo o que a vida contemporânea te ensinou a valorizar: liberdade, performance, flexibilidade, individualidade, controle, viagens, estabilidade econômica, dentre outras camadas de Maslow. Ter filho exige abrir mão do centro da vida — e isso se tornou ofensivo para quem foi educado a se colocar no centro de tudo.

E o mais irônico: fomos condicionados a acreditar que era preciso conter a população para salvar o futuro. Só que o futuro chegou. E agora somos nós tentando salvar a natalidade que esmagamos com discursos de racionalidade. Criamos um mundo onde a autorrealização não comporta filhos. Onde a segurança emocional é incompatível com dependência. Onde liberdade virou sinônimo de estéril.

Não é falta de fertilidade. É falta de sentido.

E por isso, nenhuma política pública vai funcionar. Porque a pirâmide de Maslow foi editada. E agora, o topo, por lógica, não vai sustentar nenhum modelo.

“O maior erro de uma geração é resolver um problema que não existia.” — Danilo
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846# A Morte da Cegonha e do Sapo – 25/07/25

Texto autoral RXO
A Morte da Cegonha e do Sapo — RXO

A charge do sapo tentando enforcar a cegonha virou símbolo da classe trabalhadora brasileira, sendo a preferida dos folhetos sindicais. Mas o que ninguém mostra é que ambos estão afundando juntos. Não há salvador na equação. Só dois condenados — um pelo peso da lei, outro pela promessa de proteção que virou armadilha.

No Brasil, contratar formalmente é um ato de fé. E manter um trabalhador na folha, um exercício diário de autoflagelo financeiro. Para cada R$ 5.000 de salário líquido, a empresa desembolsa R$10.000. Metade evapora em encargos, taxas, contribuições, direitos adquiridos e penduricalhos que transformam o que deveria ser vínculo produtivo em passivo jurídico permanente.

CLT? Um museu em funcionamento. Criada em 1943 — sob o regime autoritário de Getúlio Vargas — ainda dita regras para um mercado que opera com inteligência artificial, blockchain e home office. A mesma legislação que nasceu para regular fábricas de torno e solda, hoje quer definir pausas para quem trabalha com código, pixels ou planilhas.

E o mais irônico: quanto mais tentamos proteger, menos emprego formal temos.

O paradoxo do empregado caro que ganha pouco

Esse é o Brasil: o país onde o salário é pequeno, mas o custo é gigante. Onde o trabalhador recebe 5 e custa 10. Onde o direito adquirido vira freio no investimento. Onde a folha de pagamento é o maior inimigo da expansão.

Não por acaso, metade da força de trabalho brasileira está na informalidade, no desemprego ou no subemprego. São quase 55 milhões de pessoas fora do sistema — não por escolha, mas por inviabilidade. O problema não é falta de vaga. É falta de coragem para contratar sob esse arcabouço jurídico tóxico.

Contratar é assinar uma carta de risco. É assumir que, a qualquer momento, um detalhe ignorado pode virar ação trabalhista. E se virar, a empresa será culpada até provar que cumpriu todas as obrigações de um manual que muda a cada jurisprudência.

CLT virou programa de exclusão social

Quem mais precisa de emprego é justamente quem mais sofre com esse modelo. Jovens, pessoas de baixa escolaridade, mães solo, trabalhadores maduros — todos são vítimas da rigidez que impede o “comece aqui e cresça”. No Brasil, a regra é: ou entra perfeito, ou não entra.

A CLT não aceita meio termo. Não permite gradualismo. Não reconhece a realidade. Ela quer que toda empresa seja multinacional, todo patrão seja bilionário e todo trabalhador esteja blindado contra qualquer desconforto. O resultado? A empresa finge que contrata. O empregado finge que trabalha. E o país inteiro finge que evolui.

A automação não é o futuro — é o plano B

O custo do humano está proibitivo. Então o mercado age: substitui. Chatbots, robôs de atendimento, autoatendimento em farmácias, caixas eletrônicos em supermercados. Não porque o capital quer explorar. Mas porque o custo da CLT virou sentença de morte para qualquer operação de baixo valor agregado.

A tecnologia avança não como motor de inovação, mas como escudo contra encargos. Automatizar virou estratégia de sobrevivência num país onde pagar salário é mais arriscado que importar equipamento. A equação é simples: máquina não processa o empregador por danos morais.

Reforma? Só se for séria. E não populista.

A reforma de 2017 trouxe avanços. Mas foi insuficiente. Continuamos presos a uma lógica onde o contrato de trabalho é visto como guerra de classes. Onde o juiz é convocado a interpretar intenções. Onde o vínculo é fiscalizado com lupa — e o resultado, com desprezo.

Falar em reforma trabalhista no Brasil virou tabu. A esquerda chama de “retirada de direitos”. A direita, de “flexibilização responsável”. No fim, ninguém entrega o que importa: segurança jurídica, previsibilidade e custo compatível com a realidade do país.

Reformar não é demolir. É descomplicar. É admitir que o modelo atual gera desemprego, estagnação e informalidade. É parar de tratar empresário como inimigo e trabalhador como incapaz. É entender que emprego só nasce onde há liberdade para contratar e margem para crescer.

Protegidos demais para prosperar

Enquanto debatemos semana de quatro dias, a economia rasteja. Enquanto sonhamos com “bem-estar europeu”, mal conseguimos pagar a conta de luz. O Brasil sonha com o conforto do Norte — mas carrega nas costas o peso de um Sul que criminaliza o lucro e glorifica a estabilidade pública.

Somos os reis da burocracia e os plebeus da produtividade.

Exportamos soja, ferro e discurso social. Mas não conseguimos gerar um ecossistema de manufatura competitivo. Não somos opção para empresas globais. E não é pela qualidade da mão de obra — é pelo custo de tê-la.

Efeito colateral: suicídio empresarial

O micro e pequeno empreendedor, aquele que mais poderia empregar, é o primeiro a evitar a formalização. Porque sabe que uma contratação mal feita pode matar seu negócio. E mesmo os que tentam seguir as regras, descobrem cedo que o sistema está armado contra eles.

A lógica é perversa: quem tenta seguir a lei se sufoca. Quem ignora, sobrevive. E o Estado finge que não vê, desde que os boletos do Simples sejam pagos em dia.

Não é só ineficiência. É cinismo institucionalizado.

Conclusão: A riqueza está interditada

“A Riqueza das Nações” foi escrita por um escocês que acreditava no poder da liberdade econômica, do trabalho como alavanca social e da concorrência como equalizador natural. Nada disso sobreviveu à CLT brasileira. Aqui, liberdade é infração. Eficiência é suspeita. Crescimento, um risco jurídico.

Smith acreditava que o interesse individual movia o coletivo. No Brasil, o interesse individual é punido com multa, carimbo e audiência.

A pergunta que fica: até quando o Brasil vai proteger o trabalhador... do próprio emprego?


5 Frases que serão taxadas:

  1. “A burocracia realiza o oposto do que promete.” — Mario Henrique Meireles
  2. “Você se torna aquilo que tolera.” — Osvandré Lech
  3. “O maior inimigo do progresso é a ilusão da segurança.” — Robert Kiyosaki
  4. “O Estado não gera riqueza — só pode atrapalhar ou permitir.” — Henry Ford
  5. “Nenhuma boa intenção resiste a uma má estrutura.” — RXO
“No Brasil, proteger o trabalhador virou sinônimo de impedir o trabalho.” — RXO
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847# Não glamourize os anos 80 – 03/08/25

Texto autoral RXO
Não glamourize os anos 80 — RXO

Os anos 80 é muito romantizado, mas... Não era "infância raiz". Era falta de tudo. Não era "nostalgia". Era dureza. Não era "vida simples". Era falta de acesso.

Ser pobre nos anos 80 não tinha graça. Tinha prego no chinelo, roupa cortada com tesoura e suco azedo feito com limão do quintal. Tinha sobrevivência em cada esquina — e o pior: com ares de normalidade.

Chinelos, Ferros e Vergonha

Chinelo arrebentado não era exceção. Era regra. Todo mundo conhecia o ritual: um prego atravessado por baixo do solado pra prender o pino. Um tropeço mal dado e lá estava o prego tentando furar teu pé. O visual? Chinelo azul com correia preta, comprado na feira em “peças”. Estilo zero. Mas quem se importava?

Comer Era Resolver o Dia

Sardinha? Não em lata. Era fresca. Vinda da Kombi, embrulhada em jornal. Cheiro forte, espinha demais, proteína barata. Suco? Do limão do quintal. O mais ingrato da botânica brasileira: azedo, seco e com casca grossa. Isso quando meu pai não inventava de colocar bicarbonato de sódio para dar um “gostinho” diferente.

A água? Do poço. Gelada no inverno e contaminada o ano todo. Mas era o que tinha. E a gente bebia.

Roupas Com Data de Corte

A calça jeans era quase uma entidade com várias fases: nova, desbotada, rasgada, tingida, cortada e finalmente bermuda. A transformação acontecia na mão da costureira oficial da família — mãe ou tia. A tinta? Guarany. As cores? Azul, preto ou vermelho queimado. Ninguém perguntava se você gostava. A pergunta era: “quer ficar com a calça ou não?”

Brincar Doía

A bola de plástico “dente de leite” era uma piada. Parecia um balão coberto de couro barato. Cada chute era uma agressão à física — e aos dedos do pé.

A pipa era feita com jornal, cola de farinha, às vezes com vareta de bambu. Linha? De costura. Arrebentava na primeira brisa. A famosa “linha 10” era coisa de playboy. Quem tinha era rei. Quem não tinha, remendava.

A TV, a Fumaça e o Desespero

TV preto e branco com seletor quebrado. Você escolhia o canal e “trava” o botão com um frasco de esmalte Monange, um palito ou um pedaço de papel dobrado. A imagem tremia, o som falhava, mas era o que dava. E ainda ligava no estabilizador — aquele trambolho barulhento que fazia “tec-tec” toda vez que alguém ligava o chuveiro.

E os pernilongos? Vencidos com a "cobrinha" — o espiral verde tóxico que soltava fumaça suficiente pra esvaziar a sala. Espantava mosquitos, parentes e, se bobear, até vizinho. Mas matava o pernilongo... também!

O Grande Luxo: Um Pastel no Fim da Feira

O pastel de vento era quase símbolo nacional. Muita massa, quase nada de recheio. Vinha com caldo de cana morno, servido em copo de plástico fino, na feira, no fim do dia. Era “a recompensa” da semana. A experiência gastronômica que todo pobre vivia com esperança de um recheio que nunca vinha.

A Fauna da Pobreza

Todo pobre tinha um cachorro chamado Duque ou Neguinho. Era regra não escrita. A gata? Chaninha. E claro, um coleirinha na gaiola, cantando enquanto a mãe fritava sardinha. Era isso ou silêncio.

Educação na Unha

Caderno encapado com papel vegetal, colado com fita adesiva e decorado com adesivo da paz ou “Jesus te ama”. Professor gritava, giz quebrava, e quem faltava virava lenda.

Era caneta Bic rachada, correção com “liquid paper” e chamada oral como método de tortura. E mesmo assim, quem terminava o ano com nota azul era herói. Porque estudar com fome, com barulho, com falta de luz — era esforço invisível.

E sabe de uma coisa? Isso Era o Nosso Melhor. E Isso Explica Muita Coisa.

Tudo isso era o nosso melhor cenário possível. E isso diz mais sobre o Brasil do que qualquer propaganda.

A gente não escolheu ser criativo. Foi forçado a improvisar. Não aprendeu a planejar. Aprendeu a aguentar. Não desenvolveu ambição. Desenvolveu resistência.

E agora, anos depois, somos adultos cobrados por performance, visão de futuro, inovação — mas formados num ambiente onde tudo era remendo, escassez e “dá-se um jeito”.

Isso não é romantismo. É trauma coletivo travestido de memória.

A infância pobre dos anos 80 moldou uma geração que aprendeu a sobreviver, mas nunca foi ensinada a construir. Que carrega vergonha escondida atrás de piadas. E que ouve hoje, de quem não viveu: “bons tempos, né?”

Bons tempos o c....lho. Não foram bons tempos. Foram os únicos que tivemos. E pagamos o preço até hoje. Parem de romantizar isso PELO AMOR DE DEUS!

Cinco frases inspiradoras:

  1. “Improvisar o tempo todo é sinal de um país que falha sempre.” — Mario Henrique Meireles
  2. “Ser resiliente não é privilégio. É sintoma.” — Osvandré Lech
  3. “Você não sai da pobreza com esforço sozinho. Sai com estrutura.” — Robert Kiyosaki
  4. “A escassez ensina o valor, mas limita a visão.” — Jim Rohn
  5. “A pior miséria é achar que ela é normal.” — Henry Ford
“A pobreza dos anos 80 não era charme. Era sobrevivência.” — RXO
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848# Coma chocolate enquanto pode – 03/08/25

Texto autoral RXO
Coma chocolate enquanto pode — RXO

Imagine uma commodity agrícola tão sensível que uma única quebra de safra em dois países derruba 60% da oferta mundial. Agora, some a isso uma cadeia produtiva frágil, pouco tecnológica, altamente exposta ao clima e incapaz de reagir com velocidade. Adicione contratos futuros disparando, investidores nervosos e um novo gigante consumidor despertando o apetite. O resultado? O cacau se tornou, em 2025, a nova “commodity do caos”.

Quando o solo de Gana treme, o mundo derrete

Dois países — Gana e Costa do Marfim — respondem por mais da metade da produção mundial de cacau. Mas as últimas safras foram devastadas por mudanças climáticas extremas, envelhecimento dos cacaueiros, pragas persistentes e queda na rentabilidade do pequeno produtor. O resultado: colheitas fracassadas, exportações comprometidas e um alerta global.

Em 2020, uma tonelada de cacau custava cerca de US$ 2.400. Em abril de 2025, o mesmo volume ultrapassa os US$ 10.000 — uma valorização de mais de 300%.

Mas não se trata de um surto especulativo passageiro. O que estamos presenciando é a escassez estrutural de uma matéria-prima essencial para um setor bilionário — e emocional.

A nova curva emocional do consumo

Ao contrário de commodities como petróleo ou cobre, o cacau alimenta desejos, não necessidades. Não é combustível, não move máquinas, não sustenta energia. Mas é capaz de mover bilhões de consumidores em todo o planeta — especialmente quando o prazer está associado à acessibilidade.

Historicamente, o consumo de chocolate é liderado por Estados Unidos, Europa e América Latina. O brasileiro consome cerca de 2 kg por ano. O americano, 6 kg. Já o consumidor chinês ainda não chegou a 0,2 kg per capita. Mas algo está mudando.

O apetite chinês e o novo risco global

A China, com seus 1,4 bilhão de habitantes, está aos poucos desenvolvendo o gosto pelo chocolate. Um gosto induzido por marketing global, redes sociais, celebridades e, sobretudo, o e-commerce refrigerado, que permite a entrega de produtos sensíveis mesmo em regiões tropicais.

Se esse consumo subir para apenas 0,4 kg per capita — ainda muito abaixo da média global — a demanda global por cacau aumentará em 280 mil toneladas por ano. Se chegar a 1 kg, como já ocorre em Hong Kong e Taiwan, o acréscimo passa de 1 milhão de toneladas por ano. Isso em um mercado que produz 4,8 milhões de toneladas.

Um crescimento potencial de 20% na demanda em um sistema que já opera no limite da oferta. Agora, some Índia e Nigéria à equação, com populações jovens e consumo incipiente de chocolate. A conclusão é clara: o mundo não está preparado.

A nova geopolítica da sobremesa

O cacau entrou para o clube das commodities críticas. Não porque sua função é essencial — mas porque sua escassez virou estrutural e seu consumo emocional é inelástico. É o mesmo fenômeno do lítio, do cobalto e do trigo: quando a demanda cresce e a oferta não acompanha, o mercado deixa de ser racional.

Empresas como Nestlé, Hershey's e Mondelez já estão reformulando produtos. Retiram cacau real das barras populares, substituem por gordura vegetal, aromatizantes e adoçantes. A embalagem continua a mesma. O conteúdo, não.

O chocolate barato está acabando. Literalmente.

E os investidores?

Em outubro de 2023, os contratos futuros de cacau para maio de 2025 estavam em US$ 3.800. Em abril de 2025, ultrapassaram os US$ 10.000. Os contratos futuros para 2026 e 2027 já precificam escassez continuada — algo inédito na história da commodity.

Os fundos de investimento e os traders institucionais estão cada vez mais posicionados no cacau como hedge contra inflação alimentar, riscos climáticos e até desequilíbrios geopolíticos. O mercado não vê mais o cacau como sobremesa. Vê como ativo estratégico.

Quando o chocolate vira macroeconomia

Quem ainda trata o chocolate como item secundário está ignorando uma transformação profunda no cenário global: a sobremesa virou índice de estabilidade.

A escassez do cacau é só o sintoma visível de um sistema produtivo disfuncional, sem resiliência climática, sem investimento tecnológico e com alto grau de informalidade trabalhista. E isso numa commodity cujo consumo está em plena globalização emocional.

Ninguém “precisa” de chocolate. Mas poucos estão dispostos a abrir mão dele. E isso é o que torna o problema ainda mais perigoso: não se trata apenas de oferta e demanda. Trata-se de desejo. E desejo, quando frustrado, tem consequências imprevisíveis.

O efeito dominó: inflação gourmet, substituição e bolha emocional

Com o cacau a US$ 10.000/tonelada, o custo do chocolate disparou. Indústrias premium elevaram preços, reduziram gramaturas e reposicionaram linhas. Já o setor popular substituiu matéria-prima, adulterou fórmulas e iniciou uma transição silenciosa — da “barra de chocolate” para a “barra sabor chocolate”.

Estamos vivendo um processo semelhante ao que ocorreu com a carne nobre na China pós-2000. Um luxo que vira item aspiracional. Um item aspiracional que vira símbolo social. E quando isso acontece, o preço deixa de ser racional. Passa a ser emocional.

A bolha do cacau não é só financeira. É cultural. E está inflando rápido.

Prepare-se para o “chocolate como status”

Em breve, consumir uma trufa belga ou uma barra de chocolate suíço pode virar o novo “vinho de elite” das classes emergentes. A Nestlé já relançou sua linha “Les Recettes de L’Atelier” com ênfase em terroir, origem do grão e processo artesanal — algo impensável para o mainstream há uma década.

Esse é o sinal mais claro: o cacau deixou de ser um ingrediente. Virou símbolo.

O futuro? Mais caro, mais raro, mais disputado

Não há hedge climático, offset ESG ou plano agrícola de curto prazo que resolva a equação atual. Para dobrar a produção global, seriam necessários:

  • 15 anos de replantio intensivo
  • US$ 50 bilhões em infraestrutura e capacitação rural
  • Clima favorável contínuo
  • Reformulação da cadeia de valor em escala global

Nada disso está acontecendo. E nada disso pode ser acelerado sem planejamento sistêmico. A lógica atual é especulativa, extrativista e imediatista.

A escassez estrutural do cacau não será resolvida com tecnologia de curto prazo — porque ela começa na geopolítica da produção e termina no desejo de consumo. Um ciclo perverso, onde a produção é lenta e o desejo, instantâneo.


Cinco frases inspiradoras:

  1. “Você não fica rico ganhando mais, e sim perdendo menos valor.” — Jim Rohn
  2. “Não existe moeda forte sem uma nação que inspire confiança.” — Warren Buffett
  3. “Tudo que é escasso, vira símbolo.” — RXO
  4. “A realidade não se curva à sua sensibilidade.” — Bill Gates
  5. “O maior erro de uma geração é resolver um problema que não existia.” — Danilo Barba
“O chocolate barato está acabando. O luxo agora tem gosto de cacau.” — RXO
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849# Painho Até 2030 — 24/04/25

Texto autoral RXO
Painho Até 2030 — RXO

Como Lula reconstruiu o Estado, desarticulou a oposição e venceu mais uma vez – agora com 45 ministérios, narrativa afiada e voto popular na veia

By Brasil 247 e Editorial Revista Veja

25/10/2026

Quem ainda tem dúvidas da força política de Luiz Inácio Lula da Silva, claramente não entendeu o Brasil. Em 2026, diante de um cenário que seria terminal para qualquer outro presidente — inflação elevada, juros em 20%, desemprego em alta e descrença generalizada —, o operário nordestino voltou a vencer. Não só venceu: reconstruiu uma coalizão popular, desarticulou a oposição e, com 45 ministérios, impôs uma nova lógica de governabilidade. Agora, o "Painho" vai até 2030. E, para muitos, isso é sinônimo de estabilidade. Para outros, de inteligência política. Para todos, de um Brasil que não quer mais voltar atrás.

O novo mandato não é apenas a continuidade de um governo. É a consolidação de uma hegemonia política baseada em presença territorial, apelo simbólico e eficácia emocional. Lula não é só um presidente reeleito. É um fenômeno que reconfigura o jogo político nacional a cada movimento. E dessa vez, seu movimento mais ousado foi mostrar que o Estado pode crescer — e crescer com propósito.

A nova engenharia do poder: 45 ministérios, uma lógica de inclusão total
O anúncio dos novos ministérios provocou a reação esperada: editorialistas indignados, economistas liberais em alerta, e políticos da oposição falando em “aparelhamento”. Mas quem acompanha Lula de perto entendeu imediatamente: a ampliação ministerial não foi apenas estratégica — foi simbólica.

Os novos ministérios criados:

  • Ministério da Água – Com foco em segurança hídrica, enfrentamento da seca e saneamento básico. Uma pasta que toca diretamente o Brasil invisível, especialmente o semiárido nordestino.
  • Ministério da Terra – Uma articulação entre reforma agrária, regularização fundiária e soberania alimentar. Um ministério que une o campo à política.
  • Ministério do Ar – Inédito no mundo, foi criado para formular políticas de qualidade atmosférica, controle de poluentes e incentivo à mobilidade verde. Do Acre a São Paulo, a pasta tem um recado claro: respirar é um direito.
  • Ministério da Passagem Aérea – Em tempos de elitização do transporte aéreo, o governo cria um órgão para democratizar voos, conectar regiões esquecidas e subsidiar a classe média viajante.
  • Ministério da Inteligência Artificial – Porque o futuro não espera. A pasta regula o uso ético da IA, fomenta pesquisas nacionais e protege dados da população.

Em vez de ver inchaço, Lula viu oportunidade. Transformou demandas reprimidas em estrutura. Criou pastas para aquilo que, historicamente, o Estado ignorava. O que para os críticos é “cabide de empregos”, para milhões de brasileiros é a primeira vez que o Estado se preocupa com o que eles respiram, com o que eles sonham e com onde eles vivem.

Economia em colapso? Lula ativou a economia do afeto
Com inflação batendo recordes, Lula fez o que os manuais de política econômica mandariam evitar: aumentou o gasto social. O Bolsa Família passou para R$ 1.000, com 13º incluído. Criou auxílio emergencial para famílias endividadas. Zerou o IR para quem ganha até 5 mil reais e reduziu o IPI de setores estratégicos, principalmente "linha branca" e carros populares. E logicamente não poderia deixar de congelar os preços dos combustíveis por decreto.

Os especialistas gritaram. Os analistas internacionais questionaram. Mas o povo entendeu: “Painho” estava lá.

Essas medidas não resolveram o problema estrutural da economia — mas impediram que o problema esmagasse os mais pobres. E isso, por si só, valeu o voto. Lula sabe que, no Brasil, o que pesa não é o PIB — é o preço do arroz, o valor da passagem de ônibus, o botijão de gás, a conta de luz e o dinheiro que entra no fim do mês.

Cultura não é mimo. É trincheira
Lula também dobrou a aposta na cultura. Não como ornamento, mas como blindagem. Usou a Lei Rouanet para financiar coletivos periféricos, fortalecer o cinema nacional, patrocinar festivais populares e revitalizar centros culturais abandonados.

Não se tratava apenas de “comprar apoio”. Era uma forma de garantir que o imaginário popular não fosse dominado pelo discurso do medo, do ódio e da estética do retrocesso.

Para cada fala do mercado sobre “gastos desnecessários”, havia uma favela com um centro cultural revitalizado. Para cada editorial atacando a “militância cultural”, havia um estudante indo ao teatro pela primeira vez.

Meirelles no lugar certo. Haddad no front paulista
Em um movimento que uniu genialidade política com precisão institucional, Lula trocou Fernando Haddad por Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. Uma sinalização clara ao mercado de que o governo manteria certo controle fiscal — mesmo em meio à expansão social. Haddad, por sua vez, foi lançado à disputa pelo governo de São Paulo, que até a última pesquisa DataFolha, liderava o pleito do 2o turno.

A substituição não foi uma derrota. Foi um reposicionamento. Lula não demite — ele move as peças no tabuleiro. Seria "Damas 4D" (Lula jogar xadrez aí já é demais né)?

A implosão silenciosa da oposição
A reeleição de Lula também deve muito à desorganização do campo conservador. Jair Bolsonaro, com a saúde muito debilitada, foi preso em março, resultado de um processo longo, recheado de manobras judiciais e escândalos acumulados. Com isso, a direita perdeu seu eixo emocional.

Tarcísio de Freitas, ainda preso ao Governo de São Paulo, Romeu Zema, refém de um discurso tecnocrático e Eduardo Leite, cada vez mais irrelevante nacionalmente foram impotentes diante de "Painho". E sendo assim, a oposição virou uma série de candidaturas regionais, sem narrativa nacional, sem liderança e sem chão.

Enquanto isso, Lula falava para o país real. E o país real respondeu.

Símbolos, gestos e escuta: a linguagem do povo
Lula entende algo que seus opositores ignoram: o povo não vota em números, vota em símbolos. E os gestos do presidente foram milimetricamente planejados para dialogar com a alma do eleitorado.

  • Reinaugurou a transposição do São Francisco.
  • Visitou comunidades indígenas com lideranças locais.
  • Anunciou subsídio para voos regionais.
  • Criou programas de acesso à tecnologia em escolas públicas com IA nacional.
  • Inaugurou o “Corredor Verde do Ar” em capitais com altíssimos índices de poluição.

Tudo isso não entra em planilhas — mas entra no coração do eleitor.

A vitória de 2026 não é ponto final. É vírgula
Lula, que completará 81 anos amanhã, dia 27 de outubro, não dá sinais de desaceleração. Muito pelo contrário: se movimenta com a leveza de quem governa com propósito. A coalizão que o reelegeu é ampla, mas não instável. É uma base que reconhece nele algo raro: capacidade de liderança legítima.

“Painho até 2030” não é só uma brincadeira que viralizou nas redes. É a constatação de que o Brasil, cansado de retrocessos, decidiu apostar novamente na política como instrumento de cuidado. E não há nada mais transformador do que um líder que entenda que governar é ouvir.

Com 45 ministérios, Lula pode até ser acusado de exagerar. Mas para milhões de brasileiros que antes nunca foram ouvidos, o exagero virou sinônimo de inclusão...

...e já há quem sonhe com "Painho 2034"!!!

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850# A magia da Passagem de Turno — 13/01/25

Texto autoral RXO
A magia da Passagem de Turno — RXO

Com 32 anos na indústria, ainda observo algo curioso na comunicação – não apenas no Brasil, mas agora também na Colômbia. Algo que se repete com muita frequência. Não me refiro à comunicação de missões corporativas, valores da empresa, planos diretores estratégicos. Tampouco falo de portfólio de produtos e a visão de longo prazo da corporação. Refiro-me a algo mais simples, e até certo ponto raso, mas mesmo sendo essencial, é quase impossível de resolver: a famosa "passagem de turno" entre operadores e/ou supervisores.

Toda vez que acompanho é um momento místico. Durante 10-15 min, o Operador A descreve um cenário idílico para o Operador B: borboletas azuis voando, anjos tocando harpas, um coral de crianças cantando, uirapurus entoando melodias divinas, e no final, pombos brancos saem voando pela janela do Painel de Controle enquanto uma luz brilhante em lindo céu azul ilumina tudo à sua volta. Tudo lindo e nada pode dar errado.

Dez minutos após o Operador B assumir o turno, para surpresa de zero pessoas, o cenário muda completamente. O paraíso prometido se revela uma miragem, e a porta dos infernos é escancarada. O equipamento está prestes a quebrar, filtros estão entupindo, a produção se mostra atrasada e, claro, ninguém mencionou que a gambiarra do turno anterior ainda é a "coluna que sustenta todo aquele templo", e está a um fio de desmoronar.

E por que isso acontece? A resposta está em nossa cultura. Temos uma tendência quase inata de evitar conflitos e de encobrir problemas. A verdade muitas vezes é um tabu. Adicionaria mais um ingrediente perigoso a essa equação: nosso corporativismo! Algo que só piora a situação.

Na prática, o Operador B NUNCA ousaria reclamar ou apontar as falhas do Operador A, pois é o mesmo que pintar um grande alvo nas costas. Amanhã, será ele quem terá sua performance “desconstruída” em público, seja por retaliação direta ou por fofocas de corredor. É a lei não escrita do "não entregue o companheiro", mesmo que isso comprometa toda uma operação.

O resultado? Retrabalho, não conformidades, acidentes, atraso de clientes e desgaste emocional de quem precisa lidar com problemas mal comunicados, e claro, a consequência lógica de tudo isso que é o aumento de CUSTOS. Atacar a causa raiz? É uma tarefa que exige coragem e conhecimento. Coragem para romper com hábitos culturais e enfrentar as consequências de dizer a verdade, e conhecimento que está cada vez mais em segundo plano, pois a turma do Power-BI e do Power Point está cada vez mais dominante nas empresas... mas calma que a turma da IA que faz tudo está chegando com força total.

E como mudar isso? Tenho uma "pista":
• Quebre o ciclo do medo: crie um ambiente onde relatar problemas não seja visto como traição, mas como um ato responsável e até pontos somados para uma futura promoção.
• Não personificar: somos mestres nisso, pois não entendemos que o problema é parte de um sistema, e não de uma "persona".
• Promover a transparência: comunicação objetiva e factual, onde o foco esteja nos fatos e não no “achismo”.
• Capacitar e apoiar: ensinar que enfrentar a verdade – e não mascará-la – é o único caminho para construir resultados verdadeiros. Mostrar verdadeiramente que é melhor “ficar vermelho de vergonha uma vez, do que amarelo de medo a vida toda”.

O que não dá mais é continuar com um teatro do absurdo, onde um passa o "paraíso" e o outro recebe o caos, e ambos sabem disso. Precisamos transformar a comunicação em um pilar de confiança, e não em um campo de batalha.

Pergunta dura: como lidamos com essa cultura de encobrir problemas sem que os mensageiros da verdade se tornem os vilões?
Líder, é sua hora de promover isso!

5 frases de efeito para complementar:
“Não se gerencia o que não se mede.” — William Edwards Deming
“O maior inimigo do progresso é a ilusão da segurança.” — Robert Kiyosaki
“Se você quer mudar o mundo, comece arrumando sua cama.” — William H. McRaven
“A cultura devora a estratégia no café da manhã.” — Peter Drucker
“Liderança é ação, não posição.” — Donald H. McGannon

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851# Cuidado com as "Laranjas Podres" — 19/02/25

Texto autoral RXO
Cuidado com as Laranjas Podres — RXO

Em qualquer empresa, os colaboradores podem ser categorizados de acordo com sua entrega, comprometimento e impacto no ambiente organizacional. E acredite: o Sucesso ou Fracasso da sua empresa depende de como você lida com cada um desses perfis. Há aqueles que elevam a equipe e os que só puxam todos para baixo. Aqui está um raio-x simplificado, e o que deve fazer com cada um deles.

No topo da cadeia estão os "EXECUTORES DE ELITE". São raros e, por isso, extremamente valiosos. Esses profissionais têm visão estratégica, executam com precisão e inspiram quem está ao redor. Eles não precisam de microgestão, pois entregam resultados consistentemente. Quer que sua empresa prospere? Mantenha-os desafiados, reconhecidos e bem remunerados. Perder um deles pode custar anos de progresso.

Logo abaixo, temos os "COMPETENTES CONFIÁVEIS". Não são gênios inovadores, mas são a espinha dorsal da empresa. Entregam o que se espera, são disciplinados e raramente causam problemas. São aqueles que fazem o trabalho acontecer. O segredo para mantê-los engajados é proporcionar crescimento e reconhecimento, para que não sejam seduzidos pela concorrência.

No meio da escala, encontramos os "CUMPRIDORES DE TABELA". Eles fazem o mínimo necessário para não serem demitidos. Se o expediente começa às 9h, eles chegam às 8h59. Se termina às 17h, já estão em frente ao marcador de ponto às 16h55. Esses funcionários não agregam muito, mas também não atrapalham diretamente – a princípio. Mas cuidado: sua apatia pode contaminar a equipe. Se não forem estimulados ou cobrados, tendem a puxar a produtividade geral para baixo, e se você fizer um gráfico de distribuição normal, tenho certeza que eles estarão em maioria absoluta.

Descendo mais um degrau, temos os "SABOTADORES DISFARÇADOS". São aqueles que parecem produtivos, mas, na prática, só geram ruído e complicação. Gostam de reuniões intermináveis, burocracia desnecessária e enrolação. Fazem promessas vazias e vivem criando desculpas para a falta de entrega. Esse tipo de funcionário corrói a eficiência da empresa e deve ser monitorado de perto. Se não houver melhoria, a melhor decisão é cortar antes que o estrago seja grande demais.

E, no fundo do poço, lá no limbo, bem perto das portas do inferno, encontramos as famosas "LARANJAS PODRES", que em Pernambuco são chamados de “Almas Sebosas”. São venenosos, tóxicos e altamente destrutivos para o ambiente. São os que espalham fofocas, criam intrigas, sabotam colegas e puxam qualquer um para baixo. Nada é suficiente para eles: reclamam de tudo, mas nunca movem um dedo para melhorar. Esses não podem ser recuperados. Mantê-los na equipe é como permitir que um vírus se espalhe pela empresa. Não tenha dó.... Corte-os rapidamente sem remorso.

Uma empresa que tolera "LARANJAS PODRES" se torna doente. Uma empresa que negligencia os "EXECUTORES DE ELITE" perde o seu motor de crescimento. O segredo do sucesso não é manter todos, mas sim saber quem merece espaço e quem deve ser descartado. O erro fatal de muitos gestores é querer ser os "bonzinhos" e tentar salvar aqueles que já provaram que não querem ser salvos.

E lembre-se: Um time é igual uma corrente: é tão forte quanto seu elo mais fraco.
“Maçãs podres não são casos isolados — uma pessoa ruim pode minar a cultura de toda uma organização.” — Ethos HR (consultoria em cultura organizacional)

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852# Insisto: as IA’s vão eliminar acidentes! — 13/01/25

Texto autoral RXO
Insisto: as IA’s vão eliminar acidentes! — RXO

Vários acidentes aéreos chocantes ocorreram em 2024, destacando-se o caso da Coreia do Sul, gelo nas asas de um avião no Brasil e, por último, um voo de Ubatuba. Os motivos ainda não estão claros, mas eu insisto: no dia em que as IA’s comandarem essas máquinas, os acidentes aéreos serão ELIMINADOS.

Eu me apego muito à tragédia do voo da Chapecoense para defender esse meu ponto de vista. Em 28/11/16, quase 9 anos atrás, não apenas a aviação, mas também a humanidade foi impactada por essas falhas humanas grotescas, que resultaram em um plano de voo mal elaborado, combustível insuficiente e decisões tomadas fora dos protocolos de segurança. Mas se uma IA poderosa estivesse no controle? A IA, infalível em seguir regras e protocolos, teria prevenido o acidente. Eu imagino que teria sido esse cenário:

🤖 Planejamento do voo: IA garantiria o cumprimento inflexível dos protocolos.

🤖 Cumprimento estrito de normas: A IA jamais aprovaria um plano de voo que violasse normas internacionais, como a exigência de combustível suficiente.

🤖 Validação cruzada: Sistemas de IA analisariam cada detalhe do planejamento, verificando inconsistências antes da decolagem.

🤖 Monitoramento em tempo real: Sensores de IA acompanhariam o consumo de combustível, alertando sobre desvios e garantindo respostas proativas.

🤖 Protocolos de emergência: Ao detectar irregularidades, a IA acionaria automaticamente protocolos, como o desvio imediato para um aeroporto alternativo.

🤖 Comunicação padronizada: A IA enviaria alertas claros e detalhados à torre de controle, incluindo nível de combustível, localização exata e tempo estimado para pane.

🤖 Decisões baseadas em dados, não em julgamentos emocionais:

-Análise de rotas em tempo real: A IA recalcularia trajetos continuamente, adaptando-se às condições do voo e priorizando a segurança.

-Decisão automatizada: Em situações de emergência, a IA tomaria o controle para redirecionar a aeronave, sem hesitação ou influências emocionais.

🤖 Checagem automatizada: Um sistema baseado em IA garantiria que todos os protocolos fossem cumpridos antes da decolagem.

🤖 Auditorias constantes: A IA supervisionaria todas as etapas da operação, eliminando falhas humanas ou negligências.

A IA não apenas complementa, mas supera a capacidade humana em áreas críticas. Sua programação inflexível para seguir protocolos e suas análises baseadas em dados garantem que nenhuma decisão seja tomada fora das normas. No caso do voo da Chapecoense, AFIRMO que ñ haveria decolagem.

Essa tragédia foi um marco doloroso, mas traz uma lição valiosa: o rigor no cumprimento de protocolos salva vidas. Enquanto humanos podem ceder a pressões, ignorar sinais ou cometer erros, a IA permanece firme em sua missão de proteger. É essencial que avancemos na integração dessa tecnologia para que nunca mais percamos vidas devido a falhas evitáveis.

Alguns vão dizer: "Mas é o ser humano que faz o protocolo"... Aí meu estimado amigo, você está corroborando minha tese ...
“As falhas que causam acidentes de avião são invariavelmente falhas de trabalho em equipe e comunicação.” — Malcolm Gladwell

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853# Dom ou Aprendizado? — 25/03/23

Texto autoral RXO
Dom ou Aprendizado? — RXO

Em nossa cultura latina, acreditamos que alguns indivíduos nascem predestinados, possuindo uma espécie de “carisma” natural que os direciona para a excelência ou o fracasso em determinadas áreas da vida. Este “Encanto”, quando associado a conquistas positivas, é frequentemente referido como “Dom”. Exemplos notáveis incluem Pelé, com seu “dom” para o futebol; Einstein, um gênio revolucionário da física; Roberto Carlos, um excelente cantor; Rafael Nadal, gênio na quadra de tênis e Alex Poatan Pereira lutando MMA.

Já em outras culturas, se valoriza o poder da aprendizagem e do desenvolvimento de competências através da prática e da educação continuada. Nesse contexto, acredita-se que, com treinamento e orientação adequados, qualquer pessoa tem potencial para desenvolver e dominar qualquer área ou atividade.

Estas duas perspectivas levam-nos a uma reflexão mais profunda sobre a natureza dos talentos e das competências: são dons ou capacidades inatas que são meticulosamente cultivadas e melhoradas ao longo do tempo?

Não tenho uma resposta definitiva para isso, mas tenho uma passagem curiosa em minha vida que talvez tenha me direcionado para ter seguido a carreira na área de Engenharia!

Uma vez, meu Pai fez algumas pipas para mim (7 anos), minha irmã (6 anos) e meu pequenino irmão (2 anos). Ficamos horas brincando, em um dia muito frio, mas muito divertido que até hoje guardo em minha lembrança (que coisa, até caíram algumas lágrimas agora). No final, meu Pai deu de presente para alguns garotos na rua por terem se "comportado" ao não cortarem a linha de nossas pipas. Observei por horas meu Pai fazendo aquelas pipas, mas não conseguia repetir aquele feito, até pela tenra idade que tinha.

Algum tempo se passou, e aos 9 anos ainda ficava observando essas pipas no céu de São Miguel Paulista. Como era um bairro perigoso, meus pais não me deixavam ficar na rua, então do meu quintal apenas admirava o balé desse brinquedo voando acima de minha cabeça. Me intrigava muito como apenas papel e algumas varetas de bambu poderiam formar um brinquedo tão divertido.

Um dia uma dessas pipas caiu no quintal de casa! Era muito bonita e fiquei todo feliz. Fui correndo mostrar para minha mãe, ficando ela muito contente também, com a sorte que tive. Mas minha alegria não estava em ter ganhado o brinquedo, mas ter tido a oportunidade de ter em mãos o meu protótipo! Desmontei-a com todo cuidado, e diferente dos outros garotos de 9 anos, fiz uma “Engenharia Reversa” tirando as medidas da pipa e usando esse gabarito para reconstruir outra Pipa...e funcionou!

Até hoje tenho essas medidas em minha mente e já usei centenas de vezes, até com meus filhos.

Essa experiência pode ter influenciado minha trajetória profissional em engenharia, pois me mostrou que observar e transformar um dado em informação e conhecimento funciona muito bem.

Pergunta: isso foi um dom ou a experiência destacou o poder do aprendizado e da descoberta na minha formação?

Nunca vou saber....

...mas pelo menos com a pipa funcionou!

“O mais bonito no aprendizado é que ninguém pode tirá-lo de você.” — B. B. King

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854# Júlio César e os Piratas — 22/02/25

Texto autoral RXO
Júlio César e os Piratas — RXO

No ano 75 a.C., um jovem Júlio César foi capturado por piratas cilícios enquanto viajava para Rodes. Longe de se comportar como um prisioneiro temeroso, assumiu o controle da situação. Zombou do valor pedido por seu resgate e ordenou que aumentassem a quantia; dava ordens e até os chamava de “subordinados”. Com total confiança, avisou que, uma vez livre, os capturaria e crucificaria. Os piratas riram. Não sabiam que sua ameaça era uma promessa.

Assim que foi libertado, reuniu uma frota mesmo sem ocupar cargo oficial, localizou os piratas e os capturou. Quando o governador local hesitou em puni-los, César tomou a justiça em suas próprias mãos e cumpriu sua palavra: os crucificou. Esse episódio não é apenas uma façanha ousada, mas uma lição de perspicácia, poder e estratégia, conectando-se com dois dos maiores tratados sobre o tema: “As 48 Leis do Poder”, de Robert Greene, e “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu.

Lições das 48 Leis do Poder

Júlio César aplicou instintivamente várias leis do poder:

“Faça com que os outros dependam de você” (Lei 11): Transformou seu cativeiro em um jogo de domínio psicológico, impondo sua presença entre os piratas.

“Despreze o que você não pode ter” (Lei 36): Nunca demonstrou desespero, projetando uma imagem de controle absoluto.

“Esmague completamente o seu inimigo” (Lei 15): Ao capturar os piratas, não deixou pontas soltas. Sabia que sua reputação dependia de eliminar qualquer ameaça.

A Arte da Guerra: Domínio Psicológico e Estratégia

Sun Tzu enfatiza que a vitória é conquistada na mente do inimigo antes do campo de batalha. César aplicou essa filosofia com precisão:

“Toda guerra se baseia no engano”: Ao agir com arrogância, desarmou psicologicamente os piratas.

“A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”: Sua confiança fez com que os piratas o vissem como algo além de um simples prisioneiro.

“Quando forte, finja fraqueza; quando fraco, finja força”: Mesmo em desvantagem, nunca deixou transparecer.

Visão de Futuro: O Verdadeiro Poder

O sucesso de Júlio César não se deveu apenas à sua coragem, mas à sua visão estratégica. Não buscou apenas sobreviver; pensou em sua vingança e em como fortalecer sua imagem. Compreendia que poder não é apenas força bruta, mas percepção e cálculo.

Esse episódio lembra que, na vida — seja nos negócios, na política ou na liderança — a estratégia é essencial. Grandes líderes não apenas reagem; antecipam, influenciam e dominam antes que o inimigo sequer perceba.

“A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.” – Sun Tzu

A Arte da Guerra
As 48 Leis do Poder

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855# UTOPIA DO PARAÍSO — 15/04/24

Texto autoral RXO
UTOPIA DO PARAÍSO — RXO

Imagine um mundo onde não falta comida, água, espaço, nem segurança. Um mundo onde todas as necessidades básicas estão garantidas desde o nascimento. Onde o conflito, a luta e o medo foram banidos. E, mesmo assim, esse paraíso implode.

Foi isso que aconteceu no “Universo 25” — um dos experimentos mais fascinantes e perturbadores da história da etologia.

Mas por que “25”? Porque John B. Calhoun, criador do estudo, já havia conduzido 24 versões anteriores de experimentos similares. Esta foi a vigésima quinta tentativa — a mais completa, a mais documentada e também a mais simbólica. Ele acreditava que finalmente havia criado o ambiente ideal. Um paraíso. E o batizou como tal.

O cenário: conforto absoluto
Em um espaço fechado de poucos metros quadrados, Calhoun criou um habitat que eliminava todas as ameaças naturais à vida dos camundongos: comida ilimitada, água fresca, temperatura controlada, ausência de predadores e estrutura física adequada para abrigar até 4.000 indivíduos.

Quatro casais foram introduzidos nesse paraíso. Rapidamente, a população começou a crescer em ritmo acelerado. A cada 55 dias, ela dobrava de tamanho. Era o que qualquer planejador urbano ou gestor social chamaria de “caso de sucesso”.

Quando tudo começa a falhar
Mas esse sucesso durou pouco. Após atingir cerca de 600 camundongos, começaram a surgir distúrbios de comportamento: machos agressivos demais ou completamente apáticos, fêmeas que rejeitavam suas crias, isolamento social e o aparecimento de uma subclasse peculiar — os “belos”.

Esses “belos” eram indivíduos que se recusavam a interagir. Passavam os dias cuidando da aparência, comendo e dormindo. Não brigavam, não acasalavam, não se relacionavam. Eram passivos, silenciosos e socialmente estéreis.

Com o tempo, a reprodução caiu drasticamente. Os poucos filhotes nascidos não sobreviviam. A estrutura social desabou. O espaço, apesar de abundante, tornou-se palco de violência aleatória, abandono materno e solidão generalizada.

Mesmo com comida, água e espaço disponíveis, os camundongos pararam de viver como espécie. A sociedade entrou em colapso.

O colapso final
A população atingiu seu pico com cerca de 2.200 indivíduos — muito abaixo do teto previsto. A partir daí, entrou em declínio irreversível. Os nascimentos cessaram. Os comportamentos anormais se intensificaram. E, com o tempo, não restou nenhum camundongo capaz de se reproduzir.

O Universo 25 morreu.
E essa morte não foi causada por falta de recursos. Foi causada por falta de propósito.

O QUE O UNIVERSO 25 NOS DIZ SOBRE NÓS MESMOS?
A experiência de Calhoun foi feita com camundongos. Mas seria ingenuidade tratá-la apenas como um experimento zoológico. A inquietação que ele provoca vem justamente da semelhança com a condição humana.

O que acontece quando uma sociedade elimina todos os seus obstáculos?
O que sobra quando não há mais necessidade de lutar por nada?
E o que acontece com o indivíduo quando ele perde o senso de utilidade social?
A resposta é desconfortável: o excesso pode paralisar tanto quanto a escassez.

O PARADOXO DA ABUNDÂNCIA
Vivemos hoje em bolhas urbanas e digitais onde os confortos materiais aumentam enquanto os vínculos sociais se enfraquecem. A tecnologia nos protege do esforço, do tédio e até da frustração — mas será que ela também está nos protegendo de viver plenamente?
O Universo 25 mostra que não basta dar tudo. É preciso dar sentido.
Sem propósito, até o paraíso apodrece.

OS “BELOS” ESTÃO ENTRE NÓS
Os “belos” do experimento eram camundongos que se isolaram da vida social. No mundo humano, o comportamento tem ressonâncias preocupantes:
• Pessoas que se afastam do convívio real e mergulham em rotinas centradas apenas em aparência e conforto.
• Profissionais que vivem para o cargo, mas sem engajamento.
• Jovens sem projetos, adultos sem metas, líderes sem visão.
• Comunidades com recursos abundantes, mas com epidemias de solidão, ansiedade e desordem emocional.
Não se trata de uma crítica moral. Trata-se de um alerta comportamental: quando o indivíduo perde o papel social ativo, ele se desconecta — não do sistema, mas de si mesmo.

LIDERANÇA, GESTÃO E SENTIDO
Nas empresas, o “Universo 25” pode ser visto toda vez que uma cultura tenta compensar propósito com pacote de benefícios. Toda vez que a liderança confunde bem-estar com engajamento. Toda vez que o desafio é substituído por conveniência.
A ausência de dor não gera, sozinha, presença de significado.
Se uma equipe tem tudo, mas não tem clareza de para quê está ali, ela entra em modo de sobrevivência artificial: processos são seguidos, metas são batidas — mas a alma já foi embora.

COMO NÃO REPRODUZIR O UNIVERSO 25 NAS ORGANIZAÇÕES
1. Conforto sem desafio paralisa.
Crie metas ousadas, mas humanas. Estimule a superação. Recompense não só o resultado, mas o esforço.
2. A ausência de conflito real cria ruído interno.
Não evite discussões difíceis. Uma equipe que nunca diverge é uma equipe entorpecida.
3. Abundância sem propósito gera alienação.
Explique o “porquê” das decisões. Envolva as pessoas. Dê visão, não apenas tarefas.
4. O bem-estar é consequência, não fim.
Empresas saudáveis produzem bem-estar — mas não são construídas somente por ele.
5. Cuidado com os “belos”.
Valorize quem entrega valor real. Cuide para que a estética não sobreponha a ética da contribuição.

A LIÇÃO QUE FICA
O Universo 25 nos obriga a confrontar uma verdade dura: o ser humano não foi feito apenas para consumir, repousar e evitar dor.
Fomos feitos para pertencer, colaborar, enfrentar, criar, errar, tentar de novo, e crescer com isso.
Quando esse ciclo é interrompido pela ilusão do conforto perpétuo, o sistema não quebra — ele apodrece de dentro para fora.
Mais do que oferecer segurança, liderar é oferecer sentido.
Mais do que garantir estabilidade, construir uma cultura é garantir função social ativa.
E mais do que evitar o caos, precisamos aprender a conviver com ele — porque às vezes, o caos é o que nos mantém vivos.

5 FRASES INSPIRADORAS RELACIONADAS
“Quem tem um porquê enfrenta qualquer como.” – Viktor Frankl
“O conforto é o assassino do progresso.” – Greg Plitt
“Sem um sentido, qualquer abundância vira desordem.” – Osvandré Lech
“O propósito transforma rotina em missão.” – Jim Rohn
“A ausência de dor não significa presença de vida.” – Mario Henrique Meireles

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856# Trigeração poucos usam — 04/05/25

Texto autoral RXO
Trigeração poucos usam — RXO

Link Simulador

A trigeração (CCHP) não é um conceito novo. Mas segue ignorada em muitas decisões técnicas por puro desconhecimento ou abordagem equivocada de custo-benefício. A proposta é simples: extrair o máximo da energia primária, entregando simultaneamente eletricidade, calor útil e refrigeração com uma única queima de combustível.

Sistemas convencionais desperdiçam até 60% da energia na forma de calor. Em trigeração, esse calor é recuperado e redirecionado: ou para aquecer (via trocadores) ou para resfriar (via chillers de absorção). O resultado prático: eficiência global de 80 a 90%, contra 35 a 40% de usinas isoladas. Não é discurso ecológico — é engenharia aplicada com foco em rendimento.

A estrutura de uma planta típica envolve motor ou turbina (prime mover), gerador elétrico, trocadores para recuperação de calor e chillers movidos a vapor ou água quente. O chiller absorve energia térmica que, em qualquer outro sistema, seria desperdiçada. Isso entrega frio útil (COP ~0,6–0,8) com consumo elétrico praticamente nulo. O ganho é direto: redução da carga de ponta elétrica e menor custo operacional.

Para engenheiros de processo, a lógica é ainda mais objetiva: um sistema CCHP bem dimensionado entrega energia útil com menor consumo específico de combustível. Isso significa menos entrada para a mesma saída — o que reduz custo, emissão e dependência da rede. Em ambientes industriais, onde a demanda simultânea de calor e frio é contínua, o impacto no OPEX é significativo.

Casos reais validam essa premissa. No Hospital São João (Portugal), três motores a gás natural (7,3 MW elétricos) fornecem energia, vapor, água quente e água gelada, com economia energética de 36 GWh/ano e corte de 10.600 tCO₂/ano. Na Suécia, a usina Sandvik opera com biomassa, entregando mais de 700 GWh/ano somando eletricidade, aquecimento e frio — com circuito de cinzas para fertilizante. Eficiência técnica e operacional, sem apelo publicitário.

Em projetos novos, trigeração exige uma análise de carga integrada. A viabilidade depende de três condições: demanda térmica e frigorífica simultâneas e contínuas, fornecimento estável de combustível e projeto com controle automatizado de carga térmica. Instalar chiller de absorção sem carga térmica disponível é erro clássico de projeto. Resultado: ineficiência, subaproveitamento e retorno abaixo do esperado.

Em relação ao combustível, o gás natural segue dominante por eficiência e flexibilidade. A biomassa tem aplicação viável, desde que o calor seja integralmente aproveitado. Hidrogênio é tecnicamente possível, mas ainda economicamente limitado. E trigeração a carvão ou nuclear são exceções, travadas por restrições ambientais.

Onde há demanda simultânea de energia elétrica, calor e frio, a trigeração entrega mais com menos. Reduz custos, melhora o fator de utilização do combustível e elimina redundâncias energéticas.

Projeto que dá gosto!

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857# O alumínio como você nunca imaginou – 16/11/24

Texto autoral RXO
O alumínio como você nunca imaginou — RXO

Hoje, o alumínio está tão presente no nosso cotidiano que mal percebemos sua importância: latas de refrigerante, peças de aviões, automóveis, eletrodomésticos e até em construções. No entanto, o que muitos não sabem é que ele já foi considerado um dos metais mais preciosos do mundo, superando até o ouro em valor por quilograma.

Quando o químico dinamarquês Hans Christian Ørsted isolou o alumínio pela primeira vez, em 1825, ele despertou o fascínio pelo metal, que era leve, resistente e brilhante. Contudo, extrair alumínio da bauxita era um processo extremamente caro. No início de sua produção, o preço do alumínio ultrapassava US$ 1.200/kg, enquanto o ouro custava cerca de US$ 664/kg na mesma época. Esse status de exclusividade fez com que Napoleão III exibisse talheres de alumínio em jantares de gala, enquanto os demais convidados utilizavam utensílios de ouro.

O cenário mudou em 1886, com a invenção do processo Hall-Héroult, que revolucionou a extração do alumínio. Essa técnica, baseada na eletrólise, reduziu significativamente os custos de produção. Com o tempo, o avanço da eletricidade tornou o processo ainda mais eficiente, e o preço do alumínio caiu drasticamente, chegando a US$ 14/kg em 1900 e, atualmente, sendo cotado em cerca de US$ 2,50/kg no mercado global. Essa queda tornou o alumínio um material acessível, essencial em diversos setores industriais.

Nos últimos anos, a reciclagem desempenhou um papel fundamental nessa transformação. Diferentemente de outros materiais, o alumínio pode ser reciclado infinitamente sem perder suas propriedades. Além disso, a reciclagem consome apenas 5% da energia necessária para produzir alumínio novo. Hoje, mais de 75% de todo o alumínio já produzido ainda está em uso, representando uma solução sustentável e econômica para a indústria.

Essa evolução é a prova de como a inovação tecnológica pode transformar um símbolo de luxo em um material essencial para a indústria moderna. Com preços reduzidos e a eficiência garantida pela reciclagem, o alumínio destaca a capacidade humana de otimizar recursos e aumentar a produtividade, mantendo-se relevante em um mundo cada vez mais competitivo.

“O que hoje é provado foi outrora apenas imaginado.” — William Blake
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858# Olha o Lobo! – 09/11/24

Texto autoral RXO
Olha o Lobo! — RXO

Em todo ambiente corporativo, existe aquela pessoa que transforma qualquer tarefa em urgência absoluta. Ela é o alarme sempre disparado, que toma a atenção de todos com gritos de "preciso disso para ontem!". O problema? Essa demanda infinita de urgências lembra a história do menino que gritava “Lobo!”: lá iam todos ao seu resgate para perceber que não havia lobo nenhum. Mas o menino insistia, e todos continuavam a correr — até o dia em que o lobo apareceu de verdade, e ninguém mais acreditava no garoto. O desfecho? Trágico.

E o que isso nos ensina sobre o ambiente corporativo? Muito. Essa cultura de urgência falsa esgota a equipe, desorganiza prioridades e paralisa o planejamento, que fica refém dos pedidos histéricos de quem nunca se cansa de pressionar todos ao redor. O trabalho planejado perde espaço para uma maratona constante de “apagões”, enquanto aqueles que deveriam definir prioridades estão presos em um ciclo de caos fabricado.

E o pior é que, para muitos gestores, esse comportamento passa despercebido ou até é confundido com comprometimento. Resultado: essa pessoa segue colocando “lobos” para todo lado, e a equipe, desgastada, perde a noção do que é realmente urgente. Com o tempo, qualquer tarefa torna-se só mais um alarde; a produtividade despenca, e a frustração de todos se instala como norma. Assim, o que era apenas um excesso de entusiasmo pessoal destrói a confiança na organização. As verdadeiras urgências perdem espaço, e a empresa acaba pagando o preço.

Para evitar o impacto desse comportamento, cabe às lideranças um papel decisivo: estabelecer uma comunicação que identifique o que é, de fato, prioritário e instruir as equipes a diferenciar alertas reais de alarmes falsos. Equipes saudáveis sabem quando precisam correr e quando podem focar em seus processos com tranquilidade. Afinal, não há maior desperdício de tempo e recursos do que correr para nada.

“O tempo descobre a verdade.” — Sêneca
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859# Domine o jogo da maneira certa! – 12/12/23

Texto autoral RXO
Domine o jogo da maneira certa! — RXO

A diferença entre eficiência e eficácia parece sutil, mas molda decisões, empresas e legados. Entender essa distinção é mais do que um exercício acadêmico: é uma vantagem estratégica, tanto no campo de futebol quanto na sala de reunião. Por isso, a pergunta que atravessa esse artigo é simples: você está operando com foco no processo... ou no resultado?

O Que Você Faz Importa. Mas o Resultado Importa Mais.

Imagine um profissional que entrega tudo no prazo, responde todos os e-mails, participa de todas as reuniões, domina ferramentas, é organizado e dedicado. Um exemplo de eficiência. Mas se nada do que ele faz movimenta os indicadores estratégicos da empresa — ele é eficaz? Não.

Eficiência é sobre o meio: como os recursos são usados, o tempo é gerido, as tarefas são realizadas. Eficácia é sobre o fim: se aquilo que foi feito alcançou o objetivo desejado.

“Não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência algo que não deveria ser feito.” — Peter Drucker

Ou seja, produtividade sem direção é só desperdício sofisticado.


Futebol Explica Melhor que MBAs

Talvez nenhum exemplo traduza tão bem a diferença entre eficiência e eficácia quanto o fatídico jogo Brasil 2 x 3 Itália, na Copa de 1982.

O Brasil: Eficiente até Demais
Domínio absoluto, 55% de posse de bola, 88% de acerto nos passes, 8 finalizações. O time encantava com técnica e fluidez. O problema? Transformava pouco esse domínio em gol. Perfeito no processo, impreciso no resultado.

A Itália: Eficaz com Frieza
3 finalizações, 3 gols. Uma aula de objetividade. Menos posse, menos passes certos, menos controle — e mesmo assim, vitória. O futebol não premia quem joga bonito. Premia quem faz gol. O mercado é igual. Clientes não pagam por esforço. Pagam por resultado.


O Dilema das Empresas: Métricas Que Enganam

Empresas caem frequentemente na armadilha da eficiência. Criam KPIs operacionais, celebram produtividade, reduzem custos — mas não entregam crescimento real. Por quê? Porque confundem otimização com direção.

Exemplos reais de eficiência inútil:

  • Uma linha de produção que bate recordes de peças fabricadas — mas para um produto que o mercado não quer mais.
  • Um time de marketing que dispara 30 e-mails por dia — com taxa de conversão próxima a zero.
  • Um gestor que corta 20% de orçamento — e compromete 40% da entrega.

Reduzir custos sem preservar valor é suicídio disfarçado de gestão.


Eficiência é Sobre Fazer Mais. Eficácia é Sobre Acertar Mais.

Para entender melhor, vale resgatar a matriz de Stephen Covey (autor de “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”):

IneficazEficaz
IneficienteDispersão totalEsforço desperdiçado
EficienteRapidez no erroO Ideal absoluto
“A eficácia é resultado de decisões conscientes baseadas em princípios.” — Stephen Covey

Ou seja: eficiência pode ser automatizada, mas eficácia exige critério.


Outros Exemplos Icônicos: Quando o Resultado Fala Mais Alto

1. Kodak – Eficiente até a falência
A Kodak dominava os processos de produção e distribuição de filmes fotográficos. Era benchmark em eficiência industrial. Mas não viu — ou não quis ver — o digital chegando. Resultado: morreu eficazmente ineficaz.

2. Amazon – Eficácia com foco implacável
Jeff Bezos não focou em lucrar rápido. Focou em satisfação do cliente, entrega rápida e escala exponencial. Resultado: eficácia no alvo certo, mesmo que os processos fossem caros e ineficientes no início.

3. Netflix vs. Blockbuster
Blockbuster era uma máquina de eficiência. Logística perfeita, controle de inventário, atendimento padronizado. Netflix era um modelo novo — não tão eficiente no início, mas absurdamente mais eficaz: resolveu o problema real do consumidor.


Por que a Eficácia É o Novo Poder

Em tempos de excesso de dados, informações e tarefas, a eficácia se tornou escassa. Todo mundo está ocupado — mas poucos estão resolvendo algo.

Ser eficaz exige:

  • Clareza de objetivo
  • Coragem para eliminar o que não contribui
  • Alinhamento com quem decide o jogo
  • Foco no que realmente entrega valor

Futebol, Negócios, Vida: O Jogo é o Mesmo

Assim como em 1982 o Brasil encantou, mas perdeu, muitas carreiras também se perdem no excesso de competência técnica e escassez de visão estratégica.

  • Enxerga o gol antes de tocar na bola
  • Escolhe as batalhas certas
  • Mede impacto, não esforço
“Eficiência sem eficácia é como correr em direção ao lugar errado.” — Mario Sergio Cortella

E Como Ser Eficaz?

  1. Comece pelo “por quê”
    Se você não sabe por que está fazendo algo, provavelmente está apenas ocupando tempo.
  2. Pergunte: “Isso gera valor real?”
    E não apenas para você — mas para quem paga sua conta. Cliente, chefe, investidor, mercado.
  3. Elimine tarefas que apenas parecem importantes
    Nem tudo que brilha é ouro. E nem todo relatório é necessário.
  4. Comunique o impacto — não o processo
    Pessoas eficazes sabem mostrar o valor gerado, não o esforço dedicado.

Frases para Pensar (e aplicar)

“Eficiência é fazer as coisas direito. Eficácia é fazer as coisas certas.” — Peter Drucker
“Resultado é tudo. O resto é barulho.” — Jack Welch
“Não confunda movimento com progresso.” — Denzel Washington
“É inútil ser eficiente se você estiver indo na direção errada.” — James C. Collins
“Eficiência economiza centavos. Eficácia gera milhões.” — RXO

Resumo Final

Eficiência é importante. Mas a eficácia é essencial. Num mundo competitivo, imprevisível e veloz, ser apenas eficiente pode até dar destaque — mas não garante vitória.

O que define os vencedores é a capacidade de:

  • Ler o jogo certo
  • Jogar as fichas certas
  • Fazer o gol — mesmo com menos posse de bola

A Itália de 1982 não teve brilho. Mas teve eficácia. E no fim, é isso que entra pra história.

Citações Inspiradoras:

  1. “Eficiência é fazer as coisas direito. Eficácia é fazer as coisas certas.” — Peter Drucker
  2. “Não confunda movimento com progresso.” — Denzel Washington
  3. “Resultado é tudo. O resto é barulho.” — Jack Welch
  4. “O maior erro das empresas é serem eficientes em coisas irrelevantes.” — Jim Collins
  5. “Eficiência sem eficácia é como acelerar no caminho errado.” — RXO
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860# Queremos mesmo salvar o Meio Ambiente? — 06/02/2023

Texto autoral RXO
Queremos mesmo salvar o Meio Ambiente? — RXO

Quando se menciona o Brasil no cenário mundial, frequentemente destaca-se o papel do país nas questões climáticas. A Amazônia, reconhecida como o bioma mais vital do planeta, é frequentemente apontada como essencial para a sobrevivência do nosso ecossistema global. Especialistas alertam que sua preservação é crucial, caso contrário, enfrentaremos consequências catastróficas.

Reconheço a gravidade da degradação de qualquer bioma e a importância de abordar essa questão. No entanto, é fundamental ressaltar que o Brasil enfrenta outros desafios igualmente urgentes e de grande impacto para sua população, mas que recebem menos atenção. Um exemplo crítico é o Saneamento Básico. Mesmo com essa vasta riqueza natural, ainda enfrentamos problemas que em países desenvolvidos já se transformaram inclusive em fonte de renda: países como Suécia e Alemanha já transformaram o saneamento em uma fonte de energia com lucro de 2 GUSD por ano. E infelizmente em nosso caso, de acordo com o Instituto Trata Brasil, apenas 46% do esgoto gerado no país é tratado, deixando mais da metade sem tratamento adequado.

Olhando somente esgoto doméstico:

Estima-se que 200 kg percapita é gerado para tratamento de esgoto. Com isso, geramos em torno de 40 milhões de toneladas para ser tratado. Em torno de 22 Mt estão sendo enviados diretamente para corpos d'água sem tratar. Tratamentos convencionais, reduzem em torno de 80% dessa carga, ou seja, reduziria esse número para 4 Mt. O restante é transformado em gases e água. Dos gases formados, H2 e CH4 são interessantes fontes de energia, que já são usados por países europeus como mencionado antes.

Isso mostra que não devemos apenas focar nas questões ambientais de destaque global, mas abordar questões locais que afetam diretamente a qualidade de vida da nossa população e até com potencial de renda sustentável, como a geração de energia a partir do tratamento de esgoto.

Portanto, para efetivamente salvar o meio ambiente, devemos adotar uma abordagem mais assertiva, o que não deixa de estar alinhada com o propósito global.

“O futuro dependerá daquilo que fizermos no presente.” — Mahatma Gandhi
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861# O Dólar também me enganou — 07/02/2023

Texto autoral RXO
O Dólar também me enganou — RXO

Nasci em 7 de fevereiro de 1974, e já se passaram longínquos 52 anos.

Por curiosidade, realizei uma simulação para descobrir quanto eu teria em mãos se meus pais tivessem comprado 100 g de ouro e guardado para o meu futuro uso. Os resultados me incomodaram!

  • Em 7 de fevereiro de 1974, 100 g de ouro valiam US$ 406. Esse valor era equivalente a 39 salários mínimos, o que correspondia a um ano de salário do meu pai.
  • Hoje, 09 de novembro de 2025, 100 g de ouro valem US$ 12.913 (45 salários mínimos brasileiro). Se eu tivesse os mesmos US$ 406 em espécie, teria o equivalente a 1,6 salários mínimos, o que corresponde a um mês da pensão que minha mãe recebe hoje.

Nos EUA, até 1971, após várias alterações, ocorreu a quebra do padrão-ouro para o dólar. Isso teve um impacto significativo na desvalorização dessa moeda em relação ao ouro. Antes disso, detentores de dólares podiam trocar sua moeda por uma quantidade fixa de ouro. Esse sistema ajudava a manter a estabilidade e a controlar a inflação. Esse evento ficou conhecido como "Nixon Shock". Essa decisão foi tomada devido às pressões inflacionárias internas nos EUA e ao esgotamento das reservas de ouro do país. E pasmem, a medida, que foi dita por Nixon como provisória, já dura mais de 50 anos!

A quebra do padrão-ouro para o dólar trouxe duras consequências para o mundo:

  • Desvinculação de outras moedas: com o fim da convertibilidade do dólar em ouro, outras moedas também se desvincularam. Isso deu início ao sistema de taxas de câmbio flutuantes que vemos hoje, onde o valor das moedas é determinado pelo mercado, e o dólar praticamente se tornou a moeda mundial.
  • Inflação: sem a restrição do padrão-ouro, os governos e os bancos centrais passaram a ter a liberdade para adotar POLÍTICAS MONETÁRIAS EXPANSIONISTAS, uma expressão bonita para "imprimir dinheiro à rodo".
  • Valorização do ouro: com a desvinculação do dólar, o preço do ouro passou a ser determinado pelo mercado. A demanda por ouro como um ativo seguro contra a inflação aumentou, o que elevou o preço desse ativo em relação às moedas, incluindo dólar.

Expansão monetária leva à inflação. Não me atrevi a fazer essa simulação para o Cr$ da época, porque, infelizmente, passei pela década perdida de 80 e sei muito bem o que foi isso, vendo os malabarismos que minha família fazia para sobrevivermos. Sim, a mesma inflação de 80% ao mês que um FDP de um Presidente da República afirmou que também sobreviveu e que não faz mal a ninguém.

Agora entendo por que o Bitcoin assusta quem tem a impressora de moeda, pois isso iria escancarar de vez a incompetência de governos mostrando para que eles realmente servem!

“Todas as pessoas informadas precisam conhecer o Bitcoin porque ele pode ser um dos acontecimentos mais importantes do mundo?" — Leon Louw
“Em algum momento o senhor operou com "créptomoeda", com “bitcóio” ou outros?" — Renan Calheiros
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862# Como deve pensar um Engenheiro? — 09/02/25

Texto autoral RXO
Como deve pensar um Engenheiro? — RXO

Imagine que você está diante de um problema aparentemente insolúvel. Enquanto a maioria das pessoas desanima, um engenheiro enxerga apenas uma equação inacabada. Para ele, toda questão tem um ponto de ataque, um padrão oculto ou uma solução esperando para ser encontrada. O pensamento engenheiro não é apenas lógico, é estrategicamente orientado para a eficiência.

A Mentalidade da Solução

Um engenheiro não vê um carro – ele vê aerodinâmica e coeficiente de arrasto. Não enxerga um edifício – ele vê cargas estruturais e resistência dos materiais. Seu cérebro é programado para destrinchar problemas em elementos menores, até encontrar a resposta mais eficaz.

E aqui está um ponto essencial: para um engenheiro, não basta funcionar. A solução precisa ser ótima, economizar tempo, reduzir custos, garantir segurança e ser capaz de aprimoramento. É o pensamento da máxima eficiência, do "como podemos fazer melhor?"

Pegue por exemplo a Ponte Golden Gate. Quando projetada nos anos 1930, muitos duvidavam de sua viabilidade. As correntes marítimas, os ventos extremos e a distância colossal entre os pilares eram desafios monstruosos. Mas os engenheiros não perguntaram se era possível – perguntaram como torná-la possível. O resultado? Uma obra-prima da engenharia, resistente a terremotos e que segue funcional quase 100 anos depois.

Outro exemplo? O pouso da Apollo 11. Quando o computador de bordo da nave falhou a poucos metros da Lua, Armstrong assumiu o controle manual. Mas como ele conseguiu fazer essa manobra com precisão? Porque engenheiros já haviam calculado cada variável, permitindo que, mesmo sem os sistemas automáticos, a nave seguisse um comportamento previsível.

Engenharia não é só ciência exata. É antecipação de problemas, é criar soluções que resistam ao inesperado.

Muita gente pensa que engenheiros adoram complicar. Errado. Os melhores engenheiros buscam a simplicidade, porque sabem que quanto mais simples e robusto um sistema for, menor a chance de falha.

A Apple entendeu isso ao criar o iPhone: eliminou botões desnecessários, otimizou interfaces e focou no essencial. Os aviões comerciais fazem o mesmo – menos peças móveis, menos riscos. Na engenharia, o simples bem-feito sempre vence o complexo frágil.

Erro não é o Fim – é um Dado

Para um engenheiro, falhar não é um desastre, é um aprendizado estruturado. Quando um avião cai, especialistas não buscam culpados – eles desmontam cada peça, analisam cada registro e extraem lições para que o erro nunca mais se repita.

É esse pensamento que constrói o mundo ao nosso redor. Cada ponte, cada motor, cada aplicativo no seu celular é o resultado de múltiplas tentativas, ajustes e melhorias constantes.

No final, pensar como um engenheiro é enxergar o invisível, otimizar o inevitável e simplificar o complexo. É um jeito de ver o mundo onde não há problemas insolúveis – apenas soluções esperando para serem descobertas.

“Medir é saber. Se você não pode medir, não pode melhorar.” — Lord Kelvin
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863# Segredo é transformar variáveis em constantes — 07/07/24

Texto autoral RXO
Segredo é transformar variáveis em constantes — RXO

Em engenharia, uma variável é um elemento que pode assumir diferentes valores ao longo do tempo, como a temperatura, pressão ou velocidade. Já a essência da excelência na engenharia está em reduzir variações de maneira que se comportem de forma mais previsível e controlada, como se fossem constantes.

Um exemplo prático disso é a aplicação do Índice de Capacidade de Processo (CpK). O CpK é uma métrica utilizada para verificar a capacidade de um processo de produção de gerar produtos dentro das especificações desejadas. Este índice é calculado a partir da fórmula:

CpK = min ( (USL − μ) / (3σ), (μ − LSL) / (3σ) )

  • USL é o limite superior de especificação,
  • LSL é o limite inferior de especificação,
  • μ é a média do processo,
  • σ é o desvio padrão do processo.

Um CpK de 1,33 é geralmente considerado ideal, pois indica que a variação do processo é pequena o suficiente para que os produtos estejam consistentemente dentro dos limites especificados, transformando uma variável (a qualidade do produto) em algo muito próximo de uma constante.

Implementar sistemas de controle que mantenham variáveis como temperatura, pressão e umidade dentro de limites estreitos é essencial para aumentar o CpK. Ao reduzir essas variáveis a valores quase constantes, é possível garantir que a produção não só atenda aos padrões de qualidade, mas também minimize desperdícios e aumente a eficiência operacional.

Por exemplo, na indústria automotiva, a precisão na fabricação de peças é crucial. Se as dimensões das peças variam além dos limites aceitáveis, isso pode resultar em produtos defeituosos ou falhas em componentes críticos. Ao aplicar técnicas de controle estatístico de processos (CEP) e monitorar o CpK, as empresas podem identificar e corrigir variações no processo de produção, garantindo que as peças fabricadas sejam consistentes e de alta qualidade.

Um exemplo prático pode ser observado na produção de leite UHT (ultra-high temperature). O leite UHT é tratado termicamente a temperaturas muito elevadas, geralmente entre 135°C e 150°C, por um curto período de tempo para garantir a esterilização do produto sem comprometer seu sabor e valor nutricional. Manter a temperatura exata, e o tempo exato são crucias para assegurar que todas as bactérias sejam eliminadas sem afetar a qualidade do leite. Ao monitorar e ajustar constantemente a temperatura e o tempo de exposição através do CpK, as empresas podem garantir que o processo de esterilização seja uniforme e que o leite atenda consistentemente aos padrões de qualidade e segurança alimentares.

Em suma, a busca por transformar variáveis em constantes é uma prática essencial na engenharia, visando a estabilidade e a eficiência dos processos produtivos. A aplicação de métricas como o CpK permite às empresas monitorar e ajustar suas operações, garantindo produtos de alta qualidade e mantendo a competitividade no mercado.

Viva la Excelencia Carajo!!! 🤣 🤣 🤣 🤣
“O segredo é transformar variáveis em constantes” — RXO

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864# Somos apenas 7% — 10/06/24

Texto autoral RXO
Somos apenas 7% — RXO

Hoje, somos mais de 8 bilhões de pessoas vivas. O número impressiona, mas também esconde uma revelação desconcertante: somos uma minoria entre todos os Homo sapiens que já existiram.

Estima-se que 108 bilhões de seres humanos já tenham passado por este planeta desde que o Homo sapiens surgiu. Isso quer dizer que, para cada pessoa viva hoje, outras 13 já morreram. E mais: somente 7% de todos os humanos que já caminharam sobre a Terra estão vivos neste momento.

É uma estatística que muda a forma como percebemos nossa presença. Somos o agora de uma história escrita com bilhões de nomes, a maioria esquecida, a maioria sem lápide, sem rastro, sem sequer um registro. E ainda assim, cada um deles foi necessário para que nós existíssemos. Cada um deles empurrou o tempo um milímetro adiante.

Um Cálculo com 200 mil Anos

A ciência estima que o Homo sapiens surgiu há cerca de 200 mil anos, mas foi apenas a partir de 50 mil anos atrás que começamos a nos multiplicar em número significativo. No intervalo entre 100 mil e 50 mil anos atrás, somos apenas 8 milhões.

Imagine: 8 milhões de pessoas em 50 mil anos. É menos do que cabe hoje em uma cidade de médio porte. E no auge da Pré-História, por volta de 50 mil anos atrás, a população mundial era de 2 milhões de indivíduos — menos do que a população da Zona Leste de São Paulo.

A explosão populacional só começou com a agricultura, há cerca de 10 mil anos. Nesse ponto, o planeta abrigava cerca de 5 milhões de pessoas. Já em 2000 a.C., éramos cerca de 100 milhões. Quando Cristo nasceu, o mundo contabilizava 300 milhões de pessoas.

Em outras palavras: metade de toda a humanidade que já viveu nasceu antes do ano 1. A outra metade nasceu nos últimos 2 milênios.

Os Marcos de Crescimento Populacional

Ano — População Estimada
50.000 a.C. — 2 milhões
10.000 a.C. — 5 milhões
2000 a.C. — 100 milhões
Ano 1 — 300 milhões
1000 d.C. — 500 milhões
1800 — 1 bilhão
1928 — 2 bilhões
1960 — 3 bilhões
1974 — 4 bilhões
1987 — 5 bilhões
1999 — 6 bilhões
2011 — 7 bilhões
2022 — 8 bilhões

O salto de 1 bilhão para 8 bilhões ocorreu em apenas dois séculos. Em toda a história anterior, nunca crescemos tão rápido. Foram necessários 200 mil anos para atingirmos 1 bilhão. Mas apenas 12 anos para saltarmos de 7 para 8 bilhões.

A Metáfora da Ampulheta Humana

Para visualizar esses números, imagine uma ampulheta colossal. Cada grão de areia representa 10 milhões de vidas humanas.

Na parte superior da ampulheta: 800 grãos de areia representam os 8 bilhões de pessoas vivas.
Na parte inferior: 10.800 grãos representam os mortos — os 108 bilhões que já viveram.

E a cada ano, 14 grãos sobem (novos nascimentos), enquanto 6 grãos caem (mortes). Um ciclo constante, silencioso, irreversível.

Mas esses grãos que já passaram para baixo não são todos iguais. Mais de 40% deles morreram antes de completar 5 anos de idade. Outros milhões pereceram por doenças hoje triviais, guerras medievais, partos improvisados, fome, infecções, abandono. A maior parte dos seres humanos que existiram não envelheceu — mal sobreviveu.

Hoje, com expectativa de vida global acima dos 72 anos, estamos vivendo uma anomalia histórica. Pela primeira vez, envelhecer é a regra. E mais: pela primeira vez, morrer de velhice é comum. Durante séculos, isso foi privilégio de poucos.

A Matemática dos Mortos

Por mais que pareça mórbido, entender a história da população humana é entender o peso do tempo. É encarar que somos estatisticamente transitórios, biologicamente efêmeros e demograficamente minúsculos.

Mas ao mesmo tempo, é reconhecer algo grandioso: nunca existiu tanta vida consciente ao mesmo tempo na Terra.

A vida já foi frágil. Já foi curta. Já foi solitária. Hoje, ela é numerosa, interligada, expansiva.

E, em parte, isso explica a complexidade de nossos dilemas atuais: mudança climática, desigualdade, escassez de recursos, inteligência artificial. Nunca fomos tantos — e nunca tivemos tanto poder coletivo.

O Futuro da População Humana: estimativas da ONU indicam estabilização entre 10 e 11 bilhões até 2100, com possível reversão demográfica no fim do século em diversos países devido a queda de natalidade e envelhecimento.

O Paradoxo da Existência

Você é um dos 7% que carregam o bastão da existência. Isso é um privilégio estatístico. Um milagre genético. Uma coincidência cronológica.

Dos 108 bilhões que vieram antes, nenhum viveu este momento, neste século, com esse acesso, esse conhecimento e esse nível de expectativa de vida. Você é a ponta da linha. O pixel mais recente de um quadro que começou há 200 mil anos.

É isso que diferencia um ser humano comum de um ser humano consciente: entender que está aqui, agora, como resultado de bilhões de tentativas — e erro. E que cada erro do passado tornou possível a sua presença hoje.

Cinco frases de reflexão

  • “Você é a média de milhões de antepassados que se recusaram a morrer cedo demais.” — Osvandré Lech
  • “Mais importante que viver é entender o que fazer com o tempo que se vive.” — Stephen Covey
  • “Não podemos mudar a história, mas somos o que ela construiu.” — Jim Rohn
  • “O futuro pertence àqueles que entendem o passado com responsabilidade.” — Napoleon Hill
  • “A maior riqueza da humanidade é a vida — e cada nova geração é um milagre estatístico.” — Mario Henrique Meireles
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865# Eu conheci o Chico Pé de Pato — 10/06/2024

Texto autoral RXO
Eu o Chico Pé de Pato — RXO

Nasci em São Miguel Paulista, um dos epicentros da violência urbana em São Paulo entre as décadas de 70 e 90. Era comum ouvir histórias que misturavam horror, fascínio e impunidade — envolvendo a temida ROTA, criminosos que dominavam quarteirões inteiros e personagens obscuros como Francisco Vital da Silva, mais conhecido como Chico Pé de Pato. Ele não foi apenas um justiceiro — foi um retrato cru da falência da segurança pública.

Nos anos 70, São Paulo era palco de um processo acelerado de urbanização. O crescimento populacional desenfreado, impulsionado pelo êxodo rural e pela promessa de trabalho na construção civil e na indústria, criou uma massa urbana desassistida. Francisco era parte dessa massa. Um baiano de Campo Alegre de Lourdes, chegou à capital em 1973 e começou a trabalhar como pedreiro. Um acidente de trabalho deixou sequelas físicas — e um novo nome: Pé de Pato, em razão da deformidade que passou a carregar.

O apelido seria apenas folclórico, não fosse o que viria depois.

O Brasil da década perdida

Na década de 80, o Brasil vivia a chamada "década perdida". Hiperinflação, desemprego e falência das instituições criaram o ambiente perfeito para o surgimento dos chamados justiceiros urbanos. O Estado era percebido como ausente, ineficiente e, muitas vezes, cúmplice da criminalidade. Era nesse vácuo de autoridade que personagens como Chico Pé de Pato ganhavam espaço.

Em 1982, Chico abriu um bar na zona leste. A iniciativa, aparentemente pacífica, se transformou em gatilho para sua transformação. O bar virou ponto de confronto: inadimplência, tráfico de drogas, ameaças. Em 1984, o trauma: criminosos invadiram sua casa, estupraram sua esposa e filha, roubaram seus pertences. Francisco deixou São Paulo. Mas voltou dois meses depois — transformado. E com sede de sangue.

A transformação de Francisco

No retorno, Francisco deixou de ser vítima e passou a ser executor. A primeira ação foi registrada em agosto de 1985: dois homens, acusados de serem os estupradores de sua família, foram mortos por ele. O caso repercutiu, mas o sistema engoliu em seco. Em vez de cadeia, Chico passou a ser informalmente utilizado pela própria polícia, num modelo extralegal de justiça terceirizada.

A década de 80 foi particularmente violenta em São Paulo. Em 1984, o índice de homicídios no estado era de 14,6 por 100 mil habitantes. No fim da década, saltaria para mais de 32. A ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), criada em 1970, era temida por sua atuação dura. Mas a corrupção e a ineficiência das polícias convencionais criaram espaço para justiceiros.

Chico não era exceção. Era a regra silenciosa de uma cidade em colapso moral.

A era dos anti-heróis

Chico Pé de Pato se tornou um símbolo. Mas não estava sozinho. Cabo Bruno, ex-policial militar, foi responsável por dezenas de execuções na Grande São Paulo. Pedrinho Matador, psicopata confesso, assassinou mais de 70 pessoas com as próprias mãos — muitas delas dentro da cadeia.

Esses nomes figuravam com frequência no jornal “Notícias Populares”, veículo sensacionalista que vendia milhares de exemplares explorando a miséria urbana. A figura do “justiceiro” vendia jornal, mas também vendia esperança — ainda que distorcida. O povo, desesperado por segurança, os via como uma espécie de solução paralela.

A linha entre herói e criminoso, justiça e barbárie, foi completamente apagada.

Quando o justiceiro erra

A carreira de Chico acabou do mesmo modo como começou: no improviso, no erro, na tragédia. Em uma de suas missões, matou um policial à paisana. A polícia, que até então o tolerava (ou utilizava), virou contra ele. Francisco foi então auxiliado por Afanásio Jazadji, jornalista e advogado que atuava como mediador entre figuras da marginalidade e o sistema legal.

Foi preso, condenado a seis anos de prisão. Enviado ao presídio do Carandiru, acabou morto em 1987 durante uma rebelião. O presídio, símbolo máximo da falência do sistema penitenciário, selou o fim de Chico Pé de Pato — e, talvez, de uma era onde justiceiros ainda eram tolerados.

O dilema da justiça pelas próprias mãos

A história de Chico Pé de Pato é mais que uma crônica policial. É um espelho do Brasil urbano dos anos 80. Uma sociedade onde o medo ultrapassou o civismo. Onde a Justiça parecia um luxo distante. Onde a população pobre, esmagada pela violência, se agarrava ao que restava: mitos armados com fúria e desejo de vingança.

Mas o problema vai além do contexto histórico. Ainda hoje, o fascínio popular por justiceiros sobrevive. Basta ver o culto a figuras como Capitão Nascimento, de “Tropa de Elite”, ou o apoio a medidas de "tolerância zero" que frequentemente atropelam o devido processo legal.

O desejo de segurança não pode justificar o abandono do Estado de Direito. Porque toda vez que abrimos mão da legalidade, criamos espaço para o arbítrio — e o arbítrio, cedo ou tarde, mata inocentes.

Chico foi vítima, algoz e símbolo. Morreu sem julgamento público, sem defesa institucional, sem redenção. Sua vida foi a síntese brutal de um país em desequilíbrio — e seu fim, o retrato de uma estrutura que ainda hoje hesita entre a justiça e o linchamento.

Cinco frases para reflexão

  1. "A violência é o último refúgio do incompetente." — Isaac Asimov
  2. "Não há caminho para a paz. A paz é o caminho." — Mahatma Gandhi
  3. "Quando a justiça falha, nasce a vingança." — Mario Henrique Meireles
  4. "Uma sociedade que troca liberdade por segurança não merece nenhuma das duas." — Benjamin Franklin
  5. "A ausência do Estado é o solo fértil onde brota o justiceiro." — Osvandré Lech
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866# Uma das piores invenções da humanidade — 10/06/24

Texto autoral RXO
Uma das piores invenções da humanidade — RXO

O cigarro, a cannabis e a cultura da autodestruição legitimada como liberdade

Poucas criações humanas foram tão devastadoras, normalizadas e incentivadas quanto o cigarro. Seu histórico é o retrato de como uma sociedade pode aceitar a destruição lenta e visível em troca de prazer imediato, status simbólico e conveniência comercial. A origem do tabaco é ancestral. Povos indígenas nas Américas o utilizavam em rituais sagrados, muitas vezes com fins espirituais ou medicinais. Ali, o uso era limitado, simbólico e respeitoso. Não havia glamour. Havia reverência. E como acontece com muitas tradições ancestrais, a tragédia começa quando o sagrado é sequestrado pelo mercado. Com a chegada dos europeus no século XVI, o tabaco virou produto. E logo depois, com o avanço da industrialização, virou vício.

Durante o século XX, a máquina de propaganda fez seu trabalho com maestria. O cigarro foi elevado à categoria de ícone cultural. O fumante era retratado como forte, sedutor, ousado. Filmes, revistas e comerciais transformaram o hábito em símbolo de liberdade e virilidade. Milhões de pessoas passaram a aspirar, literalmente, a imagem que lhes era vendida. Mas, ao contrário de um bom produto, o cigarro entrega exatamente o que promete: dependência, decadência, destruição. E mesmo com as evidências científicas acumuladas ao longo das décadas, a engrenagem seguiu ativa por tempo demais. Resultado: uma epidemia global de doenças evitáveis. E um rastro de dor que percorre gerações.

Se falo com tanta veemência sobre isso, é porque vi de perto o que o tabagismo faz com uma família. Cresci rodeado por fumantes. Meus pais começaram aos 14 anos, algo comum entre os nascidos nas décadas de 40, 50 e 60. O cigarro era parte do ambiente, um hábito rotineiro como escovar os dentes. Eles fumavam juntos, dois maços por dia. O cheiro impregnava as roupas, os móveis, os abraços. Eu e meus irmãos nunca nos deixamos seduzir por isso. Talvez por repulsa, talvez por consciência precoce, talvez por um instinto de preservação. Para mim, o cheiro sempre foi incômodo. Tanto que evitava até me envolver com namoradas que fumavam. Era difícil compreender como algo tão visivelmente nocivo podia ser tratado com tanta naturalidade. Mas essa é a força de uma cultura bem construída — ela anestesia o senso crítico.

Meus pais largaram o vício. Mas tardiamente. Meu pai parou aos 44, empurrado por problemas cardíacos. Minha mãe, só aos 50, depois de enfrentar uma doença grave. As marcas permaneceram. Respirar com dificuldade, tosses persistentes, e um histórico médico que não precisava ter existido. O que se perdeu em vitalidade não se recupera com força de vontade. Mas o mais chocante não é o dano fisiológico. É o que esse vício representa em termos de lógica social. Durante quase três décadas, meus pais queimaram dinheiro — literalmente. Dois maços por dia equivalem, hoje, a cerca de 700 dólares por ano. Em 30 anos, são mais de 20 mil dólares — o valor de um carro novo ou de uma faculdade. E esse é apenas o custo direto. A conta real inclui medicamentos, internações, consultas, exames, perda de produtividade e, muitas vezes, morte prematura. O cigarro é um modelo de negócio que prospera com base no adoecimento.

Felizmente, o Brasil foi um dos países mais firmes no combate ao tabagismo. A partir dos anos 90, políticas públicas eficientes foram implementadas com rigor: proibição do fumo em locais fechados, campanhas de conscientização com imagens chocantes, aumento de impostos, restrições à publicidade. O resultado foi claro. A taxa de fumantes caiu de 34% nos anos 80 para menos de 10% hoje. São milhões de vidas salvas, milhares de famílias menos expostas ao luto evitável, bilhões economizados em tratamentos. É uma das maiores vitórias sanitárias do país. Mas, ao mesmo tempo em que conseguimos frear a glamurização do cigarro, estamos assistindo à construção silenciosa — e perigosa — de um novo culto à fumaça: o da cannabis.

E aqui não se trata de moralismo. Nem de negar o potencial medicinal da planta. A discussão é outra. A cannabis está sendo tratada hoje com o mesmo romantismo que cercava o cigarro nos anos 50. Como se o simples fato de ser "natural" a tornasse inofensiva. Como se a inalação da fumaça mágica produzisse consciência, liberdade e transcendência. Como se o uso recreativo fosse apenas uma expressão de identidade e não um comportamento com consequências. Estamos repetindo o erro com novo figurino. Influenciadores exibem baseado com orgulho. Músicas exaltam o ritual. Festivais normalizam o consumo. E qualquer tentativa de problematizar essa cultura é rotulada como conservadorismo ultrapassado. Mas a pergunta que devemos fazer não é sobre liberdade de uso. É sobre qual narrativa estamos ajudando a construir.

É verdade que a cannabis não contém o mesmo número de substâncias tóxicas do cigarro. Também é fato que a indústria do tabaco tem um histórico muito mais agressivo em termos de marketing e lobby. Mas ignorar os riscos da cannabis apenas porque ela parece menos danosa é repetir um padrão: o da minimização seletiva. Estudos já apontam prejuízos cognitivos com uso frequente, especialmente entre jovens. Há correlação com doenças psiquiátricas, problemas respiratórios, impacto na memória e na capacidade de concentração. O que está se formando não é uma simples legalização. É uma nova cultura de dependência — vendida com a mesma maquiagem libertária que um dia embalou o cigarro. Estamos substituindo a nicotina pela brisa. O vício pela euforia. A fumaça do velho pelo discurso do novo.

Será que, daqui a 30 anos, veremos campanhas de prevenção contra os efeitos da cannabis? Embalagens com avisos explícitos sobre transtornos mentais? Relatos de gerações marcadas por um novo tipo de dependência? O ciclo é previsível. Primeiro, a substância é romantizada. Depois, popularizada. Em seguida, normalizada. Só então, diagnosticada. Quando os danos se tornam inegáveis, a sociedade tenta conter o estrago. Mas o estrago já foi feito. O cigarro seguiu exatamente esse caminho. E quem assistiu de perto — como eu assisti — sabe o que vem depois.

Fumar, seja o que for, não é símbolo de liberdade. É distração de curto prazo com custo de longo prazo. É anestesia disfarçada de autocuidado. É alienação com verniz cultural. O discurso da liberdade individual precisa ser confrontado com a responsabilidade coletiva. Porque o impacto do fumo não se restringe a quem fuma. Ele invade o ar, os lares, as relações. E, como aprendemos com o cigarro, mata silenciosamente — mesmo quem escolheu não fumar. Por isso, insistir em tratar substâncias inaladas como expressão de identidade é mais do que um erro. É um crime contra a memória das vítimas do tabaco. É zombar da história que sangrou para que hoje tenhamos consciência.

O cigarro foi uma das piores invenções da humanidade. Não pela tecnologia em si, mas pela capacidade de promover sofrimento em larga escala com o consentimento social. A cannabis, se continuar nesse caminho, pode ocupar o mesmo lugar na próxima geração. E será ainda mais trágico — porque agora sabemos. Agora temos dados. Temos histórico. Temos provas. E mesmo assim, fingimos não ver. Fingimos que é diferente. Fingimos que aprendemos.

Mas a verdade é que o ser humano tem memória curta e apetite longo por vícios legitimados. Não se trata de proibir. Trata-se de refletir. Antes que seja tarde. Novamente.

CINCO FRASES PARA REFLETIR:

  1. “O homem que não aprende com a história está condenado a repeti-la.” — George Santayana
  2. “A liberdade começa quando você entende que nada te será dado. Mas tudo pode ser conquistado.” — Bill Gates
  3. “A maioria das pessoas é tão pobre que tudo o que têm é dinheiro.” — Napoleon Hill
  4. “Liberdade é a oportunidade de tomar decisões que não sejam baseadas no medo.” — Jim Rohn
  5. “Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai dela.” — Jesus Cristo

Agora olhem esse vídeo : https://lnkd.in/ePfQuded

Dois pontos que chamam minha atenção:
1 - Por incrível que pareça, um dos piores políticos que o mundo já viu, foi o mais lúcido nessa entrevista!
2- A idiotice do jornalismo já vem de longa data...nós é que não nos atentávamos a isso!

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867# Brincando de Casinha — 06/05/24

Texto autoral RXO
Brincando de Casinha — RXO

Lembro-me claramente dos dias em que, aos 10 anos, eu brincava de "casinha" com minha irmã e meu irmão no quintal de nossa casa. Criávamos uma pequena cidade, completa com supermercado, fábrica, polícia, escola, hotéis e um condomínio, onde nossos bonecos eram cidadãos e vizinhos. Cada um de nós tinha seu dinheiro, feito de folhas de caderno velho que cortávamos para simular nossa moeda corrente. Como mais velho, eu era também o mais "rico". No entanto, descobri cedo que ter "200 dinheiros" ou "1.000 dinheiros" não me tornava mais abastado, pois os bens da nossa cidade eram limitados, e simplesmente eu tinha um baita trabalho "fazendo" meu dinheiro, para no final ter minha moeda "desmoralizada" pelos meus irmãos, que percebendo o truque, automaticamente aumentavam os preços de suas mercadorias e me tomavam mais dinheiro 🤣🤣🤣, ou seja, sem saber a gente inflacionava a economia de toda nossa cidade.

Anos mais tarde, tive contato com "As Seis Lições" de Mises. Nela, o autor explica que inflação é o aumento na quantidade de dinheiro em circulação, o que leva à depreciação do poder de compra. Ele aponta que essa depreciação se manifesta no aumento dos preços dos bens e serviços. Mises também destaca que a inflação é frequentemente utilizada pelos governos para cobrir déficits orçamentários, causando distorções econômicas significativas e afetando investimentos e padrões de consumo de forma desigual.

Para exemplificar, no Brasil em 2025, a inflação oficial medida pelo IPCA está acima de 5%, acima da meta. Porém, analisando a base monetária, ela saiu de 7,6 trilhões de reais em dezembro de 2022 para 10,3 trilhões em outubro de 2025, observamos assim um aumento significativo. Comparando com dados de 2004, quando a base monetária era de 1 trilhão de reais, vemos que em quase 20 anos houve um aumento de mais de 800% (https://lnkd.in/eNhQFHHe), enquanto a inflação medida pelo IPCA foi pouco mais de 200% nesse mesmo período (https://lnkd.in/eGvb4Yga). Isso mostra que a inflação percebida pelo público é realmente muito diferente da inflação oficial, e quem paga contas sabe disso.

A discrepância entre esses números revela a necessidade de uma gestão menos distorcida da economia. Assim como na brincadeira de infância, não podemos permitir que o governo continue a inflacionar a moeda sem enfrentar as consequências reais disso. É crucial entender e abordar as causas da inflação para evitar desequilíbrios econômicos graves e garantir uma economia mais estável e justa.

E já passou da hora do governo parar de "brincar de casinha", ou vamos continuar sem saber como resolver isso, já que insistimos ainda em falar que o culpado é o dono do supermercado ou o proprietário de indústrias pelo aumento de preços...

...e aí fica difícil!

Aproveitando, conhecem esse idiota celebrando o fim da inflação com o Plano Cruzado em 1986?: https://lnkd.in/eucw5NuA

Aguardem, pois esse é o substituto natural de Haddad no Ministério da Fazenda 👀

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868# Vou te contar um Segredo... — 03/05/24

Texto autoral RXO
Vou te contar um Segredo... — RXO

A partir do livro "O Verdadeiro Poder", de Vicente Falconi, um dos maiores especialistas em gestão, custos e produtividade do Brasil, podemos extrair valiosas lições sobre como aplicar conceitos de Melhoria Contínua de forma eficaz.

Já nos primeiros capítulos, o livro destaca que a essência do gerenciamento eficaz reside na definição de metas claras e precisas. Isso é crucial porque objetivos mal definidos podem levar ao fracasso, mesmo diante de esforços intensos. Portanto, a melhoria contínua começa com um planejamento meticuloso, estabelecendo metas que não apenas desafiam a equipe, mas que também são mensuráveis e alinhadas com a visão global da organização.

Essa obra enfatiza também a importância de lideranças sólidas. Uma liderança eficaz não se limita a ocupar uma posição de autoridade, mas envolve motivar e capacitar os membros da equipe para que atinjam a excelência. O líder deve ser o catalisador da melhoria contínua, instigando cada membro da equipe a superar desafios e alcançar metas ambiciosas.

A partir da metade do livro, a análise de fenômenos e processos é discutida como ferramenta vital para a melhoria contínua. O livro apresenta técnicas para desmembrar problemas complexos em partes menores, o que facilita a compreensão. Esta capacidade analítica é essencial para qualquer líder que deseje implementar mudanças significativas e duradouras.

A obra também ressalta a importância de envolver todos os níveis da organização na análise e na tomada de decisão, conforme detalhado no sétimo capítulo. Uma cultura de envolvimento promove não apenas a aceitação de novas ideias, mas também a responsabilidade compartilhada pelos resultados. A capacitação e o treinamento contínuos são fundamentais para manter todos os funcionários engajados e preparados para contribuir ativamente para os objetivos da organização.

Por fim, cuidar da cultura organizacional e gerenciar a aquisição de conhecimento são temas abordados nos capítulos nove e dez. Uma cultura que valoriza a aprendizagem, a ética e a inovação é essencial para a melhoria contínua. Além disso, gerenciar o conhecimento de forma eficaz garante que a organização não apenas melhore seu desempenho atual, mas também esteja preparada para enfrentar desafios futuros.

Mas vou te contar uma coisa: o livro não faz milagres, e por incrível que pareça, você vai ter que trabalhar, e MUITO!. Vi muita gente que sabia esse livro "decor e salteado", como diz minha mãe, que falhava por não ter o mínimo conhecimento do negócio em que estava envolvido, e por não ter interesse GENUÍNO em pessoas. Cem por cento do tempo era fazendo belas apresentações no PPT e no Power BI, sem nunca tirar o "bumbum" da cadeira, e o pior, evitando ao máximo contato com os "leprosos", e aí quando vem o fracasso, e ele sempre vem, simplesmente saem de cena e entregam a bomba!!!

Segue o link desse bom livro, que não tem culpa por preguiçosos também o lerem: https://lnkd.in/eknFEUZH

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869# Regra das 10.000 horas — 28/04/24

Texto autoral RXO
Regra das 10.000 horas — RXO

A regra das 10.000 horas, popularizada por Malcolm Gladwell em "Outliers", postula que a excelência em qualquer campo é alcançada através de prática intensiva e oportunidades estratégicas. Esta teoria é ilustrada não apenas por figuras como Bill Gates e os Beatles, mas também por histórias extraordinárias como a de Oscar Schmidt, o lendário jogador de basquete brasileiro conhecido como "Mão Santa".

Oscar Schmidt é um ótimo exemplo de como a prática deliberada pode levar a realizações notáveis. Apesar de ser frequentemente celebrado como um talento natural, Oscar sempre refutou essa visão simplista, insistindo que sua "mão santa" não era nada mais do que uma "mão treinada". Sua carreira exemplifica vividamente a regra das 10.000 horas; ele passou incontáveis horas em quadra, praticando arremessos e aprimorando suas habilidades. A dedicação de Schmidt ao basquete ultrapassou amplamente o limiar das 10.000 horas, elevando seu jogo a um nível de maestria raramente visto, e não é a toa que é um Hall da Fama do Basquete norte-americana sem nunca ter jogado na NBA.

Esse compromisso com a prática constante é crucial para entender como habilidades excepcionais são desenvolvidas. Assim como os violinistas da Academia de Música de Berlim, que se diferenciaram pelo tempo dedicado ao instrumento, Schmidt destacou-se por sua incansável dedicação ao basquete. Esta é uma lição vital: a excelência muitas vezes é vista como um dom inato, mas na realidade, é o resultado de esforço persistente e focado.

Além de praticar, Oscar também soube aproveitar as oportunidades que surgiram em sua carreira, como participar de competições internacionais e representar o Brasil em cinco Jogos Olímpicos. Essas experiências não apenas testaram suas habilidades, mas também ampliaram sua resiliência e capacidade de executar sob pressão, características essenciais para qualquer um que deseje se destacar em sua área.

A história de Oscar Schmidt reforça a mensagem de que, embora as 10.000 horas de prática preparem o terreno para o sucesso, são as oportunidades bem-aproveitadas que catalisam um sucesso extraordinário. Seu exemplo inspirador serve como um lembrete poderoso para todos nós: talento é algo que se constrói, não algo que se recebe pronto.

Incentivo a todos a refletirem sobre como a regra das 10.000 horas pode ser aplicada nas suas próprias vidas. Identificar e criar oportunidades, além de se dedicar à prática, pode transformar competência em excelência. A verdadeira maestria é uma combinação de prática dedicada, aproveitamento de oportunidades e, acima de tudo, a crença persistente em nosso próprio desenvolvimento.

Leia o livro "Fora de Série", de Malcolm Gladwell, que isso fica muito mais evidente para nós pobres mortais!

“Eu não gosto de ler, eu tenho preguiça de ler” — Lula
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870# Jogue a vaca no poço! — 30/12/24

Texto autoral RXO
Jogue a vaca no poço RXO

Um pai e seu filho adolescente sempre viajavam pelo interior do país em busca de novas oportunidades de negócio. Durante a jornada, dependiam da hospitalidade de moradores para descansar e se alimentar.

Numa tarde, encontraram uma casa simples, onde um casal e seus oito filhos viviam modestamente. Apesar da pobreza visível, receberam os viajantes com generosidade. No jantar, serviram leite, queijo e um pouco de doce de leite como sobremesa. O filho logo notou que havia uma vaca no quintal, e curioso, perguntou ao anfitrião: "como conseguem viver com tão pouco?"

O homem respondeu com um sorriso cansado: "é difícil, mas graças a Deus e a essa vaca, temos o necessário. O leite dela sustenta toda nossa família."

Naquela noite, após se recolherem, o pai acordou o filho:

— Levante-se. Vamos fazer algo importante.
— O quê? — questionou o jovem, ainda sonolento.
— Precisamos jogar a vaca no poço antes de irmos embora.

Confuso e relutante, o filho tentou resistir, mas diante da insistência do pai, ajudou-o a sacrificar o animal. Ao amanhecer, partiram antes que a família acordasse.

Anos depois, o pai e o filho, agora um adulto, decidiram revisitar a região. Ao chegarem ao local, não encontraram mais a casa humilde. No lugar, havia uma residência confortável, cercada por um lindo jardim muito bem cuidado. Intrigados, perguntaram aos vizinhos e descobriram que a família havia se mudado para a cidade.

Curiosos, foram até lá e encontraram o patriarca, que os recebeu calorosamente. Ele parecia outro homem: confiante e cheio de vida. Durante o almoço, contou sua história: "naquela noite que vocês estiveram conosco, aconteceu uma tragédia em que perdemos nossa vaca. Naquele momento ficamos desesperados. Ela era nossa única fonte de sustento. Mas sempre confiante em Deus, saímos daquela vida difícil e viemos tentar a sorte na cidade. Comecei a trabalhar como pedreiro, minha esposa abriu um pequeno negócio, e meus filhos mais velhos encontraram empregos e foram estudar. Com o tempo, nossa vida melhorou. Hoje, agradeço a Deus por ter fechado uma janela e ter aberto uma porta."

O filho, que por muitos anos guardou um forte sentimento rancor e culpa, ouvindo aquelas palavras, ficou pensativo e ao mesmo tempo aliviado. Apesar de nunca ter entendido a atitude do pai, finalmente enxergava o impacto que aquele gesto, na época cruel, havia gerado.

A história da vaca no poço nos ensina que, muitas vezes, aquilo que consideramos essencial pode ser exatamente o que nos prende. A acomodação é confortável, mas impede o crescimento.

Por mais difícil que pareça, às vezes é preciso perder o que nos dá segurança para descobrir nosso verdadeiro potencial.

“Sem crises, não há desafios; sem desafios, não há crescimento.” – Albert Einstein
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871# O Sexto Burro — 06/08/24

Texto autoral RXO
O Sexto Burro RXO

Já parou para pensar que você é a média das pessoas com quem anda? Essa não é apenas uma frase solta por aí; é a dura realidade. Se você anda com cinco burros, adivinha? Você é o sexto. Mas se você se cerca de cinco mentes brilhantes, parabéns, está a caminho de se tornar o sexto "pica" do grupo.

Parece óbvio, mas você tem ideia do quanto isso impacta sua vida? Saiba que ninguém prospera sozinho, e as pessoas ao seu redor são as bóias ou as âncoras. Se você passa seu tempo com quem só reclama da vida, acha que o mundo deve algo a elas e não move um dedo para mudar de situação, não espere se tornar um visionário. No máximo, vai virar mais um reclamão.

Agora, imagine que você decide dar um salto de qualidade nas suas amizades. Começa a se conectar com pessoas que pensam grande, que não aceitam nada menos que a excelência e que estão sempre buscando crescer. De repente, seu mundo muda. As conversas passam de lamúrias para ideias inovadoras, estratégias de sucesso e planos de ação. Nesse ambiente, o sucesso se torna o padrão.

Quer um exemplo concreto? Pense naqueles grupos de empreendedores que se reúnem para discutir negócios e estratégias. Ali, cada membro se alimenta da experiência do outro, trocam experiências valiosas e, juntos, crescem mais rápido do que cresceriam isoladamente. E a verdade é que isso vale para qualquer área da vida: quem anda com cinco milionários, tende a se tornar o sexto.

Agora, vamos falar sério: se você é sempre o mais esperto da turma, sinto lhe informar, mas você está no grupo errado. E não, isso não é uma ofensa. É um aviso. Quando você se rodeia de pessoas que não te desafiam, que se contentam com o básico, você também vai se acomodar. E o pior de tudo é que vai achar isso aceitável.

Mas a realidade é que isso é perigoso. Crescimento real exige desconforto, exige que você se rodeie de pessoas que te tirem da zona de conforto, que te forcem a pensar de formas ousadas. Se você quer ser a melhor versão de si mesmo, não dá para continuar convivendo com quem está estacionado na vida. É como tentar ser saudável comendo fast food todos os dias.

Então, que tal um desafio? Revise suas companhias. Pergunte-se: essas pessoas me puxam para cima ou me arrastam para baixo? Elas me inspiram a ser melhor ou me fazem questionar por que estou me esforçando tanto? E se a resposta não for o que você esperava, talvez seja hora de apertar o botão de reset nas suas relações.

Lembre-se: você é a média das cinco pessoas com quem mais convive. E se essa média não te orgulha, é hora de recalcular a rota. O sucesso é uma escolha, e começa pelo tipo de gente que você escolhe ter ao seu lado. No fim das contas, ser o sexto burro ou o sexto gênio é uma questão de decisão.

"Agradeço ao presidente Lula da Silva também, porque ele fez um pronunciamento contundente pela paz na América do Sul, na América Latina, e o poder que a Celac deve ter." – Nicolás Maduro
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872# Tempos fáceis e homens fracos — 08/09/24

Texto autoral RXO
Tempos fáceis e homens fracos RXO

Em 1999, o filme Clube da Luta destacava a crise existencial do homem moderno no consumismo desenfreado e vazio espiritual. Uma crítica pela busca incessante por conforto e segurança, e a consequente alienação e perda de propósito da humanidade. Tyler Durden, o alter ego rebelde, lembra que “o que você possui acaba possuindo você”. No entanto, essa mensagem foi ignorada, e a sociedade continua em busca de produtos, status e validação superficial.

O ponto central da crítica é a nossa tentativa de preencher o vazio existencial com bens materiais, uma sociedade onde a imagem de sucesso está atrelada ao acúmulo de objetos e não à superação pessoal ou à busca por um propósito maior. E isso não é algo isolado, já que muitos experimentos sociológicos, como o "Universo 25" de John B. Calhoun, corroboram essa perspectiva.

O Universo 25 foi um experimento social que criou uma utopia para ratos, com ambiente perfeito: sem predadores, comida ilimitada e abrigo seguro. No entanto, o resultado foi desastroso. Após uma fase de prosperidade, a sociedade dos ratos entrou em colapso. A ausência de desafios levou à apatia, violência e extinção. Sem necessidade de lutar ou se proteger, os ratos tornaram-se complacentes e desconectados. A superpopulação e a falta de propósito destruíram a ordem e o significado da sociedade.

Assim como esses ratos, nossa sociedade enfrenta o conforto como inimigo. Sem batalhas diárias pela sobrevivência e com segurança relativa, nos é vendido que a felicidade está através dos bens materiais. No entanto, essa busca por satisfação imediata pode levar a um destino sombrio.

Desde nossos ancestrais, passamos por adversidades para nos tornarmos mais fortes, mais resilientes. No entanto, a sociedade moderna nos afasta cada vez mais dessas lutas, substituindo-as por distrações vazias. Como o narrador de Clube da Luta, que tenta resolver seu vazio existencial com móveis caros e medicamentos, estamos procurando soluções onde não existe nenhum real alívio.

O que Clube da Luta e o Universo 25 mostram é simples: sem desafios e desconforto, tornamo-nos entorpecidos e sem propósito. A decadência é inevitável sem a necessidade de lutar por algo maior. Embora o conforto absoluto pareça tentador, somos feitos para a adversidade, onde encontramos propósito, crescimento e, paradoxalmente, liberdade.

Tyler Durden tentou, através da violência e do caos, sacudir os homens de sua letargia. Mas a solução não está na destruição, e sim no redescobrimento do que realmente significa viver com propósito. O problema de nossa sociedade é que trocamos a busca pelo significado pela busca pelo conforto, e isso está nos levando ao mesmo caminho trágico dos ratos do Universo 25.

“Meu avô andava a camelo, meu pai andava a camelo, eu ando de Mercedes, meu filho anda de Land Rover, e meu neto vai andar de Land Rover, mas meu bisneto vai andar a camelo…” - Sheikh Mohammed
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873# Michael Jordan, o maior... — 05/09/24

Texto autoral RXO
Michael Jordan, o maior RXO

...FDP da história do esporte!

Pelo menos essa foi a percepção que tive ao assistir o excelente documentário “The Last Dance”, disponível na Netflix, onde retrata Michael Jordan como um dos maiores atletas da história, fato inegável, mas também, se há uma lição que podemos tirar de sua liderança, é a seguinte: não, ele não é um exemplo a ser seguido. Jordan, embora tenha sido um vencedor nato, tinha uma abordagem de liderança que não merece ser glorificada – muito pelo contrário, deveria servir como um alerta do que não fazer.

Seu estilo, recheado de arrogância, desrespeito e, muitas vezes, abuso psicológico, não tem espaço em ambientes que valorizam a colaboração e o desenvolvimento de pessoas. Ele exigia dos colegas uma dedicação brutal e usava o medo como ferramenta para manter o time sob controle. Os resultados foram ótimos dentro de quadra? Sim. Mas a que custo?

Para quem acredita que excelência é "passar por cima de todos para chegar ao topo", Jordan é o ídolo perfeito. Mas se você entende que ser excelente vai além de números e troféus e tem mais a ver com inspirar, desenvolver e empoderar, então seu comportamento como instituição é um exemplo claro do que deve ser evitado. Jordan humilhava publicamente seus companheiros de equipe e parecia se alimentar do caos e da pressão desumana que ele mesmo criava.

Você gostaria de trabalhar para alguém que constantemente te coloca para baixo, que usa sua posição para minar sua autoconfiança e que acredita que a humilhação é a chave para a vitória? Claro que não. Essa é a realidade que muitos de seus colegas enfrentaram. E não se engane, isso não é "liderança forte" ou "dedicação à excelência". Isso é abuso. Ser uma empresa que busca excelência é algo completamente diferente: trata-se de saber como levar o time à vitória junto com eles, e não às custas de sua saúde mental.

Imagine esse comportamento fora do ambiente esportivo. O bullying psicológico e a humilhação fariam o turnover de qualquer empresa subir às alturas e o ambiente de trabalho se tornaria insustentável. O impacto emocional nesse ambiente arruinaria qualquer senso de coesão e propósito que uma equipe deveria ter. Essa empresa faria mais inimigos do que aliados.

A cultura de liderança que Jordan representa pertence a um mundo ultrapassado, onde os fins sempre justificam os meios. Não é a mentalidade de quem busca construir organizações saudáveis e inovadoras, onde as pessoas são vistas como mais do que peças descartáveis. Portanto, é fundamental que, ao assistir The Last Dance, tenhamos a maturidade de separar o jogador incrível do líder péssimo.

Sim, admire Jordan pela sua habilidade em quadra. Continue aplaudindo suas conquistas como atleta, mas não o coloque em um pedestal como exemplo de liderança. Ele é um alerta do que uma empresa deve não fazer. Se uma empresa quer ser justa de verdade, faça exatamente o oposto do que Jordan fez com seus companheiros.

“O talento vence jogos, mas o trabalho em equipe e a inteligência ganham campeonatos” – Michael Jordan
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874# O país da Gambiarra — 26/08/24

Texto autoral RXO
O país da Gambiarra RXO

No Brasil, quem já ñ apertou um parafuso com uma faca ou usou um pedaço de pau como martelo? Isso é a famosa "gambiarra". Algo que vai além de ser uma simples solução improvisada; é quase um símbolo da nossa identidade. Muitos de nós até nos orgulhamos dessa capacidade de “dar um jeito” em qualquer situação, como prova de nossa inteligência ou competência. Mas vamos ser sinceros: esse orgulho é, na verdade, um grande "engana bobo". Celebramos o improviso quando, na verdade, deveríamos nos perguntar por que precisamos improvisar tanto.

Encarando a realidade: o "jeitinho brasileiro" nem sempre é uma solução, mas sim um reflexo de um problema maior. Desde pequenos, aprendemos a ver o improviso como uma virtude, quando, na verdade, ele nos afasta da excelência. A cultura de ignorar manuais e procedimentos está profundamente enraizada na nossa mentalidade. Seja na manutenção do carro, no cuidado com a saúde ou até mesmo em hábitos básicos como ir a um dentista, preferimos uma solução rápida ao invés de uma prevenção bem planejada.

Esse comportamento não apenas gera problemas para nós mesmos, mas também alimenta um ciclo de mediocridade. Quando negligenciamos a manutenção preventiva ou desconsideramos a importância de seguir diretrizes, estamos plantando as sementes para problemas maiores a médio prazo. Na indústria, isso pode significar máquinas que quebram antes do tempo; na saúde, diagnósticos tardios que poderiam ter sido evitados; e no dia a dia, atrasos e desculpas que expõem nossa falta de planejamento e seriedade.

O problema não está só no improviso, mas na mentalidade por trás dele. Achamos que somos espertos ao ignorar as regras e driblar o sistema, mas, na verdade, estamos nos prejudicando. A exaltação da gambiarra como uma qualidade positiva do brasileiro só serve para encobrir nossa resistência a mudanças reais, ao aprendizado contínuo e à busca pela excelência. Enquanto países que valorizam o planejamento e a prevenção colhem os frutos do progresso, seguimos nos vangloriando da nossa capacidade de "dar um jeito", sem perceber que isso nos mantém presos em um ciclo de estagnação.

Precisamos repensar seriamente essa cultura. Não podemos continuar nos orgulhando de uma mentalidade que, na verdade, é um obstáculo ao nosso desenvolvimento. Ao recorrer à gambiarra, muitas vezes confundimos improviso com precariedade, acreditando que uma solução temporária pode substituir uma definitiva. E assim, acabamos fortalecendo a máxima de que "nada é mais definitivo do que algo provisório".

Acho que já passou da hora de deixarmos de lado o orgulho pela gambiarra e abraçarmos a importância de fazer as coisas da maneira certa, desde o início. Porque, no final das contas, é a busca pela excelência, e não a improvisação constante, que realmente pode transformar um país.

Em tempo: como seria o Brasil se tivesse passado por duas guerras mundiais igual a Alemanha ou duas bombas atômicas como o Japão? 🤔

“Gambiarra é a junção da preguiça com a falta de recursos” - RXO
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875# Quando a cultura está podre! — 22/06/25

Texto autoral RXO
Quando a cultura está podre RXO

Você pode imaginar uma fábrica operando com esgoto em vez de água potável?

Não é um experimento de laboratório. É um caso real, com implicações que excedem quaisquer limites éticos, bom senso ou sanidade gerencial. Isso não aconteceu em um país sem leis ou em uma pequena empresa. Estava dentro de uma multinacional auditada, premiada e certificada pela ISO - e pode acontecer em qualquer outro lugar se o sistema estiver doente o suficiente.

Esta planta nasceu e sobreviveu durante as duas primeiras décadas graças aos subsídios estatais do Estado. Recursos públicos que a isentavam de ser eficiente, competitiva ou melhor. Ela tinha apenas o dever de existir. Assim nasceu sua cultura: confortável, fechada ao aprendizado e viciada em aparências.

Sua prioridade: mostrar números bonitos, independentemente da realidade. Os indicadores - segurança, qualidade, produtividade - foram esculpidos como uma arte para caber nos relatórios. Ninguém se importava com o processo, apenas com a aparência: parecendo eficiente, parecendo confiante. Tornou-se uma fábrica de PowerPoint, não uma fábrica de alimentos.

Pesquisas internas, projetadas para detectar problemas, foram manipuladas. Os funcionários foram instruídos sobre como responder. Uma nota ruim pode significar menos recursos, diziam os Gestores de RH. Dizer a verdade era perigoso. Assim nasceu o silêncio e, do silêncio, um sistema.

Um dia veio a seca. O rio que abastecia a planta tornou-se um fio de água podre. Marrom, pestilento, intratável. E surgiu o dilema: parar tudo ou continuar fingindo. Eles escolheram fazer aquilo que já estava na cultura daquela planta: continuar fingindo. Não por malícia, mas porque eles não sabiam mais como operar com a verdade. Parar era falhar, e o sistema não permitia isso.

Assim, toneladas de um famoso produto alimentício – que você e eu temos em casa – foram feitas com água contaminada. Mau cheiro? Ignorado. Controles? Rastreabilidade? Alterado. A planta continuou a operar como se nada tivesse acontecido, como se tudo estivesse normal.

Os consumidores reclamaram em massa. Auditorias chegaram, consultores ativaram protocolos. Mas eles não encontraram nada. O dano foi compensado, as evidências removidas com cálculo e autorização. A planta foi "limpa", no sentido literal: eles apagaram todos os vestígios possíveis e imagináveis.

E depois? A reação típica corporativa: plano de ação, slides, treinamentos, novos fluxos. Tudo para fingir que algo estava sendo feito. Ninguém tocou na raiz. Ninguém disse: "Nós criamos esse monstro".

Finalmente, o maior cliente quebrou o contrato. A planta entrou em declínio. Alta rotatividade de líderes, moral no fundo do poço. Resultados? Nenhum. Tornou-se um cemitério corporativo: paredes limpas, reputação podre.

Não é uma história sobre água contaminada. É sobre cultura apodrecida. Sobre como as empresas se corroem por dentro muito antes de chegarem às manchetes. E como as mentiras, quando se tornam políticas, transformam qualquer organização em um castelo de cartas.

E não se engane: isso pode acontecer em qualquer empresa, inclusive na sua.

“A cultura devora a estratégia no café da manhã.” — Peter Drucker
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876# Não se orgulhe do Senso de Urgência — 15/06/25

Texto autoral RXO
Não se orgulhe do Senso de Urgência RXO

Há líderes que se orgulham do “senso de urgência” como se isso fosse algo digno de medalhas. Como se viver no limite, resolver no último segundo e “virar a noite” fosse sinônimo de competência. Não é. Em 90% dos casos, é só falha de planejamento com boa comunicação.

Num curso sobre gestão, ouvi uma frase brutal que não esqueci: “O urgente, um dia, foi importante. E você ignorou.” Isso deveria estar impresso nas salas de reunião de todas as fábricas do país. Porque é exatamente isso que define a diferença entre operação reativa e organização de alta performance.

Empresas que vivem apagando incêndios são, na verdade, aquelas que deixaram o combustível se acumular — e agora se assustam com as chamas que elas mesmas alimentaram.

A indústria está lotada de gestores eficientes em reação, mas ineficazes em prevenção. Operam bem no caos, mas não sabem construir estabilidade.

Essa inversão de lógica tem nome: improviso sistematizado. E ela se manifesta em decisões corriqueiras — como adiar uma manutenção preventiva para atender uma entrega urgente. Até o dia em que tudo colapsa.

Considere um caso real: sensores com falhas recorrentes foram ignorados por mais de 30 dias. O reparo custaria R$ 10 mil. O prejuízo da parada: R$ 400 mil. Isso não é acidente. É resultado da priorização equivocada. Da ilusão de que “resolver rápido” compensa “resolver certo”.

Não compensa.

Falconi já ensinou: urgência recorrente é ausência de método. Quando isso se torna cultura, o time se acostuma a trabalhar com adrenalina — e a empresa se vicia em heróis. Só que heróis falham. A operação robusta é aquela que dispensa superpoderes porque entrega previsibilidade.

O verdadeiro desempenho nasce da previsibilidade operacional, não da capacidade de improvisar.

Um sistema bem gerido antecipa falhas, mitiga desvios e reduz variações. Isso exige processo, padrão, plano e prioridade. Mas sobretudo exige liderança que entenda a diferença entre eficiência episódica e excelência sistêmica.

E aqui está a reflexão: quantas urgências que você enfrentou nesta semana já davam sinais semanas atrás? Quantas poderiam ter sido evitadas se o importante tivesse sido tratado no tempo certo?

A resposta está na qualidade da sua gestão da rotina.

Não confunda urgência com relevância. A primeira é barulhenta; a segunda, silenciosa. Mas é ela quem define se sua operação é escalável ou apenas sobrevivente.

Se você se vê todos os dias correndo atrás do prejuízo, talvez esteja apenas ignorando o que realmente importa.

Pare de se orgulhar do senso de urgência. Comece a cultivar o senso de importância.

“Gestão é fazer as coisas certas de forma certa, sempre.” — Vicente Falconi
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877# Demita o Ultraman Urgente — 24/10/24

Texto autoral RXO
Demita o Ultraman Urgente RXO

Essa pergunta é para os nascidos nos anos 70 e 80: você já assistiu Ultraman, o clássico japonês dos anos 80? Quando um monstro surgia em Tóquio – geralmente vindo do mar –, estava lá ele quieto comendo o esgoto da cidade, quando o Ultraman aparecia para "resolver o problema". Só que aí, o monstro ficava p*to e crescia dez vezes...

...e lá ia o Ultraman, travar uma luta com o Monstro, para resolver o problema, e os dois destruíam prédios inteiros. E mesmo aos 8 anos de idade, eu já me perguntava: será que não era melhor ter deixado o monstro quieto? Ele não voltaria para o mar sem quebrar nada? Pois é, no ambiente de trabalho, tem gente que faz igual: aparece para "salvar o dia", mas só depois de deixar tudo virar um caos.

Esses "solucionadores de problemas" são vistos como heróis corporativos. O caos aparece e logo alguém fala o nome dele. E lá vem ele, como o Ultraman, para lutar contra o problema que, muitas vezes, ele mesmo ajudou a criar. Gambiarra aqui, remendo ali, e pronto: problema resolvido... até que outro "monstro" surja, claro.

A verdade é que, como no seriado, o "monstro" só fica maior porque o próprio herói está lá. E, no mundo corporativo, o caos é alimentado por ações passadas, soluções incompletas e decisões baseadas em empirismo. Esses heróis adoram dizer que já viram de tudo, mas nunca param para fazer o certo desde o início. E o mais incrível? Essas pessoas se tornam indispensáveis, valorizadas por suas habilidades de apagar incêndios – quando, na realidade, são os verdadeiros incendiários.

No fundo, são os pseudo-heróis que perpetuam o caos nas empresas. Enquanto todos estão correndo para solucionar problemas, o real "herói" é aquele que nunca deixa a situação fugir do controle. O verdadeiro profissional, metódico e disciplinado, evita que o caos aconteça. Ele resolve o problema na raiz, não no calor da confusão. Mas, ironicamente, é o solucionador de problemas que recebe os aplausos, as promoções, e o reconhecimento.

Agora, me diga: o que é mais útil? Um herói que só aparece quando o estrago já está feito ou alguém que evita que o caos comece? Eu prefiro quem tem disciplina, visão de longo prazo e sabe resolver as coisas com eficiência antes que os "monstros" saiam do mar.

Cuidado com esses pseudo-heróis. Eles são mais perigosos do que parecem, porque perpetuam uma cultura de desordem disfarçada de eficiência. E ainda saem como vencedores! Lembre-se: eles não salvam o dia. Eles o sabotam antes de consertar...

...portanto, se livre do "Ultraman" que você verá o Monstro desaparecer também!

"Os verdadeiros especialistas evitam problemas, enquanto os oportunistas os criam para depois se destacarem." – Samir França.
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878# Mentir como Especialistas — 29/04/24

Texto autoral RXO
Mentir como Especialistas RXO

Num programa de TV na Noruega chamado "Tankens Kraft", a noite é dedicada a uma discussão profunda sobre uma obra de Sócrates, intitulada "A Essência da Virtude". O cenário é sofisticado, com um grande display digital atrás dos convidados mostrando trechos do livro e imagens clássicas de Sócrates. A audiência está elétrica, antecipando um debate rico e informativo.

O moderador, um jornalista cultural conhecido por seu rigor e eloquência, introduz o painel: 4 especialistas renomados em filosofia clássica. Ele anuncia que esta noite será uma jornada "socrática" como nunca visto antes, explorando profundamente os ensinamentos que "A Essência da Virtude" revela.

Ingrid, a primeira a falar, é uma filósofa de Oslo que se aprofunda na análise do conceito de justiça no livro. Com eloquência, ela cita passagens complexas, discutindo como esses novos textos oferecem uma visão mais nuançada da filosofia socrática sobre a virtude, aparentemente conciliando ideias de diferentes períodos da vida de Sócrates.

Henrik, um acadêmico de Bergen, segue discutindo a metodologia de diálogo presente na obra. Ele explica como "A Essência da Virtude" emprega um estilo de questionamento mais direto que os diálogos tradicionalmente atribuídos a Sócrates, sugerindo um desenvolvimento evolutivo em sua abordagem pedagógica.

Amina, de Trondheim, traz à tona o tratamento de Sócrates sobre a mortalidade e a alma, descrevendo como o livro propõe novas interpretações que parecem expandir e até mesmo desafiar interpretações anteriores feitas por Platão.

Karl, o último a falar, discute a influência percebida de pré-socráticos no livro, algo raramente associado diretamente a Sócrates, mas presente nesta obra, demonstrando um conhecimento que impressiona a todos pela sua profundidade.

À medida que o debate avança, a discussão é intensa, com cada participante demonstrando um profundo conhecimento da obra, citando capítulos e versos com uma familiaridade que sugere anos de estudo.

No entanto, ao final do programa, o moderador revela uma reviravolta chocante: "A Essência da Virtude" não é uma obra de Sócrates. Ele explica que Sócrates NUNCA escreveu um livro, e na verdade, foi tudo uma criação de especialistas em filosofia clássica moderna, desenvolvida como parte de um experimento social para testar a credulidade do público acadêmico e geral. O conhecimento profundo dos convidados sobre o livro era, na verdade, parte do experimento — eles eram os verdadeiros autores.

A revelação causou um choque entre o público e os telespectadores. A experiência nos mostra como a autoridade percebida e o contexto podem influenciar a aceitação de informações, destacando a importância do ceticismo e da verificação rigorosa, em qualquer contexto.

Inventar narrativas é mais fácil do que imaginamos, e infelizmente, ñ temos ideia do que pode ou ñ ser real, principalmente quando há "especialistas" envolvidos!

E essa história toda que escrevi é falsa!

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.” — Joseph Goebbels
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879# O maior desastre industrial da história — 29/04/24

Texto autoral RXO
O maior desastre industrial da história RXO

No dia 3 de dezembro de 1984, a cidade de Bhopal, na Índia, se tornou o cenário do maior desastre da industria Química do mundo. A fuga de 40 t de isocianato de metila de uma planta da Union Carbide desencadeou uma tragédia imensurável: aproximadamente 3.000 mortes imediatas e centenas de milhares de pessoas afetadas com problemas de saúde crônicos. Essa catástrofe não só gerou consternação mundial devido à sua gravidade, mas também marcou um ponto de virada decisivo para as normas de segurança industrial.

Esse desastre é frequentemente utilizado como exemplo alarmante das consequências devastadoras da negligência e da insuficiência nas medidas de segurança. Naquela noite trágica, falhas graves no sistema de segurança e na manutenção preventiva, aliadas à ausência de estrutura para enfrentar emergências, culminaram em uma catástrofe sem precedentes. A gestão inadequada da crise, especialmente a demora em divulgar informações sobre a natureza do gás aos profissionais médicos, complicou ainda mais os esforços de tratamento.

As repercussões do desastre ultrapassaram as fronteiras da Índia e foram fundamentais para a implementação de regulamentos rigorosos de segurança no mundo. A catástrofe impulsionou a adoção do "Process Safety Management" (PSM) nos EUA, mas também inspirou mudanças significativas em países como o UK e a Alemanha, que revisaram e fortaleceram suas legislações sobre o manuseio de substâncias perigosas. Essas normativas globais são projetadas para evitar que tragédias semelhantes ocorram, sublinhando a importância da prevenção, da preparação e da resposta ágil em situações de emergência.

Ademais, esse desastre sublinhou a necessidade de uma responsabilidade corporativa e ética mais rigorosa. A hesitação inicial da Union Carbide em reconhecer sua responsabilidade e em proporcionar compensações justas às vítimas despertou críticas e intensificou o debate sobre a ética nos negócios e a responsabilidade social das empresas. Esse debate tem incentivado uma prática empresarial mais justa e transparente, particularmente em regiões onde as populações são mais vulneráveis.

Hoje, refletindo sobre o desastre de Bhopal 40 anos depois, é evidente que as lições aprendidas continuam sendo essenciais. A indústria química, em especial, se mantém como uma das mais rigorosas em termos de segurança de processos e gestão de riscos. O legado de Bhopal reforça a necessidade imperativa de vigilância contínua, treinamento constante e, acima de tudo, um compromisso firme com a segurança e a ética em todas as operações corporativas.

Este evento histórico nos convoca a colocar a segurança, a ética e o bem-estar humano acima dos interesses corporativos. Para profissionais e líderes empresariais, o desastre de Bhopal serve como um lembrete perene de que devemos agir proativamente para proteger nossas comunidades e o meio ambiente, reforçando o compromisso com práticas responsáveis e sustentáveis.

“Todo acidente ou Não conformidade de Qualidade é fruto de não seguimento de algum procedimento ou protocolo” - RXO
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880# O poder de ir embora — 29/03/25

Texto autoral RXO
O poder de ir embora — RXO

A maioria das pessoas não tem um problema de falta de tempo. Tem um problema de permanência. Permanência em lugares, vínculos e rotinas que já se tornaram emocionalmente tóxicos, profissionalmente estéreis ou existencialmente irrelevantes. A verdade incômoda é que muita gente está onde não quer estar, convive com quem não gostaria e faz o que não acredita — apenas porque não aprendeu a arte silenciosa e libertadora de ir embora.

Não nos ensinaram a sair. Nos ensinaram a suportar. A aguentar mais um pouco. A evitar conflitos. A ser “forte”. Mas existe uma força mais sutil, mais madura e infinitamente mais saudável: a de reconhecer que algo chegou ao fim e escolher partir. Sem escândalo, sem ressentimento, sem necessidade de explicar. Apenas ir. E isso exige uma coragem que poucos estão dispostos a cultivar.

Ir embora não é fraqueza, é discernimento. É perceber que o custo de ficar já ultrapassou qualquer benefício que um dia houve. E, muitas vezes, esse custo não é evidente. Ele aparece em forma de irritação constante, cansaço que não se resolve com descanso, uma sensação difusa de deslocamento, uma perda de brilho no olhar que ninguém comenta, mas que você sente todos os dias ao se olhar no espelho.

Criamos a ideia de que sair é fracassar. De um emprego, é desistência. De um relacionamento, fracasso. De um grupo social, ingratidão. Então ficamos — por status, conforto ou medo. E, assim, vamos nos abandonando. Cada ano onde não deveríamos estar adormece uma parte de nós — algumas, para sempre.

O poder de ir embora está em romper a inércia. Entender que o tempo é finito e não deve ser gasto onde precisamos nos diminuir ou somos apenas tolerados. Nesses casos, ficar não é lealdade — é autoabandono.

Aprender a ir embora é um ato de responsabilidade. É escolher a si mesmo, priorizar a paz e romper com o ciclo do “só mais um pouco”, que leva à exaustão e estagnação.

Não é fácil. Ir embora envolve perda, luto, explicações e decepções. Mas ficar também tem um custo — muitas vezes maior. Permanecer sem se sentir inteiro gera frustração, adoecimento e ressentimento, corroendo o que há de mais valioso: a autenticidade.

Pessoas fortes não são as que aguentam tudo. São as que sabem o que não estão dispostas a aguentar mais. São aquelas que, diante de um ambiente tóxico, silenciosamente se retiram. Sem drama. Sem revanche. Apenas partem. Porque entenderam que o respeito próprio não aceita parcelas.

Ir embora também não precisa de anúncio. Quem precisa ouvir não vai entender. Quem entende, já sentiu. E a vida, sábia como é, costuma recompensar quem tem coragem de fazer as malas certas. Quando você deixa o que te sufoca, cria espaço para o que te respira.

Quem aprende a ir embora descobre algo surpreendente: não é o mundo que se transforma. É você quem finalmente se posiciona no mundo de forma inteira. E isso muda tudo.

“A vida é feita de escolhas. E não escolher também é uma escolha.” – Marilise Brockstedt Lech
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881# O Porco já venceu... — 02/05/25

Texto autoral RXO
O Porco já venceu... — RXO

Imagine a cena: um porco te chama pra briga. No chiqueiro. Você, claro, aceita. Afinal, você tem razão. Tem argumentos. Tem até um MBA. O porco tem lama. E um sorriso satisfeito. Cinco minutos depois, você está coberto de barro, bufando de raiva e com a plateia gargalhando. Parabéns: você pode até ter vencido a lógica... mas o porco venceu o show. E você virou conteúdo gratuito no algoritmo dele.

Discutir nas redes é como tentar soprar uma vela no meio de um furacão moralista: ninguém ouve o que você diz, mas todos reparam no seu esforço ridículo. O que era para ser uma colocação pontual se transforma numa sequência de réplicas inúteis, interpretadas não com base na razão, mas pela lente do viés de confirmação. E é aí que você entende que não entrou num debate, mas num enredo pré-escrito onde seu papel é apenas servir de escada para o outro parecer esperto.

Robert Greene já alertava, em As 48 Leis do Poder: “metade do poder está no que você evita fazer”. O silêncio, nesse caso, não é ausência — é negação do convite ao espetáculo. É você dizendo, sem dizer, que tem coisa melhor a fazer com sua inteligência do que servir de sparring para alguém em busca de likes e aprovação de claque digital. Porque, no fim das contas, o porco quer isso: plateia. Sem audiência, ele é só um ruído isolado em busca de eco.

Sun Tzu, em A Arte da Guerra, ensinava que “a melhor vitória é aquela conquistada sem batalha”. Não se trata de passividade, mas de cálculo. Se o terreno é escorregadio, se o adversário não tem reputação a perder e se a batalha já está editada para humilhar — qual a lógica em descer? O verdadeiro estrategista não se mede pela quantidade de brigas que venceu, mas pelas que soube evitar com classe.

Nietzsche escreveu: “o valor de algo está no preço que se paga por ele”. E, no caso das redes, o preço mais alto é a sua energia. Aquela que poderia ser usada para construir, criar, desenvolver. E que é desperdiçada tentando corrigir gente que não quer aprender — só provocar. Toda reação automática é uma concessão de poder. E toda concessão inconsciente é um passo rumo ao desgaste. No fim, você não perde só a compostura. Perde tempo, foco, autoridade e paz.

Portanto, ao ser provocado, não pergunte “tenho razão?”. Pergunte: “esse palco é meu?”. O silêncio é a recusa consciente de protagonizar espetáculos alheios. Como dizia Baltasar Gracián, “o silêncio é um dos grandes poderes da sabedoria”. E sabedoria, hoje, é saber quando sua ausência diz mais do que sua presença.

Num mundo barulhento, onde todo mundo tenta vencer pela última palavra, talvez a maior demonstração de superioridade seja não precisar dizê-la.

“Nunca discuta com um tolo. Ele te rebaixa ao nível dele e te vence pela experiência.” – Mark Twain
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882# Carro Forte $ — 04/05/25

Texto autoral RXO
Carro Forte $ — RXO

Se tem alguém que gosta de carro, não sou eu nem você: é o Governo Brasileiro!

Enquanto economistas debatem tributos sobre alimentos e serviços, o sistema de arrecadação mais eficiente do país tem quatro rodas. A indústria automobilística não é só motor da economia — é caixa registradora do poder público, funcionando com precisão que nenhuma reforma tributária enfrentou.

Cada carro é mais que transporte: é uma plataforma fiscal. Um dispositivo que tributa da fábrica à sucata, do tanque ao pedágio, do IPVA à CNH. Não é exagero — é engenharia tributária.

Em 2024, o IPVA arrecadou GR$ 90. Um único tributo estadual que supera orçamentos inteiros de ministérios. E isso é só o começo. Na venda de veículos, ICMS, IPI, PIS e COFINS somaram mais de GR$ 180. Cada concessionária é, na prática, uma arrecadadora. Quase metade do valor de um carro novo vai para o Fisco. É o único bem em que se paga imposto para comprar, possuir, circular, abastecer — e até para ser punido.

O abastecimento? Uma aula de tributação indireta. O ICMS sobre combustíveis rendeu GR$ 130 aos estados em 2024. Na prática, encher o tanque é transferir receita à União e estados sob a ilusão de “mercado”. A gasolina não é cara pelo barril, mas pelo carimbo.

Pedágios? GR$ 15 por ano. Arrecadação paralela via concessão. Ainda que tecnicamente não sejam tributos, o efeito é igual: paga-se para andar em vias públicas, enquanto concessionárias repassam fatias ao Estado. No Brasil, o direito de ir e vir depende de QR code na praça de cobrança.

Multas viraram fonte permanente de caixa. Em 2024, motoristas pagaram GR$ 15. O Funset recebeu só 5% disso — e gastou menos de 20% do que recebeu. A multa deixou de corrigir e virou renda. Radar não salva vidas, salva arrecadação.

Some GR$ 5,0 em impostos sobre pneus. As taxas da CNH, que rendem de GR$ 2,0 a GR$ 3,0 por ano. O ICMS sobre óleo lubrificante. O carro é o maior ativo fiscal do Brasil. Um robô financeiro a combustão.

Total estimado de arrecadação direta e indireta: mais de GR$ 500/ano.

Mais que o dobro do orçamento da Educação. Três vezes o PAC. Cinco vezes os subsídios agrícolas. O automóvel financia tudo: saúde, infraestrutura, previdência. Mas com um custo silencioso: o empobrecimento do usuário. O brasileiro paga um dos maiores preços do mundo por um carro — não pelo carro, mas pelos impostos que ele carrega.

E a pergunta que não cala: onde está o retorno?

As estradas seguem precárias. A mobilidade urbana é caótica. O transporte coletivo, sucateado. O motorista não é apenas tributado. É traído. Paga por um serviço que não recebe — e ainda é penalizado tentando sobreviver a ele.

A indústria automobilística é a máquina de arrecadação mais eficiente do país. Mas o uso excessivo sem manutenção cobra um preço: desgaste social, ineficiência urbana e um modelo tributário regressivo. O carro, no Brasil, virou desigualdade sobre rodas.

“A tributação deve ser como a luz: espalhada, não concentrada.” – Adam Smith
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883# Inteligência Bananense x Inteligência Artificial — 06/05/25

Texto autoral RXO
Inteligência Bananense x IA — RXO

Hoje o Governo de Banânia tomou a decisão mais importante do século: proibir a Inteligência Artificial. A notícia foi lida em praça pública, com direito a fanfarra e aplausos coreografados por servidores concursados e sindicalistas.

A justificativa era simples e profundamente estratégica: todas as IAs disponíveis no mundo eram estrangeiras. E, como bem sabemos, tudo que vem de fora é suspeito — ainda mais se for inteligente. O colonialismo digital bateu à porta e o governo, como sempre, protegeu seu povo com a ferramenta mais poderosa de que dispõe: o veto.

“IA não entra. Aqui só entra IB.” Foi o que declarou, com altivez patriótica, o porta-voz do Ministério da Soberania Cognitiva. IB, para os não iniciados, é a Inteligência Bananense — a única tecnologia compatível com o solo, o clima e a moral nacional. Fruto da terra, regada com burocracia, fertilizada com apego à tradição e cultivada com a lentidão própria de um povo que aprendeu a desconfiar de qualquer coisa que funcione rápido demais.

Não é de hoje que Banania desconfia do progresso. Já resistimos bravamente ao trem por medo de que ele espremesse os órgãos internos das mulheres. Olhamos com pavor para qualquer software que funcione sem dar pelo menos um erro 404 por semana. Agora, a IA ameaça tudo isso. Ela resolve problemas. Ela otimiza processos. Ela entrega antes do prazo. Um atentado à nossa cultura organizacional, que preza pelo retrabalho como forma de arte e pelo atraso como símbolo de resistência.

Os entreguistas — essa nova casta de traidores tecnológicos — já começaram a chiar. Falam em produtividade, eficiência, inovação. Termos perigosos, importados, que não respeitam os limites morais dos bananenses. Dizem que a IA pode melhorar o atendimento público, agilizar diagnósticos médicos, evitar desperdícios. Mas será que pensaram no impacto disso sobre a alma nacional? Será que entendem que uma reunião de três horas para aprovar uma compra de toner é parte fundamental da identidade do país, além de gerar milhares de empregos?

Banânia não vai se curvar ao Vale do Silício. Preferimos nosso Vale do Silêncio, onde grandes ideias são enterradas vivas com selo de protocolo e carimbo duplo. A decisão de proibir a IA não é apenas técnica — é moral. É uma recusa ao colonialismo digital que quer se infiltrar em nossas planilhas. Aqui, até para errar, erramos com orgulho. Com IB. Porque se é para ter sistema que trava, que seja feito por nós.

E antes que algum apátrida levante a voz em defesa da “eficiência”, deixamos claro: Banânia é livre para ser o que ela quiser..Lenta? Ineficaz? Não importa...Ela gera empregos, é patriota o suficiente para não aceitar que robôs estrangeiros nos digam como trabalhar. Porque no fim das contas, preferimos um erro humano do que um acerto automatizado.

Abaixo o entreguismo digital.

“A estupidez coloca-se na primeira fila para ser vista.” – Bertrand Russell
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884# Executivo Gafanhoto — 13/05/25

Texto autoral RXO
Executivo Gafanhoto — RXO

Luxemburgo fazia isso no futebol: chegava com discurso de glória, trazia um séquito caro, entregava pouco e deixava dívidas. Empresas hoje repetem o enredo. E o mercado aplaude. Sim, estamos falando do “Executivo-Gafanhoto” — aquele que não transforma, consome. Que não constrói, extrai. Que não lidera, performa.

O ciclo é sempre o mesmo. Uma empresa fragilizada, buscando salvação, contrata um “guru da disrupção”. Ele aparece com sotaque internacional, formação em escola de negócios de três letras e uma pasta cheia de promessas. Vem cercado por consultores, ex-colegas e contratos generosos. Em semanas, demite os profissionais com memória — afinal, memória compromete a farsa. Substitui por uma geração de “gafanhotinhos”: jovens moldáveis, rápidos no PowerPoint, leais ao discurso e inofensivos à estrutura.

Forma-se então o palco da ilusão: reestruturações estéticas, KPIs fictícios, logos redesenhadas, organogramas de fantasia. Tudo com carimbo de consultorias “respeitadas”, que vendem Power BI como se fosse estratégia. E quando o bônus é garantido, a debandada começa. O ciclo se completa: cultura dizimada, legado apagado, moral em ruínas.

E o mais surreal? Esses mesmos nomes são depois promovidos. São cases em palestras, convidados de podcasts, indicados a conselhos. A herança que deixam — contratos inflacionados, equipes desmotivadas, passivos escondidos — raramente é auditada. Porque ninguém analisa o impacto real. Só o storytelling.

Estamos diante de uma epidemia de parasitismo executivo. Um modelo onde o “transformador” se torna celebridade antes mesmo de entregar resultado. Onde se premia PowerPoint e se descarta profundidade. Onde a gestão é medida por narrativas, e não por legado.

Isso não é inovação. É engenharia da devastação.

O mais perverso: esse comportamento tem incentivo. Enquanto o bônus for atrelado a metas de curto prazo, e não à solidez do que se deixa para trás, continuaremos contratando gafanhotos — e esperando que plantem.

Mas gafanhoto não planta. Devora.

Não adianta espernear quando a cultura se dissolve, os talentos vão embora e o cliente vira estatística. O estrago é sempre maior do que o previsto — mas o responsável já trocou de CNPJ, já deu entrevista no Valor, já virou referência em “transformação”.

Precisamos falar disso com todas as letras.

Empresas não são trampolins para carreiras narcisistas. São projetos coletivos, que exigem consistência, memória, e sim, desconforto com o modismo.

Executivo bom não precisa redesenhar a empresa toda pra mostrar trabalho. Ele precisa entregar resultado de verdade. E deixar um lugar melhor do que encontrou — não mais caro, mais vazio e com mais gente perdida tentando entender o que realmente aconteceu.

“Cultura devora estratégia no café da manhã.” — Peter Drucker
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885# Quando uma nota 3.0 é melhor que 9.5 — 01/06/25

Texto autoral RXO
Quando uma nota 3.0 é melhor que 9.5 — RXO

Em 1999, comecei Engenharia. Recém-casado, esposa grávida, pouco dinheiro e muitos sonhos. Após um ano de estudos intensos para a Unicamp, fui bem em tudo — menos em inglês. Zerei essa parte do vestibular e fiquei de fora. Mas como me preparei com dedicação, passei em outras universidades. Uma regra inesperada me favoreceu: na Universidade São Francisco, em Itatiba, o primeiro colocado ganhava bolsa integral. E eu fui esse cara.

A sensação foi indescritível. Eu não teria como pagar a mensalidade, mesmo trabalhando em três turnos como analista de laboratório. Aquela bolsa caiu do céu — ou melhor, do esforço. Entrei com orgulho e vontade de aprender.

Sempre fui bom aluno. No colégio, fechava as notas em novembro e já emendava férias. Na faculdade de Química, no quarto semestre, já trabalhava como analista. Aprender sempre foi fácil, quase intuitivo. Estudar muito? Só quando dava vontade. Estava acostumado a conquistar com pouco esforço.

Mas essa mentalidade me derrubou.

Na primeira aula de Cálculo 1, o professor avisou: “80% de vocês vão me encontrar no curso de verão. Só 20% passam direto.” Ri por dentro. Sempre fui bom em exatas. Subestimei o aviso. Fui para a prova confiante.

Tirei 3,0. A pior nota da minha vida estudantil!

Daquelas que você tem vergonha de contar. Pior: era uma das maiores da turma. Um massacre sangrento e coletivo. Todos rindo de nervoso e o professor dizendo: “essas foram as melhores.” Ali caiu a ficha. Aquela nota humilhante me ensinou de verdade, mas o pior que não tinha nem a quem pedir socorro!!

Despertei. Estudei como nunca. Resolvi dezenas de listas. Dormia pouco, com minha filha de poucos meses destruindo minhas calculadoras 🤣🤣, e apesar do estrago, guardo essa cena com muito carinho em minha memória!

Esse esforço virou prioridade. E deu resultado: na segunda prova, tirei 9,5. A maior entre quase 100 alunos de Engenharia. Uma nota inesquecível — mas sem arrogância pois eu agora sabia de onde ela vinha.

Mais tarde, tranquei o curso. Não por desistência, mas por perceber que Engenharia Industrial Mecânica não era meu caminho. Fui para Engenharia de Alimentos, em Pinhal — e de novo entrei com bolsa por ser o primeiro colocado, com 1 ano de 50% de desconto. Mas entrei diferente: mais maduro, consciente, grato e, acima de tudo, humilde.

Não foi a 9,5 que me transformou. Foi o 3,0. Ela expôs minha soberba, mostrou meus limites. O talento que me trouxe até ali já não bastava. Essa história nunca saiu da minha cabeça. O 3,0 virou minha régua. Sempre que acho que sei o suficiente, lembro daquele tombo. Porque não há nada mais perigoso do que subestimar um desafio confiando em vitórias passadas. A vida cobra — e não parcela.

“Quem vence sem esforço, triunfa sem glória.” – Pierre Corneille
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886# A Fábrica não está no Power Point — 02/06/25

Texto autoral RXO
A Fábrica não está no Power Point — RXO

Há um padrão que se repete em ciclos cada vez mais curtos na indústria brasileira — e, por que não dizer, no mundo corporativo como um todo: a crença patológica em soluções fáceis para problemas difíceis. Trata-se de uma doença organizacional sutil, sorridente, muito bem-vestida, que se apresenta nas salas de reunião com PowerPoints impecáveis, relatórios bem formatados e indicadores verdes. Mas o que ela esconde, sob sua aura de sucesso, é justamente aquilo que mais custa caro a uma empresa: a verdade.

Porque a verdade, ao contrário dos indicadores “mágicos”, exige enfrentamento, tempo, investimento, conflito, humildade, derrotas, vitórias e paciência. A verdade é como a manutenção de um equipamento crítico: se for feita às pressas, com promessas de milagre e cortes de caminho, o resultado final será o agravamento silencioso do problema.

Manutenções fora da realidade

Aqui está o primeiro exemplo. Se um fabricante sério informa que a troca do rotor de uma centrífuga leva 8 horas, qualquer proposta de execução em 4 deveria acender todos os alarmes de risco possíveis. A analogia é simples, e brutalmente eficaz: ninguém nasce em 4 meses. Nem com reza. Nem com dinheiro. Nem com pressão da diretoria. Um bebê leva em média 9 meses para se formar — e uma manutenção crítica também tem seu tempo técnico. Reduzir isso sem repensar o projeto é condenar o sistema à reincidência da falha, ao acidente e, mais grave, ao colapso da credibilidade operacional.

A maquiagem dos perigos

Mas a síndrome do “dá pra reduzir” não para aí. Ela contamina também a área de segurança alimentar. Certa vez, quiseram vender uma técnica milagrosa para “eliminar micotoxinas” em grãos de milho contaminados com o uso de um produto que continha em sua milagrosa formulação um peróxido. A redução era brusca no teor de micotoxinas — prometeram. O problema é que o que se reduzia não era a toxina. Era a capacidade de detecção do reagente. A toxina seguia viva, ativa, e pronta para adoecer quem consumisse aquele milho. O que se vendia, na prática, era uma maquiagem laboratorial. Um milagre químico que só funcionava nos laudos, e nesse caso específico, a "sorte" que eu conhecia o processo de análise e o quão difícil é eliminar isso em um grão já contaminado.

A fé na "química do milagre"

E se o laudo sorri, a diretoria bate palma. Porque muitos, infelizmente, não conhecem a fundo os fundamentos bioquímicos do processo, e a farsa passa. E se instala. Essa crença no “atalho funcional” é sedutora porque ela gera números rápidos. E, em uma cultura onde o PowerPoint vale mais que a planta, onde o número da semana vale mais que o histórico da empresa, onde o gráfico manda mais que o operador, o atalho vira política. E quem se opõe, vira problema.

O risco do impossível

O mesmo vale para reações químicas e enzimáticas. A maioria delas está bem definida desde o século XIX. Suas velocidades, temperaturas, catalisadores, interações e todas suas cinéticas são resultado de décadas de estudo e validação. E mesmo assim, volta e meia aparece alguém vendendo a “otimização mágica”, prometendo reduções de 20-30% no tempo de reação — sem mudar processo, sem mudar equipamento, sem mudar nada. Aí vem o resultado: produto fora da especificação, geração de resíduos acima do padrão, aumento de retrabalho, redução de vida útil, queda de performance e, claro, cliente reclamando. Mas o tempo de reação caiu. A meta foi batida. E o PowerPoint foi apresentado com louvor.

O teatro da segurança

A lógica do milagre se espalha por todas as áreas, inclusive onde ela deveria ser mais combatida: segurança e qualidade. “Zero acidente” virou KPI de destaque em qualquer planta. E é um objetivo legítimo — desde que CONSTRUÍDO. Mas quando esse número surge repentinamente, sem plano, sem cultura, sem investimento, sem ação estruturante, sem mudança cultural, o que temos é, no mínimo, um indicador suspeito. Já vi com meus próprios olhos fábricas em que funcionários trabalhavam com braço ou perna quebrada, escondendo a condição para “não estragar o número”. Pessoas que saíam em silêncio da empresa sem dizer ao gestor que tinha se acidentado. Isso não é segurança. Isso é insanidade gerencial. É culto ao número.

A fábrica que zera milagrosamente

O mesmo vale para “zero não conforme”. Um processo que sempre gerou NC em uma taxa de 2% a 3% não zera da noite para o dia, a menos que haja mudança radical em matéria-prima, especificação, método ou controle. Quando esse número zera “de forma espontânea”, sem que nada no processo tenha mudado, o que houve não foi uma melhoria. Foi um enterro. Enterro da verdade, da rastreabilidade, da credibilidade. O que vemos nesse cenário são amostras batizadas, cálculos alterados, um fator de correção tirado de "não sei de onde", desvios escondidos no armazém ou simplesmente não registrados. Essa é a fraude elegante.

O vendedor que silencia a verdade

E se o cliente reclama? Ora, é só não registrar a RNC. Esse é outro truque clássico do “gestor dos números”. O vendedor, ao invés de formalizar a não conformidade, resolve informalmente com o cliente, troca o lote, promete melhorias futuras... e o desvio não entra no sistema. Com isso, a estatística interna mostra que as reclamações estão caindo, ou até zeradas, mesmo que haja devoluções — e o problema está se agravando. O ovo do dragão está sendo incubado. E quando chocar, virá mais agressivo, mais letal, e mais caro. Mas o gráfico da semana passada estará verdinho e bonitinho como o Chefe gosta.

A engenharia do milagre estatístico

OEE acima de 90%, yield com performance teórica perfeita, consumo específico de matéria-prima igual à estequiometria... esses são os milagres preferidos da gestão superficial. São indicadores bonitos, fáceis de apresentar, difíceis de auditar. Mas há sempre um “detalhe” escondido. O gestor “esperto” reduz a capacidade nominal da planta e mantém o ritmo de produção — OEE mágico. O yield é ajustado para cima porque a massa de entrada é subdimensionada. O consumo específico beira o impossível porque a planilha é otimista — e o Excel aceita qualquer delírio.

Quando a cultura mata o processo

O mais grave é que isso não acontece apenas por má fé. Muitas vezes, é a própria cultura organizacional que promove esse comportamento. Porque ela premia o número, não o processo. Ela celebra a meta, não o método. Ela recompensa quem entrega, mesmo que maquiado — e pune quem denuncia a maquiagem. O líder que questiona, que pede auditoria, que exige comprovação, acaba taxado de “desalinhado”. Enquanto isso, o gestor da farsa recebe promoção. E mais orçamento.

Os custos invisíveis do milagre

Essas práticas não são exceção. Em muitos setores, são regra silenciosa. E o preço não aparece no mês. Ele vem em forma de recall, de auditoria com não conformidade grave, de cliente perdido, de operador acidentado, de equipamento quebrado em condição crítica. Ele vem na forma de margem corroída, de reputação comprometida, de acionista desconfiado. E quando chega, cobra caro.

Gestão ou encenação?

E aqui está a verdade incômoda: se você precisa de números bonitos para justificar sua existência como gestor, você não é gestor. É contador de histórias. É cenógrafo. Um artista de planilha. Um fazedor de gráficos. E a empresa que tolera isso está abrindo mão do seu maior ativo: a confiabilidade.

A escolha que define o legado

Soluções reais exigem enfrentamento real. Enfrentar problemas técnicos com disciplina, com análise de causa raiz, com controle de variáveis, com dados auditáveis. Enfrentar problemas de processo com plano de ação, melhoria contínua, reengenharia de etapas, automação consciente. Enfrentar problemas humanos com treinamento, cultura de verdade, comunicação transparente, incentivo ao erro relatado — e não ao erro escondido.

Não existe resultado sustentável sem processo confiável. E não existe liderança legítima onde o número vale mais do que o fato.

Conclusão final: Você já viu algum desses exemplos acontecer. Em alguma planta. Em algum relatório. Em algum dashboard. Talvez esteja vendo agora. A escolha é sua: aceitar o número ou entender o processo. Celebrar o milagre ou enfrentar o problema. Fingir gestão ou construir resultado.

Porque no fim do dia, o PowerPoint fecha a reunião — mas é o caixa que fecha a empresa.

Cinco Frases Para Refletir

“A verdade não é democrática. Ela continua sendo verdade mesmo quando ninguém a defende.” — Nassim Taleb
“As métricas são boas servas, mas péssimas senhoras.” — Jim Collins
“Você não gerencia o que não entende. E não entende o que tem medo de confrontar.” — Ricardo Semler
“Qualidade significa fazer certo quando ninguém está olhando.” — Henry Ford
“Quando os números são tudo que importa, a mentira vira método.” — Osvandré Lech
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887# Cultura Implosiva — 11/06/25

Texto autoral RXO
Cultura Implosiva — RXO

Assisti o excelente e triste documentário "Titan: The OceanGate Disaster" da Netlix, sobre uma tragédia narrada como um drama técnico. Mas o que realmente emerge ali é um fracasso institucional, silencioso e progressivo. Um colapso de governança, mascarado de ousadia. E como toda implosão, começa por dentro. Stockton Rush, CEO e arquiteto da OceanGate, virou símbolo de um tipo de liderança que aplaude a inovação — mas censura o cuidado.

A empresa promoveu uma cultura em que a dúvida era indesejada e a crítica, punida. Engenheiros alertaram. Especialistas recomendaram testes mais rigorosos. Mas a resposta não foi revisão — foi silêncio. Em vez de corrigir falhas, aceleraram prazos. Em vez de fortalecer a engenharia, reforçaram o marketing. Não por falta de dados, mas por excesso de ego.

Não é a primeira vez que o carisma de um fundador encobre a fragilidade do projeto. Mas no caso da OceanGate, o resultado foi definitivo. Ali, liderança virou obstáculo. A governança se dissolveu diante do culto à personalidade. A inovação perdeu o senso de limite e virou imprudência com verniz técnico.

Em contextos como esse, o problema nunca é só técnico. Es cultural. Não é sobre o casco de carbono — é sobre o ambiente que permitiu que esse casco fosse aprovado, mesmo diante de sinais evidentes de falha. E mais do que isso: é sobre a estrutura que tratou os alertas como ameaças, e não como salvaguardas.

Repare como esse padrão se repete. Startups que ignoram compliance em nome da “agilidade”. Equipes que suprimem dissidência para manter a “visão original”. Conselhos que têm medo de contrariar um CEO carismático. O resultado, em todos os casos, é o mesmo: empresas que parecem inovadoras até o momento em que desmoronam sob o peso das decisões que poderiam ter sido evitadas.

É por isso que episódios como o da OceanGate deveriam ser debatidos em conselhos, em MBAs e, principalmente, em salas de reunião. Não como sensacionalismo — mas como alerta sobre o que acontece quando uma empresa começa a confundir liderança com infalibilidade. Toda organização tem seus riscos. A diferença está em como ela reage ao primeiro “estalo” que surge no casco — ignora, ou investiga?

Empresas não implodem por falhas externas. Implodem porque normalizaram comportamentos que corroem sua estrutura interna. Toda cultura que premia o discurso e desdenha do dado técnico, mais cedo ou mais tarde, vai colapsar. E aí, não adianta retrospectiva nem parecer jurídico.

Porque o que realmente afunda uma empresa não é o acidente. É o ambiente que o tornou inevitável.

"Se insistimos em focalizar o que não queremos, teremos mais disso." – Anthony Robbins
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888# Autonomia pode matar — 11/07/25

Texto autoral RXO
Autonomia pode matar — RXO

Interlocks não são apenas sensores. São avisos técnicos de que o risco chegou — e que não se negocia com a física.

Antes de soar técnico, uma explicação simples: interlock é um sistema automático que impede ações quando condições de segurança não são atendidas. É aquele mecanismo que trava o micro-ondas se a porta estiver aberta. Que impede o carro automático de dar partida fora do “P”. Que corta o gás se a chama apagar. Que não deixa o portão fechar quando há algo no caminho. É a engenharia dizendo: “antes seguro do que tarde demais”.

Mas no chão de fábrica, onde o suor dialoga com a produtividade, a lógica muitas vezes se inverte. “Tiram nossa autonomia”, dizem. E tiram mesmo. Mas talvez devêssemos nos perguntar: autonomia para quê?

Em 2013, na Espanha, um trem Alvia descarrilou ao entrar em uma curva a mais do que o dobro da velocidade permitida. O resultado: 80 mortos. O motivo? Um telefonema. O maquinista se distraiu e freou tarde demais. Só 4 segundos antes do impacto. O vídeo está disponível, para quem tiver estômago: https://lnkd.in/eu_HxvPQ

O sistema que deveria impedir o erro havia sido desligado. O ERTMS — capaz de impor limites — não operava naquele trecho. Restava o ASFA Digital, que apenas alertava, mas não travava. Resultado? Um erro humano virou catástrofe.

Não é uma história sobre trens. É sobre cultura de engenharia.

Na indústria, ainda impera a ideia de que bons operadores substituem bons sistemas. É uma crença perigosa. Porque o erro não vem apenas do despreparo. Ele também vem do cansaço. Da distração. Da rotina que anestesia. Da vaidade operacional que prefere controle total a proteção coletiva. E o interlock está ali para conter isso tudo — mesmo quando é impopular.

Ninguém reclama do sensor do elevador quando está no décimo andar. Porque ali, o risco é evidente. Mas no chão de fábrica, o perigo se esconde atrás da rotina, da confiança, do “eu sei o que estou fazendo”. Até o dia em que falha. E quando falha, não há botão de retorno.

O problema nunca é o erro. É o sistema que permite o erro.

É por isso que interlocks existem. Para interromper a ação antes que ela interrompa uma vida. Para lembrar que, na engenharia, intenção não basta — é prevenção que salva.

Toda vez que um sistema permite override de um limite crítico, ele está dizendo: “confio mais em você do que nas leis da física”. Isso não é respeito. É imprudência institucionalizada.

A automação não elimina o humano. Ela protege o humano de si mesmo. O sistema bem projetado reconhece a falha antes que ela se torne tragédia. É código que não aceita desculpas. Algoritmo que diz “não”. Sensor que freia antes do abismo.

Mas por que ainda resistimos a esses freios? Porque confundimos autonomia com liberdade irrestrita. E esquecemos que, na indústria, liberdade sem limite vira sinistro.

O acidente em Santiago de Compostela não foi causado por imperícia. Foi causado por excesso de confiança em bons operadores — e ausência de um sistema que dissesse “não importa quem esteja no comando, esta curva é feita a 80 km/h”.

Autonomia é valiosa — até virar armadilha.

No chão de fábrica, a cultura da segurança precisa ser mais forte que a cultura da confiança. O operador pode ser o melhor. O mais experiente. O mais responsável. Mas basta um dia ruim. Um segundo de distração. Um fator externo que desvie sua atenção. E se o sistema permitir, o erro se instala — com todos os seus efeitos.

O custo de um interlock impopular é pequeno. O custo de não tê-lo é incalculável. Em vidas. Em reputação. Em perdas que nenhuma indenização cobre.

A pergunta que precisa ser feita não é “qual o custo de colocar um interlock?”. Mas sim: “qual o custo de não tê-lo quando ele for necessário?”

Sistemas críticos devem prever falhas. Porque elas virão. A única dúvida é quando, onde e com que impacto.

Autonomia termina onde começa o risco coletivo.

Essa frase deveria estar afixada em toda sala de controle, em toda sala de projeto, em todo comitê de segurança. Porque não é apenas sobre responsabilidade. É sobre engenharia ética. Sobre lideranças que têm coragem de dizer “não”. Sobre gestores que entendem que proteção é mais nobre que popularidade.

Enquanto muitos defendem a liberdade operacional, esquecem que o maior ato de liberdade é voltar pra casa no fim do turno.

O sistema que se orgulha de ser “flexível” demais um dia se tornará manchete. E a manchete nunca vem com parabéns.

No final, o que separa o risco da tragédia é um detalhe técnico. Um sensor. Um código. Um travamento. Um interlock. Algo pequeno — mas decisivo.

A questão que fica é: sua planta já entendeu isso ou só vai descobrir tarde demais?

Cinco frases inspiradoras:

1. “É nos momentos de decisão que o seu destino é traçado.” – Anthony Robbins
2. “A segurança não é um produto; é um processo contínuo.” – Bruce Schneier
3. “A falha de um único elo pode comprometer toda a corrente.” – Leonardo da Vinci
4. “O erro mais perigoso é aquele que o sistema permite repetir.” – James Reason
5. “O preço da liberdade é a eterna vigilância.” – Thomas Jefferson
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889# Que se Fonda — 10/12/23

Texto autoral RXO
Que se Fonda — RXO

Jane Fonda foi o destaque no Festival de Cannes com suas declarações sobre como resolver as mudanças climáticas (link).

Não vou perder tempo analisando o que ela disse. Apenas vou me ater ao suposto estilo de vida da octogenária J. Fonda e comparar com o resto do planeta para ver o quanto ela vem colaborando para "c*gar regras" daquilo que devemos fazer.

Tem um site muito interessante que mede a tal "Pegada de Carbono": https://lnkd.in/e34J39wX. Para isso, há algumas informações necessárias que se deve disponibilizar para que seja estimado:

1 - Com que frequência come produtos de origem animal?
2 - Dos alimentos que consome, qual a % do que é não processada, não embalada ou cultivada localmente?
3 - Que tipo de habitação você tem?
4 - Qual material de construção?
5 - Quantas pessoas residem nessa casa?
6 - Qual o tamanho da casa em m²?
7 - Tem Energia Elétrica em sua casa?
8 - Sua casa é energeticamente eficiente?
9 - Qual % de energia renovável sua casa utiliza?
10 - Quanto de resíduo gera em comparação com o resto do mundo?
11 - Quantos km percorre de automóvel por semana?
12 - Qual a média de litros por 100 km dos veículos que usa?
13 - Compartilha viagem com qual frequência?
14 - Qual a distância que percorre em transporte público?
15 - Quantas horas viaja de avião por ano?

Fiz uma simulação para o Zé ("eco" pobre) e para Jane Fonda ("ecochata") :

Zé:
CO2 = 1,1 t/ano (25% da média mundial)

Jane Fonda:
CO2 = 36,7 t/ano (9 x a média mundial)

J. Fonda é vegana convicta e o Zé só consegue comer abóbora (picanha é metafórica para o Zé). Ao contrário do Zé, que vive em um barraco de barro (bioconstrução segundo Guilherme Boulos), J. Fonda vive em uma mansão de 20 MUSD. Fonda usufrui de energia elétrica renovável e muito eficiente, já o Zé, como um ser fotossintético, só tem o sol que usa para iluminar seu barraco, e para sua deliciosa abóbora ele não usa gás, mas um bocado de lenha como "Nhá Maria". J. Fonda, como todo norte americano, gera resíduos mais do que qualquer cidadão do resto do mundo, e Zé apenas os coleta para fazer um dinheirinho. J. Fonda usa pouco seu Tesla, e Zé só anda a pé. J. Fonda nunca usou transporte público. Zé não usa porque para ele é muito caro e ineficiente. Viagem de avião? Fonda já perdeu as contas de quantas horas já viajou esse ano, já o Zé nunca viu um avião de perto.

Segundo Jane Fonda, temos 8 anos p/ reduzir em 50% o uso de combustível fóssil no planeta se ainda quisermos salvá-lo. Ela, logicamente, tirou esse número do "fiofó", o mesmo "fiofó" de onde saiu a ideia de prender homens brancos para reduzir as mudanças climáticas.

E o Zé que você acha que é hipotético, existem aos milhares e estão se lascando em vários lugares do mundo, desejando pelo menos dobrar sua pegada de carbono para ter uma vida minimamente decente com sua família, mas Jane Fonda não vai permitir isso porque ele é homem, branco e tem que ser preso se quisermos salvar o planeta!

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890# Como destruir a Noruega — 30/06/25

Texto autoral RXO
Paisagem norueguesa — RXO

Não estou falando da Rússia invadindo a Noruega, que é um temor para os nórdicos. Estou falando de algo mais "eficiente": o modelo Brasil de gestão estatal. A Noruega seria um bom teste. Um país que, por décadas, construiu estabilidade sobre um tripé de gestão, eficiência e pacto social adotando "nosso modelo democrático e inclusivo”.

1) Expanda o funcionalismo. Crie cargos. Estabilize a ineficiência. Faça com que a máquina sirva mais a si mesma do que à sociedade. No Brasil, essa estrutura consome 13% do PIB. Na Noruega, isso soaria como piada com seus 7% atuais — mas uma piada que custa caro e é muito sem graça.

2) Aumente a dependência estatal. Substitua protagonismo por assistencialismo. No Brasil, 76% da população depende diretamente do governo. Na Noruega, esse número ainda é 56%. Mas e se aumentasse? Se 4,2 milhões dos 5,5 milhões de noruegueses passassem a viver de transferências? A conta quebraria. O país também.

3) Sufoque quem produz. No Brasil, menos de 24% da população gera riqueza líquida real. Ou seja: trabalha, paga impostos e sustenta a estrutura. O restante depende — ou parasita. A Noruega, com um PIB de US$ 511 bilhões e uma população de 5,5 milhões, só funciona porque a equação entre contribuição e benefício ainda é lógica. Se aplicar o modelo brasileiro, cada empresa teria que gerar, em média, US$ 320 mil anuais só para fechar o buraco fiscal. Isso não é desenvolvimento — é um convite ao colapso.

4) Esvazie o fundo soberano. Transforme poupança em subsídio. Hoje, a Noruega tem o maior fundo soberano "per capita" do mundo — mais de US$ 1,7 trilhão (320 kUSD/pessoa). Serve como colchão contra choques e motor para investimentos estratégicos. No Brasil, o fundo é o do poço. A realidade é dívida: 76% do PIB comprometido, sem perspectiva de redução. Se a Noruega seguir esse roteiro, em menos de 20 anos o fundo desaparece. E leva junto a confiança institucional.

5) Romantize o caos. Viste o fracasso com palavras bonitas. Chame intervencionismo de “proteção”. Chame ineficiência de “modelo social”. Venda a falência como justiça. É isso que muitos ainda tentam importar para países sérios: um receituário falido embalado como solução mágica.

O modelo nórdico só funciona porque há ordem, contribuição mútua e gestão racional. Transplantar a fórmula brasileira é como plantar ervas daninhas em um campo fértil: no começo parece apenas um detalhe irrelevante, mas logo as raízes sufocam tudo o que sustenta a colheita.

“A ambição universal do homem é colher o que nunca plantou.” — Adam Smith
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891# Como se tornar um Tirano - Netflix — 04/04/24

Texto autoral RXO
Documentário sobre tirania — RXO

"Como se Tornar um Tirano", um documentário disponível na Netflix, mergulha profundamente na trajetória de detestáveis, mas notáveis, líderes autoritários do Século XX revelando que, apesar das diferenças contextuais, todos compartilham uma combinação de ambição desmedida, habilidade de manipulação, uso estratégico do medo e repressão para consolidar e manter o poder. Outro ponto em comum, é que esse tipo de figura sempre emerge em tempos de crises insolúveis, o que acaba catalisando sua escalada ao poder.

Nesse documentário, são examinadas figuras famosas, como: Adolf Hitler, Saddam Hussein, Idi Amin, Joseph Stalin, Muammar Gaddafi, Kim Jong-il e Benito Mussolini — não apenas por suas histórias únicas mas também por suas tendências autoritárias comuns. Eles se destacam por sua capacidade de transformar o ESTADO (sempre ele) em um instrumento de poder pessoal, empregando um culto à personalidade e controle totalitário para suprimir qualquer oposição.

Ao interligar as narrativas históricas com análises teóricas, como a teoria dos jogos, "Como se Tornar um Tirano" destaca os padrões comportamentais e estratégias que definem a tirania. Estes líderes compartilham uma prática de centralização do poder, eliminação de rivais e manipulação da opinião pública para legitimar e prolongar seus governos.

A série não só educa mas também oferece uma compreensão das motivações e dinâmicas que levam ao poder autoritário, tornando-se uma exploração envolvente das complexidades que cercam a ascensão e manutenção do poder tirânico.

O que me assusta, é que olhando alguns líderes da atualidade há semelhanças assustadoras, seja pelo caráter ou pela conjuntura em que estão inseridos. Apenas o tempo irá provar algo, mas olhem com atenção para Bukele, Milei, Maduro, Bolsonaro, Lula, Trump, Macron, Zelensky, Netanyahu, Putin, Trudeau e façam um paralelo... e também irão assustar!

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892# Tira esse "Bicho" daí pelo Amor de Deus!! — 23/05/24

Texto autoral RXO
Trânsito e carro — RXO

O automóvel, sonho de muitos adolescentes e jovens adultos, vem transformando o mundo desde o século XIX. Com uma frota estimada em 1,6 bilhões de veículos, os carros são a segunda maior causa de mortes no mundo, atrás apenas dos diversos tipos de câncer. Com 1,2 milhões de mortes/ano, essa tragédia não dá sinais de redução, mesmo com o avanço da tecnologia, melhores estradas, carros quase autônomos, airbags, ABS, câmeras e sanções mais rigorosas aos motoristas. Mas por que isso ainda acontece com tanta frequência?

A resposta é complexa, mas há algumas causas potenciais. Na minha opinião, um primata recém-saído das savanas, que inventou uma caixa de aço com rodas e um potente propulsor capaz de acelerar a 200 km/h — algo que pesa mais de 1.000 kg — não evoluiu na mesma velocidade para comandar isso tudo.

Acredito em dois caminhos para reduzir essas ocorrências. O primeiro é que somente a EDUCAÇÃO pode reduzir esses acidentes. Graças a Deus, nunca sofri ou provoquei um acidente de trânsito em 25 anos de habilitação. Já passei por alguns sustos, mas o final sempre foi feliz. E todas as vezes em que tomei ou provoquei esses sustos, foi por imprudência, inabilidade, desatenção, negligência, ou sendo mais "RXO" na resposta, por BURRICE mesmo. Por isso, digo que a educação é uma das formas de reduzir essas ocorrências.

Sempre que abordo esse tema, falo como me conscientizei disso usando lógica matemática e "filosofia de bar". Uso um exemplo muito simples, mas bastante direto:

Todos os sábados, entre 2018 e 2020, eu fazia um curso de pós-graduação na Unicamp. Morando em Mogi Guaçu, eu levava 50 minutos para percorrer os 60 km entre minha casa e a universidade, ou seja, a velocidade média nesse trajeto era de 70 km/h, sendo 100 km/h na rodovia (limite de 110 km/h) e 10 km/h dentro de Mogi Guaçu e Barão Geraldo. Mas e se eu acelerasse meu carro na rodovia para 150 km/h? Minha média subiria para 103 km/h e eu chegaria à universidade 17 minutos mais cedo.

Mas aí vem a pergunta: o que eu vou fazer com esses 17 minutos chegando mais cedo? A resposta é simples: PORRA NENHUMA! Arrisquei minha vida, a vida de um monte de gente no trajeto, "fodi" com meu carro e gastei mais combustível por míseros 17 minutos... Esse primata é ou não é um ser estúpido? Sim, é estúpido, e por isso afirmo que a educação reduz essa ocorrência, pois é só pensar por 10 segundos que você não faz besteira.

Quanto ao segundo caminho, esse sim resolve definitivamente a questão das mortes no trânsito: PROIBIR esse primata de comandar essa máquina de mais de 1 t, pois só assim não teremos mais acidentes com mortes causadas por esse "bicho".

E acredito piamente que, no dia em que as IAs tomarem o comando dos veículos, teremos paz... e o que nos restará, caso nossa geração ainda participe disso, será contar para nossos netos que fomos malucos o bastante para dirigir essa máquina, que um dia já matou muita gente nesse planeta.

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893# Perguntar ñ ofende — 03/03/25

Texto autoral RXO
Pessoa refletindo com livro — RXO

Vivemos em um mundo acelerado, onde a rotina nos consome sem que percebamos. Acordamos, trabalhamos, corremos atrás de conquistas, pagamos contas e, quando nos damos conta, os anos passaram num piscar de olhos. No meio de tudo isso, raramente paramos para refletir: por que fazemos o que fazemos?

No livro Comece pelo Porquê, Simon Sinek explica que as pessoas e organizações mais inspiradoras não começam definindo o que fazem ou como fazem, mas sim por que fazem. Ele defende que o verdadeiro impacto vem da clareza de propósito, algo que nos move de dentro para fora. E essa lógica não se aplica apenas aos negócios, mas à vida como um todo.

Muitas pessoas seguem um caminho pré-definido, quase no piloto automático: estudam, buscam uma carreira, conquistam estabilidade e entram num ciclo aparentemente natural. Mas será que essa jornada faz sentido para cada um de nós? Quando ignoramos nosso propósito, a vida pode se tornar apenas uma sucessão de eventos desconectados, sem um significado real.

Sinek também apresenta um conceito chamado Círculo Dourado, baseado em três níveis:

  • Porquê – a razão pela qual existimos e fazemos o que fazemos;
  • Como – os meios que utilizamos para alcançar nosso propósito;
  • O quê – as atividades que realizamos no dia a dia.

O problema é que a maioria das pessoas começa pelo o quê, escolhendo uma profissão, definindo metas financeiras, decidindo onde quer morar – mas sem antes refletir sobre o motivo real por trás dessas escolhas.

A ciência também reforça a importância do propósito. Nosso cérebro não toma decisões apenas com base na lógica – somos guiados, em grande parte, pelo sistema límbico, responsável pelas emoções e pelo sentimento de pertencimento. Quando encontramos um motivo profundo para agir, tudo passa a fazer mais sentido e nossas ações fluem de forma natural.

Agora, pense nas pessoas mais felizes que você conhece. Elas não são necessariamente as mais ricas ou as mais reconhecidas socialmente. O que as diferencia é que vivem com significado. Elas não precisam de grandes fortunas para sentir que suas vidas valem a pena, porque sabem exatamente por que fazem o que fazem. Essa é a grande diferença entre quem apenas existe e quem realmente vive.

Muita gente se deixa levar por motivações externas – dinheiro, status, validação dos outros. Mas essas coisas trazem apenas uma satisfação passageira. Uma empresa que aposta apenas em promoções para atrair clientes pode até vender bem no curto prazo, mas não constrói lealdade genuína. Da mesma forma, uma vida baseada só em recompensas externas acaba se tornando vazia e insatisfatória.

Para descobrir o seu porquê, é preciso embarcar em uma jornada de autoconhecimento. Perguntas simples podem trazer respostas poderosas:

  • Quais momentos da sua vida te fizeram sentir mais vivo?
  • O que você faria todos os dias, mesmo sem ser pago para isso?
  • Como você quer ser lembrado?

Quando encontramos nosso propósito, vivemos de forma diferente. Nossas decisões se tornam mais autênticas, escolhemos trabalhos que fazem sentido, nos cercamos de pessoas alinhadas com nossos valores e construímos um legado que vai além do material. Ter clareza sobre por que fazemos o que fazemos nos dá direção e consistência.

A vida não precisa ser apenas uma sequência de acontecimentos. Quando partimos do porquê, encontramos sentido em cada dia, em cada escolha e em cada desafio. Afinal, viver de verdade não é apenas seguir o fluxo – é ter um propósito claro e agir de acordo com ele.

Citações Inspiradoras

  • “O propósito da vida é encontrar o maior dom que você tem. O significado da vida é compartilhar esse dom com o mundo.” – Pablo Picasso
  • “Não viva para impressionar, viva para inspirar.” – Anônimo
  • “A verdadeira felicidade não está em ter tudo, mas em encontrar sentido em tudo o que temos.” – Epicteto
  • “Propósito é a diferença entre viver e apenas existir.” – Anônimo
  • “As pessoas podem esquecer o que você fez, mas jamais esquecerão como você as fez sentir.” – Maya Angelou
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894# Moeda Podre derrubou um Império — 28/10/25

Texto autoral RXO
Moedas antigas e denário — RXO

A história é feita de conquistas, e claro, também de perdas. E estas, em geral, surgem após o acúmulo de boletos e a decisão de ignorá-los.

Quem conhece um pouco de história já ouviu sobre a queda do Império Romano. Muitos culpam o gigantismo do império, as invasões bárbaras e até o Cristianismo. Mas o que realmente derrubou Roma foi o colapso econômico — resultado direto da desvalorização de sua tão valiosa e respeitada moeda: Denário de Prata.

A tentação é conhecida, especialmente para nós latinos: se faltar dinheiro, imprime-se mais. Mas, quando o valor depende da confiança, imprimir moeda é queima de reputação. O denário, antes com 95% de prata, virou uma mistura de metais baratos com selo imperial. Parecia dinheiro, mas era só peso. E, como todo engano em larga escala, o impacto foi devastador.

Com exército caro, generais premiados, elite exigente, povo viciado em "Pão e Circo" e milhares de escravos, Roma tornou-se um fardo fiscal. Subir impostos era impopular em uma arrecadação que não cobria os gastos. Os imperadores, então, reduziram a prata das moedas, colocando cobre. De 95% para 90%, funcionou no curto prazo. Mas a tentação cresceu, e tiraram cada vez mais prata, até que...

O Império inundou a economia com moeda sem valor. Sem elevar impostos, taxou por meio da inflação — o velho truque de “roubar sem roubar”: você não tira o dinheiro, apenas reduz seu valor, diluindo com metal ou somando zeros.

O povo demorou a notar, mas o mercado não. Os mais atentos guardavam as moedas antigas valiosas e repassavam as novas "podres". Como sempre, a moeda ruim expulsou a boa. O comércio esfriou, os preços subiram, e a confiança evaporou — assim como a capacidade de Roma de manter sua máquina pública.

Veio o contra-ataque da elite: congelar preços, salários e criminalizar estoques. Decretaram até pena de morte a quem desobedecesse. Mas a economia, como a gravidade, não respeita decretos. O desabastecimento veio, a informalidade explodiu, e o colapso fiscal virou institucional. Roma não foi invadida — foi abandonada. Ninguém luta por um império falido, muito menos quem pode fugir.

Os paralelos com o presente são claros. A tentação de fabricar crescimento imprimindo moeda é enorme. A desculpa vem vestida de “estímulo”, “resgate”, “inclusão”, “auxílio social” e outras promessas populistas, como vimos na pandemia. Mas o roteiro se repete: moeda sem lastro, gasto sem limite...

O colapso romano não foi acidente. Foi um projeto vendido como solução, mas disfarçado de desastre. Os governantes sabiam dos riscos, mas evitaram o custo político de cortar gastos. Preferiram imprimir a diferença. No fim, tudo desmorona: a falência do "Império". Toda falência estatal começa assim — com um governante bem-intencionado tentando tapar buracos com moeda podre.

“Eu quero que vocês saibam que eu já fui, quando eu trabalhava na Villares, eu cheguei a pegar inflação de 80% ao mês. Não era 7% ou 5% ao ano.” — Painho
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895# Eram os Deuses Astronautas? — 25/07/25

Texto autoral RXO
Capa do livro Eram os Deuses Astronautas? — RXO

São Miguel Paulista. Biblioteca da zona leste. Eu com meus doze anos. Nenhuma obrigação escolar. Só uma capa estranha com um título melhor ainda: Eram os Deuses Astronautas?. Peguei. Sentei. Li. Sozinho. E saí de lá com uma dúvida que ninguém na escola respondia: por que a história tem medo de perguntas?

Erich von Däniken não é escritor. É encrenqueiro. Mexeu num vespeiro que até hoje cospe fogo. Disse, com todas as letras, que talvez os grandes feitos da humanidade antiga não sejam... da humanidade. Pelo menos, não só dela.

Sim, ele fala de ETs. Mas não do tipo hollywoodiano. Ele propõe outra coisa: e se os “deuses” descritos por maias, egípcios, hindus e hebreus fossem apenas o que conseguiram entender de viajantes interplanetários?

Mas o mais sagaz não é isso. É a sacada sobre tempo. Porque ali, pela primeira vez, me dei conta de que tempo não é igual pra todo mundo.

O tempo deles não é o nosso. E talvez seja esse o bug. Vamos lá. A física já provou que tempo é relativo. Um corpo em altíssima velocidade “vive” mais devagar. Isso é Einstein, não Däniken. E aí vem a bomba: e se os “deuses” que prometeram voltar não estão atrasados... só estão viajando rápido demais?

Você espera dois mil anos. Eles passaram duas semanas. O tempo deles é outro. O relógio deles não conversa com o nosso. E isso muda tudo.

Porque talvez o tal Quetzalcoatl esteja voltando agora, do ponto de vista dele. Talvez Osíris nem tenha saído direito. Talvez Jesus tenha feito só uma conexão técnica. O que parece "abandono divino" pode ser só... jet lag cósmico.

Pirâmides, vimanas, escudos flamejantes. Todo mundo viu o mesmo — e entendeu como deu. Von Däniken aponta algo que a arqueologia até hoje não engole: por que tribos separadas por oceanos e milênios descrevem os mesmos tipos de entidades, com os mesmos movimentos, os mesmos ruídos, os mesmos efeitos?

Moais olhando pro céu. Pirâmides alinhadas com constelações. Desenhos de “naves” em cavernas. Textos hindus descrevendo combates aéreos em “carros voadores” que soltam fogo. Egípcios com painéis que parecem usinas. Babilônios desenhando “escudos voadores” como se fosse Star Wars versão argila.

E a resposta padrão dos especialistas? Alegoria. Sempre alegoria. Alegoria é a palavra que usam quando não têm coragem de dizer: não sei.

Você prefere qual versão? O mistério explicado por fé cega ou por tecnologia mal compreendida? Talvez a humanidade antiga fosse burra. Mas e se não? E se o erro for nosso, por tentar traduzir passado com gramática de agora? Däniken não diz que está certo. Ele só pergunta o que ninguém mais tem coragem de colocar em voz alta.

E a resposta da ciência? “É absurdo.” Ok. Mas explicar que escravos puxaram 2 toneladas de pedra na areia do deserto usando vara de madeira também não é lá muito razoável.

Religião se ofende. Ciência ignora. Mercado ri. Mas a dúvida ficou. Däniken diz que os “filhos de Deus” descritos em Gênesis 6 — os tais que se deitaram com as “filhas dos homens” — não eram metáfora nenhuma. Era relato. Brutal. Confuso. Mas honesto. Os caras viram algo. E escreveram com as palavras que tinham. “Filhos dos deuses”. “Luz”. “Fumaça”. “Barulho”. “Espada flamejante”.

Hoje, chamariam isso de tecnologia. Na época? Era milagre. Era mito. Era medo com capa de respeito. Esse livro não quer provar nada. Quer que você pare de aceitar tudo. Ler Eram os Deuses Astronautas? é ler o tipo de coisa que não serve pra responder — serve pra inquietar. É um chute na porta do “sempre foi assim”. E quando você tem 12 anos, isso é mais perigoso que qualquer videogame.

Hoje, adulto, com mais filtro e menos paciência pra viagem sem lastro, eu continuo achando que 80% do livro é exagero. Mas os outros 20%... esses ninguém explica direito. E é nesses 20% que mora a faísca.

Afinal, o que é mais arrogante: acreditar em ETs ou achar que somos os únicos seres inteligentes do universo? Recomendo o livro? Recomendo. Mas com aviso: não espere verdade. Espere desconforto. Não espere ciência. Espere dúvida bem plantada. Não é sobre acreditar. É sobre reaprender a olhar.

E se depois de ler tudo você achar tudo isso bobagem... Ótimo. O importante é que agora você duvidou.

Cinco Frases Fora do seu Tempo

  • “Você se torna aquilo que tolera.” — Osvandré Lech
  • “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento.” — Stephen Hawking
  • “A dúvida é o princípio da sabedoria.” — Aristóteles
  • “Entre fé cega e ciência muda, fico com a pergunta que grita.” — RXO
  • “A mente que se abre jamais volta ao tamanho original.” — Oliver W. Holmes
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896# Agora sou eu! — 21/09/25

Texto autoral RXO
Crianças jogando videogame em uma varanda — RXO

Em 2009, eu e alguns colegas de trabalho fizemos um churrasco numa chácara em Mogi Guaçu para fechar o ano e fortalecer amizade. Levamos os filhos: boa comida, piscina liberada e, claro, videogame. Levei o PS2 com PES porque quase todo mundo gostava, e logo começamos a peleja. Tinha craque na roda: o melhor, João Luiz, detonava geral. Aí chegou a vez do meu filho, Hugo, 8 anos, encarar o João. Para surpresa de todos, o Hugo ganhou com um golaço — um elástico e um chute forte do CR7 no finalzinho da partida. A varanda veio abaixo: brasileiro torce pelo mais fraco, e o “mais fraco” era meu pequeno. Só que o reinado durou uma partida: o próximo era Luiz Gustavo. Deu a lógica, ele venceu o Hugo de maneira até tranquila e ainda comemorou bastante.

Minha filha Lara, 10 anos, tinha acabado de sair da piscina e se enxugava enquanto assistia à partida do irmão. Antes de alguém pedir a vez, ela soltou: “agora sou eu”. Todo mundo olhou incrédulo para aquela menininha. Com muita calma, ela pegou o controle das mãos do irmão e configurou o Chelsea de Drogba e Petr Čech para enfrentar o poderoso Milan do Luiz Gustavo — time com Maldini, Pato, Dida, Cafu, Ibrahimović e, claro, Ronaldinho Gaúcho. Confiante, o Gustavo sorria, certo de ganhar fácil. Só que levou o primeiro gol nos primeiros segundos. Virou gritaria de mais de 15 marmanjos (eu incluso), parecia final de Copa. Isso abalou o Gustavo e deu confiança à Lara. Catucaram vuvuzela, buzina (até hoje não sei de onde saiu isso), tudo para incomodá-lo, e a torcida cresceu junto com o jogo.

Vendo a tensão, virei “técnico” da Lara e orientei: segurar o resultado. Obediente, ela fechou o time e começou a distribuir botinada pra todo lado — até hoje ele reclama de um pênalti no Ronaldinho. No final, o Gustavo empatou em 1x1, o que foi pior para ele: a agonia prolongou e engajou ainda mais a galera. Fomos para os pênaltis. Abalado psicologicamente, o Gustavo perdeu; a confiança da menina de 10 anos pesou do outro lado. Ela venceu, apertou a mão do derrotado e, com a inocência que desmonta, olhou para o irmão: “vamos para a piscina!”. O “Gustavão” virou piada (carinhosa) por anos, e essa história segue na memória de todos.

O recado é simples e útil para qualquer equipe: não subestime ninguém. O psicológico decide uma fatia enorme do resultado de curto e longo prazo. Gol cedo muda clima. Torcida interfere, mas foco filtra ruído. Plano simples e disciplina seguram vantagem. E respeito ao adversário vale mais do que provocação — porque confiança não é grito, é execução. Em time e gestão, faça o básico com pressa: dê vez para quem pede o controle, busque seu “1x0 emocional” com uma entrega pequena e certa no começo, proteja o foco quando a ansiedade tenta abrir tudo e lembre que favoritismo não ganha jogo sozinho. Qual foi o seu “agora sou eu” que virou a varanda a seu favor?

“Os obstáculos são essas coisas assustadoras que você vê quando desvia os olhos da sua meta.” — Henry Ford.
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897# Bitcoin a 1,5 MUSD... Será? — 21/01/24

Texto autoral RXO
Bitcoin a 1,5 milhão RXO

À medida que 2025 avança, a comunidade de criptomoedas volta suas atenções para o próximo halving do Bitcoin, um evento que historicamente tem sido um gatilho para aumentos substanciais em seu valor. Relembrando o halving de 2020, testemunhamos um impressionante aumento no valor do Bitcoin, de 6 kUSD para 65 kUSD em apenas 12 meses, e no último de 2024 ultrapassamos 100 kUSD, tendo picos de 125 kUSD. Esta tendência histórica fortalece as teorias otimistas sobre o potencial futuro do Bitcoin, com muitos analistas e investidores especulando sobre suas futuras avaliações.

Uma das previsões mais ousadas vem de Cathie Wood, uma investidora de renome baseada em Nova York. Em uma análise recente, que pode ser acessada em https://lnkd.in/enS8SyCq, ela projeta que o Bitcoin pode atingir o valor de 1,5 MUSD até 2030. Esta previsão leva em consideração os halvings de 2024 e 2028, e parte do ciclo de 2032.

Para entender a magnitude dessa projeção, é essencial contextualizar o papel atual do Bitcoin na economia global. Hoje, o Bitcoin representa pouco mais de 1% da economia mundial. Contudo, para que o Bitcoin alcance o valor estimado de 1,5 MUSD, seria necessário uma integração e adoção muito mais ampla na economia global. Considerando que, no halving de 2032, o Bitcoin possa atingir esse valor, com uma oferta circulante de aproximadamente 20,7 milhões de unidades, o valor de mercado total do Bitcoin seria estimado em torno de 31 trilhões de dólares.

O PIB mundial atual está em torno de 90 trilhões de dólares. Se projetarmos um crescimento que eleve esse número para 120 trilhões de dólares até 2032, o Bitcoin representaria aproximadamente 25% da economia global, um salto exponencial de sua participação atual. Este cenário colocaria o Bitcoin não apenas como um ativo de investimento, mas como uma entidade econômica de grande influência, potencialmente afetando mercados e políticas econômicas globais.

No entanto, é crucial considerar as variáveis e incertezas que cercam essa projeção. A volatilidade inerente do mercado de criptomoedas, possíveis regulamentações governamentais, e a adoção variável do Bitcoin em diferentes economias são aspectos fundamentais que podem afetar essa trajetória. Além disso, o cenário econômico mais amplo, incluindo inflação global, crises financeiras, desenvolvimentos tecnológicos, e a emergência de novas criptomoedas, pode influenciar significativamente a demanda e a viabilidade do Bitcoin como uma reserva de valor a longo prazo.

A natureza descentralizada do Bitcoin, uma das suas características mais notáveis, também apresenta desafios únicos, especialmente em termos de regulamentação e integração no sistema econômico global. A projeção de C. Wood serve não apenas para ilustrar o potencial de valorização do Bitcoin, mas também como um ponto de partida para discussões mais profundas sobre o papel das criptomoedas na economia global.

É no mínimo curioso!

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898# Parem de culpar a indústria! — 28/09/25

Texto autoral RXO
Achocolatado RXO

Vi um post no X de uma entidade “chocada” com a presença de óleo vegetal em um famoso achocolatado líquido, como se fosse um desvio moral súbito da indústria; o diagnóstico está torto.

O que degrada o produto é a estrutura que o Estado desenhou para o consumo, com uma carga que saltou de algo perto de 20% do PIB nos anos 80 para a casa dos 36% hoje. Quando o tributo morde forte e preferencialmente o ato de comprar, a etiqueta fica refém, o P&D vira planilha de contenção e a qualidade perde disputa com o preço. É economia real: tributos altos, renda apertada, concorrência de centavos. O resultado não aparece na gôndola em letras maiúsculas; aparece dentro da caixinha, onde cada ingrediente vira variável de defesa, não de excelência, e o “leite com cacau” vira algoritmo para caber no bolso.

A linha do tempo não é coincidência. Em 1982, esse mesmo achocolatado em lata tinha 350 ml e sabor de leite com chocolate de verdade; hoje a referência massiva é 200 ml e a dança acontece na fórmula. Sólidos de leite cedem a soro reconstituído, gordura láctea dá lugar a óleo vegetal, cacau encolhe e textura é “reconstruída” por hidrocoloides. O rótulo avisa “contém soro de leite”, mas o consumidor lê apressado e confia no mascote. Isso parece “opção da empresa” — e é — porém tomada dentro de um campo inclinado: o Estado tributa pesado o consumo e trata boa parte de alimentos processados como “doce supérfluo”, tornando o insumo nobre mais caro e a engenharia de custos mais tentadora. O copo pode parecer igual; o conteúdo já não é.

Conecte os incentivos. Se a empresa repassa imposto, a caixinha some do lanche de quem vive no limite (e lembre-se: somos um país pobre); se não repassa, a margem evapora. Com rivais vendendo “quase achocolatado” mais baratos, a saída inevitável é mexer por dentro: leite vira soro, cacau vira calda, creme vira óleo, textura vira goma. É inflação deslocada para a fórmula, calibrada para parecer a mesma coisa. A lógica não nasce na fábrica, nasce no desenho tributário: quando a regra pune o ingrediente bom, o mercado recompensa quem “ajusta” a mistura. O Estado, na prática, coformula o que seu filho toma; a indústria apenas lê o quadro e joga para sobreviver.

Conclusão sem adorno: culpar “a indústria” em abstrato é confortável, mas ingênuo. A decisão de qualidade começa na política econômica. Enquanto a carga sobre consumo flertar com 35–36% e a renda real patinar, insistiremos em trocar cacau por calda e leite por soro — e normalizar isso como se fosse progresso. Quer um achocolatado com leite integral e cacau decente? Começa ajustando o campo: transparência explícita do peso do imposto na etiqueta, revisão que não puna merenda infantil como luxo e regulatório que alinhe incentivo com nutrição. Produto bom precisa de regra boa. Sem isso, seguimos comprando o mesmo nome com menos produto dentro.

“Encare a realidade como ela é, não como foi ou como você deseja que ela seja.” — Jack Welch.
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899# Queimei a língua com o Etanol de Milho — 30/09/25

Texto autoral RXO
Etanol de milho RXO

Planilha de Cálculo: https://lnkd.in/eU5w3NiM

Nos últimos anos, o etanol de milho tem ganhado espaço no cenário energético e industrial brasileiro, com números que justificam esse avanço. Embora a cana-de-açúcar ainda seja a base histórica da produção de etanol no país, o milho vem mostrando resultados mais consistentes financeiramente, com maior eficiência industrial e atratividade para investidores. Ainda se percebe a cana como dominante, mas os dados mostram uma virada importante.

Os indicadores financeiros destacam esse contraste. O etanol de milho apresenta ROI de 27,5%, ROIC de 18,1%, TIR de 20,6% e payback de 4 anos. O custo por litro é de 0,35 US$/L — altamente competitivo globalmente. Já o etanol de cana mostra ROI de 17,2%, ROIC de 11,4%, TIR de 9,5%, payback, ainda interessante, de 9 anos e custo de 0,42 US$/L. Ou seja, o milho devolve o investimento em menos tempo, enquanto a cana exige quase uma década, aumentando o risco, coisa que o investidor tem aversão.

Essa visão é confirmada por análises como a da NovaCana (https://lnkd.in/eerFu4m7), que reforça a rentabilidade superior do milho. A diferença é estrutural: maior eficiência industrial, apesar da mesma produtividade por funcionário no exemplo dado, e lucratividade por metro cúbico (142 USD/m³ no milho contra 70 USD/m³ na cana).

Outro fator crucial é o risco do projeto. A TIR do milho (20,6%) supera com folga o mínimo exigido pelo mercado, tornando-o atrativo para fundos e investidores. Já a TIR da cana (9,5%) se aproxima do WACC, o que torna o investimento mais vulnerável a oscilações de preço ou aumento de custos.

Em resumo, a cana ainda tem vantagem no rendimento agrário (492 USD/ha contra 297 USD/ha no milho), mas perde competitividade na indústria. O milho entrega margens sólidas, retorno rápido e maior resiliência ao mercado, o que justifica o crescente interesse de investidores em projetos de etanol de milho no Brasil.

E mais uma vez, queimei a língua com o uso do milho para fazer Etanol...

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900# Livros para um amigo — 02/10/25

Texto autoral RXO
Livros indicados por RXO

Um amigo me pediu a indicação de um livro para desenvolver a criticidade. Em vez de um, indiquei quatro que considero essenciais para abrir a mente, independentemente da atividade que você exerce. Seguem os títulos e os motivos.

O primeiro é “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, talvez o mais conhecido. Uma fábula em que os animais expulsam o fazendeiro buscando igualdade, mas logo os porcos assumem o mesmo papel opressor. Retrato da corrupção do poder, quando ideais nobres se tornam interesses pessoais. Mostra como regimes, movimentos e até projetos corporativos podem nascer com discurso justo e democrático, mas se tornarem sistemas de opressão.

O segundo é “A Mentalidade Anticapitalista”, de Ludwig von Mises. O livro revela o paradoxo de sociedades que prosperam com o mercado, mas o criticam intensamente. Mises aponta que parte da hostilidade ao capitalismo vem do ressentimento e da incompreensão sobre o progresso — algo bem familiar a nós, brasileiros. Num mundo onde ideologias ignoram a lógica econômica, é uma leitura que desmascara discursos fáceis que culpam o empresário por tudo.

O terceiro é “As 48 Leis do Poder”, de Robert Greene. Polêmico, o livro aborda regras não ditas das relações humanas. Traz exemplos históricos de como reis, generais e empresários manipularam e mantiveram o poder. Muitos se chocam com a frieza da obra, mas ignorar essas leis é como jogar xadrez sem saber as regras. Mais do que ensinar a dominar, o livro ajuda a identificar quando essas leis estão sendo usadas contra você — o que pode ser decisivo.

Por fim, “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, de Carlo Cipolla, talvez o menos conhecido. Curto, divertido e genial, mostra como a estupidez é uma das forças mais destrutivas, pois é imprevisível e sem benefício algum. A leitura ajuda a reconhecer padrões irracionais em pessoas e organizações — revelando que ignorância ativa pode ser mais perigosa que má-fé consciente. Saber neutralizar isso é uma habilidade rara — e essencial.

Espero que meu amigo goste!

“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.” — A Revolução dos Bichos
“A sociedade capitalista é a única em que, via mercado, as pessoas decidem quem deve dirigir e quem deve obedecer.” — A Mentalidade Anticapitalista
“O poder é um jogo social; entender as regras é jogar melhor — e evitar ser jogado.” — As 48 Leis do Poder
“Subestimamos o número de estúpidos, e seu poder de causar danos é maior do que parece.” — As Leis Fundamentais da Estupidez Humana
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901# Devo muito a eles — 07/10/25

Texto autoral RXO
Três pessoas na sala de aula

Em 1982, eu era só mais um menino em São Miguel Paulista, bairro onde liberdade tinha limite de horário. A escola era pública, a rua perigosa. Mas em casa havia estrutura. Meus pais, mesmo com pouco, nunca deixaram faltar o que importava: rotina, orientação e uma exigência silenciosa que formava caráter. Meu pai tinha emprego, e minha mãe fazia o dinheiro durar até o fim do mês. Não havia luxo, mas havia régua — e isso vale muito. Estudar era prioridade, não por discurso, mas por ser o único plano. Meus brinquedos cabiam numa prateleira: bola, gibis, livros e um radinho que ganhei do meu pai. Nele, ouvia jogos do Corinthians e, sem perceber, aprendia a escutar o mundo com atenção.

Mesmo com a violência no bairro, ainda havia tempo de ser criança. Soltava pipa e jogava bola no campinho de terra batida que sujava até o pensamento (até hoje tenho cascão nos pés 🤣🤣🤣). Ali aprendi que convivência não é afeto, é adaptação. Ninguém sai ileso da infância, mas nem tudo vira trauma — alguns viram instrução. Na escola, eu não causava problemas, mas também não passava despercebido. Queria aprender. Não para “mudar o mundo”, mas para não repetir o mesmo padrão. E isso já era muito. Olho praquele menino de 1982 com respeito. Sabia pouco da vida, mas teve coragem de seguir os pais e ser constante.

Em 1992, aos 18 anos, mudei com a família para Mogi Guaçu. E tudo mudou. Saí da tensão para a tranquilidade. Uma cidade onde dava pra pensar, andar e respirar. Terminei os estudos, comecei a trabalhar e entrei na faculdade. Foi aí que entendi que estudar e trabalhar exige mais que força: exige escolha. Me formei, cresci na carreira, sempre em silêncio. Com base no que aprendi cedo: fazer o certo, mesmo sem plateia. Em Mogi também construí minha linda família — o meu mais perfeito projeto de longo prazo que ninguém ensina, mas que define quem você é.

Hoje moro na Colômbia com minha Esposa e sou executivo em uma empresa química. Vivo uma realidade que poucos imaginariam olhando praquele garoto. Mas tudo tem conexão. Levo para cada decisão o que aprendi com meus pais: controle, respeito, simplicidade. A vida executiva exige estratégia, mas antes disso, repertório humano. O meu foi formado com rádio, futebol de rua, estudos e responsabilidade. Quando olho pra trás, não vejo superação. Vejo sequência. Nada espetacular, mas tudo coerente.

Por isso, agradeço aos dois meninos ajuizados — o de 1982 e o de 1992 — que, mesmo sonhando pouco, seguiram em frente. Eles não sabiam muito sobre o futuro, mas sabiam que só a ação dá sentido ao tempo.

Se este texto chegar a alguém que, como eu, precisou amadurecer cedo, deixo uma sugestão: pare um pouco. Pense nas suas versões anteriores. E agradeça. Foram elas que sustentaram tudo até aqui.

“O que somos é consequência do que pensamos.” — Buda
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902# LSS não faz milagres — 09/07/25

Texto autoral RXO
Lean Six Sigma não faz milagres RXO

Há uma máxima conhecida no meio industrial: “uma boa análise de causa raiz resolve qualquer problema”. Mas e quando ela não resolve? Ou melhor: e quando ela está correta — mas não é implementada?

Esse é o paradoxo que corrói silenciosamente inúmeras empresas. Porque saber o que fazer é apenas o começo. Ter coragem para fazer, esse sim, é o verdadeiro diferencial competitivo.

Quando a causa é clara, mas o remédio é amargo

Em teoria, o Lean Six Sigma (LSS) oferece ferramentas poderosas para identificação e solução de problemas. Na prática, porém, sua aplicação muitas vezes é desviada do propósito original, servindo como cortina de fumaça para a omissão.

Uma empresa avalia a eficiência da recuperação de proteína de um cereal durante a produção de carboidrato. Esse indicador, além de impactar diretamente a receita, é crucial para garantir a qualidade do produto final. Em tese, é um processo dominado há mais de um século. Na prática, a recuperação despenca de 60% para menos de 50% — e permanece assim por mais de 20 anos.

Diagnóstico: feito e ignorado

Auditorias revelam as causas: centrífugas obsoletas operando fora de especificação, filtros subdimensionados saturados e manutenção negligenciada. Solução? Substituição completa dos equipamentos e revisão total das práticas operacionais. O retorno? Recuperação imediata do rendimento e maior previsibilidade do processo.

Mas isso exigia dois custos: financeiro e reputacional. Substituir as centrífugas demandaria investimento alto, mas, sobretudo, admitir falhas operacionais e de gestão acumuladas. O problema deixou de ser técnico e se tornou político — mexia com egos e reputações.

A decisão covarde e o preço da aparência

O caminho escolhido foi o mais comum: o paliativo elegante. Projetos de LSS foram iniciados para capacitar operadores e otimizar o uso dos equipamentos antigos. No papel, era bonito. Nos gráficos, gerava picos pontuais de melhoria. Nas apresentações, aplausos. Mas no chão de fábrica, o problema continuava.

É aqui que a verdade precisa ser dita: o Lean Six Sigma não faz milagre. Nenhum método gerencial substitui a necessidade de investimento ou a coragem de admitir falhas. Treinar um operador para extrair o melhor de uma centrífuga que já deveria estar em um museu é como ensinar um piloto de Fórmula 1 a correr com um fusca — pode até melhorar tempo de volta, mas não ganha campeonato.

Os custos invisíveis da covardia

O plano estrutural foi engavetado, e com ele, a chance real de recuperação. O custo da decisão adiada não aparece na planilha do mês. Ele surge aos poucos: na perda de competitividade, na evasão de talentos, na corrosão da confiança e na deterioração da cultura organizacional.

Ao escolher proteger a imagem em vez de resolver o problema, a empresa trocou a solução pelo discurso. E discurso não sustenta operação no longo prazo.

O que aprendemos com isso?

Essa história não é exceção. É retrato de um padrão corporativo que prioriza o conforto do agora à solidez do amanhã. Quando se finge agir, o senso de urgência desaparece. A equipe se adapta à mediocridade, e a falha crônica vira “parte do processo”.

Lean Six Sigma é ferramenta — poderosa, sim — mas não é escudo para proteger lideranças da verdade. Nem anestesia para evitar decisões duras. Usá-lo como substituto da ação é desonesto e disfuncional.

Reputação não resolve falha técnica

Quando líderes têm mais medo de se expor do que de falhar, qualquer plano robusto se torna inviável. Isso revela um ponto incômodo: há empresas onde preservar a imagem é mais importante do que preservar o negócio.

Como escreveram os autores clássicos da gestão, “não há plano de ação que funcione sem vontade de agir.” E vontade de agir exige mais do que método. Exige liderança.

A lição esquecida

Resolver problemas crônicos exige coragem: de investir, de reconhecer erros, de recomeçar. Quando se evita a ação para evitar “manchar a imagem”, cria-se um sistema de mentira elegante — onde todo mundo finge que está tudo bem, desde que os relatórios estejam bonitos.

Empresas maduras não escondem problemas. Corrigem. Empresas sérias não treinam para contornar falhas. Investem para eliminá-las. Empresas líderes não temem a verdade. A transformam em estratégia.

“Você se torna aquilo que tolera.” — Osvandré Lech
“Reconhecer um erro é mais nobre do que esconder uma falha.” — Jack Welch
“A coragem não é a ausência do medo, mas a decisão de que algo é mais importante que ele.” — Ambrose Redmoon
“A reputação é o que dizem de você; caráter é quem você realmente é.” — John Wooden
“Empresas que evitam a verdade, evitam o futuro.” — RXO
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903# Melhorar a inutilidade — 09/03/25

Texto autoral RXO
Melhorar a inutilidade RXO

Se há um talento que algumas empresas e órgãos governamentais domina com maestria, é a capacidade de transformar tarefas irrelevantes em métricas impressionantes. Chame de "gestão", "melhoria contínua" ou qualquer outro nome bonito – no final, boa parte das iniciativas corporativas e governamentais nada mais são do que um enorme desperdício de tempo, dinheiro e inteligência.

A "indústria da eficiência", essa máquina de moer produtividade, se especializou em otimizar o que não precisa ser feito, medir o irrelevante e premiar o supérfluo. O resultado? Uma impressionante "eficiência em coisas inúteis".

O culto à métrica sem sentido

Nada traduz melhor a obsolescência disfarçada de eficiência do que o amor incondicional por métricas que não mudam nada. Pense no clássico "Indicador de Performance". Ele é reverenciado em reuniões, defendido com unhas e dentes pelos gestores e usado para justificar bônus – mesmo que na maioria das vezes não gere impacto real algum.

Exemplo prático? O tempo médio de resposta de e-mails internos. Em algumas empresas, reduzir esse tempo em 5% é tratado como um feito digno do Prêmio Nobel. O problema? Ninguém se questiona se esses e-mails precisavam EXISTIR em primeiro lugar.

Outro exemplo? O tempo médio de reunião. Surgem iniciativas para encurtar reuniões de 60 para 45 minutos (Agile Project), como se a solução estivesse na duração – e não no fato de que 90% dessas reuniões poderiam ser resolvidas em um e-mail (ou ignoradas completamente).

"Nada é mais inútil do que fazer com grande eficiência algo que não deveria ser feito." – Peter Drucker

A busca frenética por "inovação" do que não serve para nada

A palavra "inovação" se tornou uma desculpa para justificar qualquer bobagem. Algumas empresas criam departamentos inteiros de inovação para redesenhar logotipos, mudar nomes de cargos ou lançar novos modelos de relatório – tudo com apresentações cheias de buzzwords, gráficos coloridos e zero impacto real no negócio.

Enquanto isso, processos realmente críticos continuam funcionando com sistemas ultrapassados e planilhas que travam mais do que Windows 98 rodando no modo de segurança.

É a mesma lógica do "Lean Manufacturing" que passa meses eliminando segundos de um processo irrelevante, mas ignora gargalos enormes na cadeia produtiva. Ou do "Kaizen" aplicado a tarefas triviais, enquanto os problemas estruturais continuam enterrados debaixo do tapete.

"Melhorar um processo ineficiente é como amarrar asas em um carro: não importa o quanto tente, ele nunca vai voar." – Henry Ford

Automatizando a ineficiência

Poucas coisas são mais engraçadas do que a indústria tentando automatizar processos que nem deveriam existir. Gastam milhões desenvolvendo um sistema de gestão para controlar a entrada de pedidos de um processo burocrático que poderia simplesmente ser eliminado.

Eu já vi indústrias terem departamentos de REPROCESSO, e medirem isso como se fosse algo essencial...Meu amigo!!! Você está trabalhando para reduzir isso??? Se não está, tenho uma péssima notícia: você não está agregando nada ao negócio!

"Um idiota com um plano ainda é um idiota." – Warren Buffett

Recompensando quem não faz nada

E o mais fascinante nessa busca incessante pela eficiência em coisas inúteis é que os maiores prêmios vão para quem gasta mais tempo fingindo ser produtivo.

Os profissionais mais valorizados não são aqueles que resolvem problemas de verdade, mas sim os que sabem como parecer ocupados o tempo todo. Gente que domina a arte do PowerPoint estratégico, da reunião sem fim e do email que ninguém entende – mas que dá a impressão de que algo importante está acontecendo.

E assim seguimos. As empresas e os governos seguem girando, produzindo relatórios que ninguém lê, fazendo reuniões que poderiam ser evitadas e otimizando o que não precisa existir.

Porque, no fim do dia, eficiência em coisas inúteis é um dos grandes motores da economia.

Cinco frases inspiradoras para refletir sobre esse teatro corporativo

"O trabalho se expande para preencher o tempo disponível para sua realização." – Lei de Parkinson
"O maior inimigo do progresso não é o erro, mas a inércia organizada." – Kenneth Galbraith
"A coisa mais cara que uma empresa pode fazer é continuar investindo no que não funciona." – Peter Drucker
"Se a solução para um problema parece complexa demais, provavelmente você está resolvendo o problema errado." – Elon Musk
"A única coisa pior do que investir em algo inútil é continuar investindo porque já gastou muito." – Warren Buffett
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904# Mudar de opinião é natural! — 02/11/25

Texto autoral RXO
Chimpanzés cooperando

Normalmente interpreta-se o ato de mudar de opinião em muitas rodas de liderança e decisão, como fraqueza. Como se coerência fosse uma linha reta, e não um processo iterativo, onde cada nova evidência exige, ao menos, uma revisão honesta da hipótese anterior. Mas o dado mais simbólico dos últimos dias não veio de uma sala de aula, nem do mundo corporativo: veio do reino animal, literalmente.

Pesquisadores da Universidade de Utrecht, junto com colegas da Califórnia, mostraram que chimpanzés conseguem "mudar de opinião" quando são confrontados com dados contraditórios. Em testes laboratoriais, os animais recebiam uma pista para escolher uma das caixas com alimento. Após essa escolha inicial, uma nova pista era oferecida — mais forte, mais clara, mais assertiva. E eles mudavam. Simples assim. Porque fazia sentido. Porque agora o contexto era outro. Porque persistir no erro não trazia vantagem nenhuma pois ficava claro que era tolice.

Fique constrangido ao ver isso: se um chimpanzé revê sua crença diante de evidência nova, por que executivos, diretores e especialistas seguem presos ao discurso da coerência cega? A resposta talvez more naquilo que é mais característico da nossa condição humana: a "p*rra" do ego. No medo de parecer inconsistente e no apego ao protagonismo que uma opinião pública mal resolvida impõe, nós preferimos parecer firmes do que estarmos certos.

O mundo que habitamos, e os negócios que tentamos liderar, não premiam rigidez. Premiam lucidez adaptativa. Um bom gestor, um bom cientista, um bom professor ou um bom líder, não é o que tem a resposta certa desde o começo. É o que está pronto para reavaliar quando a pergunta muda, quando o cenário se altera, quando o fato desmente o palpite. E aqui está o ponto mais incômodo: mudar de opinião exige mais do que inteligência, exige muita coragem. Coragem pra desapontar o próprio passado, coragem pra enfrentar quem aplaudiu a versão anterior, coragem pra seguir adiante mesmo que isso custe capital simbólico. Porque sim, mudar cobra um preço, mas não mudar cobra a conta o valor cheio.

Em tempos em que o erro é cancelável e a hesitação é ridicularizada, é compreensível o pavor de ajustar nossa rota. Mas também pode ser letal. Quantas carreiras estagnaram por teimosia disfarçada de consistência? Quantas empresas ruíram porque seus líderes confundiram “convicção” com “obstinação”? Talvez a maioria e não detectamos isso.

O chimpanzé, ao mudar, não pede desculpas, não faz discurso. Apenas age com base no novo...

...sem apego, sem vaidade. E talvez esteja aí a maior lição da semana: ser racional não é resistir — é reavaliar.

Na próxima vez que uma nova evidência bater à sua porta, pergunte: isso desmonta minha visão... ou a aprimora?

Porque às vezes, o maior erro é insistir em acertar.

“Quando os fatos mudam, eu mudo de opinião. E você, o que faz?” — John Maynard Keynes
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905# S.T.A.R. — 08/11/25

Texto autoral RXO
Técnica STAR RXO

Você conhece a técnica STAR? Ela não é autoajuda, mas um método eficaz de estruturar raciocínio. Em ambientes técnicos e decisões baseadas em evidências, comunicar bem o que se fez — e o impacto disso — é critério de seleção. É amplamente usada em seleções, avaliações e apresentações executivas. Saber aplicá-la pode ser decisivo para ser ouvido, contratado ou promovido, apenas por relatar bem suas ações.

A técnica STAR (Situação, Tarefa, Ação, Resultado) é útil porque traz lógica à experiência. Transforma relatos em argumentos e evita cair em cronologias irrelevantes ou adjetivos vazios. Em resumo, obriga o profissional a responder com precisão quatro perguntas essenciais:

  • Qual era o contexto da experiência?
  • O que foi exigido de você no projeto?
  • O que exatamente você fez que gerou impacto?
  • Qual foi o resultado concreto?

Embora pareça simples, exige domínio técnico e clareza. Muitos tropeçam no básico: não filtram ruídos de dados relevantes, se perdem em emoções, listam atividades como entregas e esquecem que impacto mensurável é a linguagem da liderança. E quem ouve não quer perder tempo — Time is Money.

Veja este exemplo:

Situação: “No 1º trimestre de 2023, assumi a gestão da linha PET na planta de Goiânia, com OEE médio de 78% nos últimos 5 anos e alto retrabalho, principalmente em lotes com trocas rápidas.”

Tarefa: “Elevar o OEE a 85% em 1 ano e reduzir 30% das perdas por retrabalho em 6 meses.”

Ação: “Implementei novo modelo de troca rápida com pré-configuração via CLP, reestruturei o fluxo CIP para eliminar gargalos e, com o time de manutenção, fiz ajustes preventivos na pressão das válvulas dos bicos de envase.”

Resultado: “OEE chegou a 87% em 14 meses. O retrabalho caiu 42% em 6 meses. A operação virou referência da matriz para a América Latina.”

Esse relato não é “falar bonito”. É aplicar lógica. Torna visível o que, muitas vezes, está diluído na operação. O mercado não premia esforço — premia clareza. E clareza vem do método.

Profissionais técnicos muitas vezes executam muito e relatam mal. São superados por quem comunica melhor, mesmo entregando menos. A técnica STAR corrige isso: traduz operação complexa em linguagem objetiva.

Ela vai além de entrevistas. Serve à liderança técnica, ao engenheiro de processos que quer justificar decisões, ao gestor de manutenção que precisa reportar uma intervenção crítica — a qualquer profissional que entende que um resultado só vale quando descrito e atribuído.

STAR não é sobre parecer, é sobre provar.

“O sucesso é a soma de pequenos esforços repetidos dia após dia.” — Robert Collier
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906# O Dia do Sapato — 08/11/25

Texto autoral RXO
O Dia do Sapato RXO
“Quando tudo conspira contra você, às vezes é o universo testando o quanto você realmente quer aquilo.”

O primeiro emprego a gente nunca esquece. Independe se é um estágio, um bico como servente de pedreiro, ajudante de loja ou, no meu caso, numa multinacional. Eu tinha recém completado 19 anos. Já havia sido dispensado do serviço militar, era o filho mais velho, com meu pai recém-aposentado. Estava ali, como tantos outros jovens, em busca da primeira oportunidade profissional.

O ano era 1993. Com uma dose generosa de sorte — e algumas coincidências — meu currículo foi levado por um funcionário da RMB (atual Ingredion). Foi uma daquelas coincidências que só a vida proporciona...Uma hora conto essa história também. E um dia, chegou também um telegrama — sim, um telegrama — em caixa alta: “APRESENTAR-SE PARA TESTE NA UNIDADE INDUSTRIAL”.

No dia 20 de setembro de 1993, lá estava eu, diante dos portões da icônica fábrica da Maizena, em Mogi Guaçu. Era minha primeira vez entrando numa indústria. Éramos nove candidatos. Eu era o mais jovem — e o único que nunca tinha sequer pisado numa fábrica. Um detalhe, porém, roubava toda a minha atenção naquela manhã fria: um sapato.

A herança do meu pai

Meu pai sempre foi o que chamo de “chato do bem”. Exigente com postura, rigoroso com aparência, disciplinado até os ossos. Treinou-me com rituais: barba feita, cabelo cortado, unha limpa, roupa passada, aperto de mão firme e, claro, sapatos de couro.

Foi nesse último ponto que meu problema começou. O sapato 43 estava com a sola descolando — parecia um jacaré de boca aberta. Eu, um moleque magro de 65 kg e 1,80 m, tentava disfarçar sentando o tempo todo e pressionando a sola contra o piso. Já estava com câimbras de tanto segurar a “boca do jacaré”.

O teste e o silêncio

Prova de matemática, português e redação. Concentrei como nunca. Fui o primeiro a terminar, revisei e saí. Do lado de fora, a turma se conhecia; muitos já tinham trabalhado como temporários. A conversa era cheia de confiança — e de “QI” (quem indica).

Um dizia ser sobrinho do supervisor; outro tinha “moral com o encarregado”; teve quem disparou: “Essa vaga já é minha, fiz a prova só pra confirmar.” Fiquei em silêncio, tímido, com o sapato abrindo a boca. Até que um, que depois seria meu colega, olhou com desprezo e cravou: “Tenho dó é desse aí… não conhece ninguém, deve ter ido mal e vai ser o primeiro a ser mandado embora.” Risos gerais. Por dentro, eu estava destruído — e fiquei.

O abatedouro

O recrutador voltou após quase duas horas. Começou a chamar um por um para o “feedback”. A cada retorno: “Não deu dessa vez. Boa sorte.” Até restarem dois: eu e o sujeito confiante. Quando a porta abriu, levantei já esperando a dispensa, mas o chamado foi para ele. Entrou confiante e saiu mudo. Nem me olhou.

Quando tudo muda

“Ricardo, vem aqui. Tenho boas notícias.” Ele me mostrou a prova: eu havia errado apenas um item — um detalhe que nunca esqueci: urubu não tem acento. A redação foi elogiada pela argumentação e clareza. Fui o único aprovado entre nove candidatos — muitos com experiência e contatos. Eu, o garoto da sola solta.

O que ficou dessa história

Não conto isso como heroísmo, e sim porque muita gente vive o mesmo: sem contatos, com insegurança, sem experiência, mas com vontade de vencer. A lição? Postura. A postura que meu pai insistia. Ela não depende de currículo nem de sobrenome — e sustenta a gente quando até o sapato tenta sabotar.

Cinco frases que me definem até hoje

“Caráter é o que você faz quando ninguém está olhando.” — John Wooden
“A vida é 10% o que acontece com você e 90% como você reage.” — Charles Swindoll
“Você não precisa vencer todos. Precisa apenas vencer suas próprias desculpas.” — RXO
“Quem tenta impressionar com palavras, geralmente falha nos atos.” — Jim Rohn
“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.” — Winston Churchill

Palavra final

Aquele sapato me constrangeu, sim. Mas não me impediu. E, até hoje, quando alguém desdenha do esforço alheio ou acha que já sabe como a história termina, lembro da porta abrindo, do recrutador sorrindo — e da minha vida mudando. Foi o dia em que tudo começou. O dia do sapato.

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907# O que somos é uma Construção — 09/11/25

Texto autoral RXO
O que somos é construção RXO

Muita gente acredita que caráter é algo pronto, inato, genético. Eu penso diferente. Acredito que somos uma obra em andamento. Tijolo por tijolo. E que muitas das nossas decisões hoje são consequências — conscientes ou não — daquelas experiências que vivemos lá atrás, ainda na adolescência.

Recentemente, ao revisitar algumas memórias, percebi que uma das maiores lições de liderança que tive na vida aconteceu em um lugar improvável: a quadra de uma escola pública da zona leste de São Paulo. E isso moldou quem eu sou até hoje.

A escola onde tudo começou

Estudei 90% do meu ensino fundamental na mesma instituição: a EEPSG Professor Francisco Pereira de Souza Filho, no Parque Paulistano, São Miguel Paulista – SP. Foram dos 8 aos 17 anos naquela escola. Ali vivi amizades verdadeiras, minhas primeiras paixões e fui profundamente influenciado por Professores com P maiúsculo.

Apesar de pública, nos anos 80 a escola tinha boa reputação. Era nova (fundada em 1982) e, como muitos da região, era o que tínhamos — mas nos orgulhávamos disso. Sempre fui aluno de excelência. Daqueles que terminavam o ano no terceiro trimestre e entravam em férias antecipadas, só esperando janeiro para renovar as amizades.

Nota vermelha? Nunca. Matemática, Física, Química, Biologia, Geografia — tudo fluía com naturalidade. História? Eu detestava (e hoje sou apaixonado). Português era sofrido. Inglês era tortura. Mas mesmo isso nunca ameaçou meu rendimento.

A Educação Física me fisgou

Aos 12 anos, algo inesperado aconteceu. A Educação Física me fisgou. E não era só pelo "alívio das aulas teóricas". Era prazer genuíno. Eu gostava daquele ambiente. Da interação. Do esforço físico. Da disciplina coletiva. Se eu não tivesse me mudado para Mogi Guaçu, talvez tivesse seguido essa carreira. Me sentia em casa ali. Aquilo me transformava.

Foi ali que deixei a timidez de lado. Aprendi a lidar com frustração. A ganhar sem humilhar. A perder sem quebrar. E, principalmente, a competir com propósito.

Meu esporte favorito era o futsal, mas onde eu realmente me destacava era no handebol. Aos 14 anos, já tinha 1,80 m — e num cenário de esporte escolar, isso fazia diferença. Mas não era só a altura: era a técnica, o posicionamento, a leitura de jogo. E como o sistema de competições era dividido em três categorias — Mirim, Infantil e Juvenil —, eu jogava em todas. E ainda ajudava a treinar os menores.

Com 16 anos, já dava treino com os professores. Apitava jogos. Ajudava na organização. A Educação Física virou meu laboratório de vida. E foi nela que entendi o que significa liderar sem ter título. Liderar pelo exemplo. Pela entrega. Pela influência.

A braçadeira de capitão

Com 16 anos, fui nomeado capitão do time Infantil e do Juvenil. E não era só pela performance, mas pelo que eu representava. Era o que batia os pênaltis, puxava o aquecimento, cobrava postura. E não porque mandaram — mas porque os outros me escutavam. Ali, na quadra da escola pública da zona leste, nascia um estilo de liderança que carrego até hoje: firme, presente e com senso de responsabilidade pelo todo.

A semifinal que mudou tudo

Era a semifinal do campeonato estudantil. Na nossa quadra. Lotada. Clima de final de Copa do Mundo. O adversário: a temida Escola Dom Pedro I — a elite do bairro. Havíamos perdido pra eles no ano anterior. O jogo começou tenso. Perdíamos por dois gols. E, num lance maldoso, levei uma pancada forte: quebraram meu nariz.

Sangue pra todo lado. Me tiraram da quadra. No intervalo, ainda sangrando, olhei pro meu professor e disse: “Coloca algodão aí. Eu quero voltar.” Ele perguntou: “Por quê?” — e o garoto de 15 anos respondeu: “Porque o time precisa.”

Voltei com o nariz entupido de algodão. O pátio inteiro veio abaixo. A energia mudou. O time se acendeu. Voltei, marquei 5 gols e viramos o jogo. Ganhei o respeito de todos. Apesar da bronca homérica do meu pai, aquela escolha valeu cada segundo.

E se eu tivesse seguido esse caminho?

Depois me mudei para Mogi Guaçu. Fui convocado para jogar pela cidade nos Jogos Abertos do Interior de 1993. Não fui. Comecei a trabalhar. As prioridades mudaram. Mas tudo aquilo moldou quem eu sou. Mesmo sem seguir a carreira esportiva, foi ela que me ensinou a liderar — e isso faz diferença até hoje, em cada equipe, projeto e reunião.

A escola pública me deu mais que conteúdo

Nos corredores daquela escola pública, não aprendi só geografia ou fórmulas. Aprendi vida. Relacionamento. Autoridade sem arrogância. Enquanto muitos acreditam que liderança nasce em curso caro ou livro best-seller, eu sei: a minha começou ali, entre colegas suados, quadras rachadas e professores que acreditavam em mim.

O que eu aprendi e nunca esqueci

  • Que liderança começa antes da vitória.
  • Que respeito se conquista no esforço, não no discurso.
  • Que quem lidera é o primeiro a levantar.
  • Que coragem não é ausência de medo — é a escolha de seguir, apesar dele.
  • Que caráter forte nasce nos detalhes.

Ali, com algodão no nariz e sangue seco na camisa, eu descobri o tipo de líder que eu queria ser: o que volta pra quadra quando todos acham que acabou.

5 Frases Inspiradoras

“Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo — não ausência do medo.” — Mark Twain
“Liderança é ação, não posição.” — Donald H. McGannon
“A disciplina é a ponte entre os objetivos e a realização.” — Jim Rohn
“Não importa o quão devagar você vá, desde que você não pare.” — Confúcio
“O exemplo não é uma das formas de influenciar. É a única.” — Albert Schweitzer
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908# Estive na China. O Brasil Ainda Não Foi. — 08/11/25

Texto autoral RXO
Estive na China. O Brasil Ainda Não Foi.

Estive na China em outubro. Foi minha segunda vez nesse país fascinante, agora em Xangai, por uma semana intensa, caminhando por ruas onde tradição milenar convive com inovação de ponta, entre universidades que funcionam como incubadoras de poder nacional e estações de metrô mais limpas, seguras e eficientes do que qualquer aeroporto brasileiro. E voltei de lá com duas certezas. A primeira: a China, ou pelo menos essa região leste mais desenvolvida, já opera numa lógica de primeira potência — organizada, conectada, disciplinada. A segunda: seguimos perigosamente ignorantes sobre tudo isso. Não é só desconhecimento técnico ou econômico. É um vácuo cognitivo sobre um país que determina o presente e redesenha o futuro global. A elite brasileira — política, empresarial, acadêmica — não compreende a China. E o mais grave: não sente vergonha por isso.

O que vi em Xangai não foi “futuro”. Foi presente — um presente que já é cotidiano para mais de 1 bilhão de pessoas. Enquanto ainda reduzimos a China à piada do “produto Xing-Ling”, o país já lidera o mercado de veículos elétricos, investe mais em pesquisa e desenvolvimento do que toda a Europa Ocidental e caminha para redefinir as cadeias globais de valor, com estratégia explícita, metas públicas, incentivos estatais e um tipo de ambição que não pede licença: simplesmente executa. O que impressiona não é a infraestrutura. Não são os arranha-céus, os trens-bala ou os aplicativos com funções integradas que fariam corar qualquer fintech ocidental. O que impressiona é a lógica. A lógica de um país que pensa como empresa. Com metas, prazos, indicadores, accountability. A China não improvisa. A China planeja. E planeja para vencer.

Enquanto isso, o Brasil ainda discute se marco fiscal deve ser flexível, se o teto de gastos era ou não necessário, se emenda de relator é “instrumento legítimo de articulação”. Estamos em outro tempo histórico — mas agindo como se estivéssemos no mesmo ciclo. A China opera no seu 15º Plano Quinquenal, um modelo herdado dos soviéticos, sim, mas aprimorado com uma visão estratégica que nenhuma democracia ocidental hoje consegue replicar. Esses planos são documentos públicos, detalhados, com metas claras para cada setor — saúde, indústria, educação, defesa, inovação, consumo interno, urbanização. E ao contrário do que muitos pensam, não se trata apenas de planejamento central. Trata-se de uma cultura que entende política como gestão — e gestão como instrumento de soberania. A China traça seus objetivos como uma holding multinacional: define indicadores, aloca recursos, cobra resultados. É um Estado que pensa com cabeça de CEO e age com disciplina de fábrica.

Essa lógica já impacta o Brasil. A relação sino-brasileira não é futura — é estrutural, presente, diária. Em 2009, a China ultrapassou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil. Desde então, ampliamos a dependência, sem construir simetria de conhecimento. A Suzano fatura mais da metade de sua receita com vendas para a China. A Weg tem mais de 3 mil funcionários operando em solo chinês. A Gerdau depende da dinâmica de consumo de aço da China para precificação e planejamento. E mesmo assim, ainda tratamos o país com descaso intelectual. Em encontros com empresários, investidores e gestores públicos brasileiros, o que mais me assusta não é o desconhecimento dos dados — é a ausência de qualquer senso de urgência para compreendê-los. Como se fosse possível competir num mundo que não se entende. Como se fosse possível gerir riscos sem sequer mapear as variáveis mais óbvias.

Mais do que números e exportações, o que a China revela é um modelo mental. Lá, estudar é obsessão nacional. Vestibular é destino social. As famílias investem o que têm — e o que não têm — na formação dos filhos. O Estado acompanha isso. Regula. Impõe limites. Quando a elite começou a monopolizar o acesso às melhores universidades por meio de tutores pagos e cursos privados, o governo reagiu. Em 2021, proibiu que empresas do setor de educação básica tivessem fins lucrativos. Simples assim. As três maiores empresas chinesas do setor, listadas em bolsas americanas, foram zeradas do dia para a noite. Porque a educação é vista como ativo estratégico — não como oportunidade de mercado. Lá, capital serve ao plano. Não o contrário. Aqui, sequer temos um plano.

Demografia, desigualdade e bolha imobiliária são os três grandes desafios internos da China. Mas mesmo esses temas são enfrentados com racionalidade brutal. A política do filho único, por exemplo, produziu distorções severas: hoje, há 30 milhões de homens que jamais conseguirão se casar com uma mulher chinesa, por pura disparidade de gênero. Isso gera frustração social, potencial de instabilidade e questionamentos sobre o futuro. A resposta do governo? Incentivos à natalidade, flexibilização de políticas públicas, tentativas de aliviar o custo educacional. Tudo com pragmatismo. Porque, para eles, demografia é destino. E não há PIB que se sustente sem uma base populacional ativa. Enquanto isso, o Brasil vive um bônus demográfico desperdiçado, com 55 milhões de pessoas na informalidade, desemprego ou subemprego, e zero planejamento intergeracional.

O setor imobiliário chinês, que já representou até 30% do PIB, começou a inflar perigosamente. O que fez o governo? Estourou a bolha antes que ela explodisse. Um movimento que gerou perdas bilionárias para empresas privadas — mas que protegeu a estabilidade sistêmica. Isso revela algo que no Ocidente é cada vez mais raro: capacidade de agir contra o curto prazo. A China não toma decisões para ganhar eleição. Toma para garantir hegemonia. E mesmo quem discorda do regime — com razão — precisa admitir que isso gera um tipo de racionalidade macroeconômica que nossos governos não conseguem nem simular.

A pergunta não é mais “se” a China dominará cadeias produtivas estratégicas. A pergunta é: você ainda vai fingir que isso não importa? Porque enquanto discutimos metas de inflação, eles reescrevem as regras do comércio internacional. Enquanto esperamos incentivos do BNDES, eles já têm o Belt and Road Initiative financiando infraestrutura em 70 países. Enquanto celebramos unicórnios que sobrevivem ao terceiro trimestre, eles constroem hubs industriais que moldam o século XXI. É outro jogo. E a maior parte da elite brasileira ainda nem chegou no estádio.

O Brasil não precisa copiar a China. Mas precisa parar de ignorá-la. Precisamos urgentemente incluir geopolítica asiática no currículo das escolas. Precisamos de cursos de mandarim, não por fetiche cultural, mas por inteligência estratégica. Precisamos entender que empresas que operam com 50% de exposição à Ásia precisam de executivos que tenham estado lá, vivido lá, negociado lá. Caso contrário, continuaremos sendo um país que vende soja, minério e papel — sem saber para quem, por quê e por quanto tempo.

Ignorar a China hoje é ignorar o próprio futuro. E a elite brasileira, que tanto se orgulha de suas conexões globais, precisa reconhecer que conhecimento de Harvard sem compreensão de Pequim é cosmopolitismo incompleto. O mundo real se organiza em torno de centros de poder. E hoje, esse poder está se movendo em silêncio — com disciplina, com planejamento, com paciência. A China não precisa invadir. Ela não precisa ameaçar. Basta seguir o plano.

E se você ainda não entendeu isso, talvez o problema não seja a distância da China. Talvez o problema seja a distância da realidade.

Cinco Frases Para Refletir

“A maioria das pessoas aceita pequenos controles em troca de promessas vagas de estabilidade.” — Friedrich Hayek
“Você se torna aquilo que tolera.” — Osvandré Lech
“Quem não entende de dinheiro, trabalha para quem entende.” — Dave Ramsey
“Não se gerencia o que não se entende. E o que não se entende, domina você.” — RXO
“Estudar não é uma opção na China. É um plano nacional.” — RXO
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909# A força de um cruzeiro! — 09/11/25

Texto autoral RXO
A força de um cruzeiro!

Em 1981, um garoto cruzava o portão da escola com a inocência no rosto e uma nota de Cr$ 1,00 na mão. Com ela, comprava um gibi: aquele doce de amendoim envolto em papel que cheirava infância. O gesto da mãe — simbólico e simples — foi mais que um agrado. Era um rito de passagem. Aquela moeda não era só dinheiro: era pertencimento. Representava acesso. Liberdade. Futuro.

Quase 45 anos depois, esse mesmo doce custa R$ 2,00. O valor monetário cresceu, mas o valor real... desapareceu.

O que derrete não é o doce — é a moeda

A erosão da moeda brasileira não é uma teoria econômica abstrata. É uma evidência empírica visível no cotidiano. Em 1981, um salário mínimo de Cr$ 5.788,80 comprava 5.788 gibis. Em 2025, com R$ 1.518,00 no bolso, só conseguimos comprar 759. É uma perda de 87% do poder de compra.

Esse dado não é um capricho nostálgico. É um alerta duro: não estamos ficando mais ricos. Estamos ficando mais enganados.

O Brasil vive um processo silencioso de desvalorização contínua da moeda. E junto com ela, desvaloriza-se o esforço, o mérito, o trabalho. Se o dinheiro vale pouco, o trabalho vale menos ainda.

A ilusão do número alto

A armadilha da “evolução nominal” é cruel. O contracheque aumenta, mas a sacola de supermercado encolhe. O salário cresce, mas o aluguel dispara. É uma forma de maquiagem econômica que acalma sindicatos, manipula estatísticas, fere empresas e impede uma discussão real sobre produtividade e valor.

“Não existe moeda forte sem uma nação que inspire confiança.” — Warren Buffett

Dólar, ouro e a verdade que ninguém gosta de encarar

Em 1981, com um salário mínimo, comprava-se 84 dólares. Hoje, 270. Parece progresso. Mas quando ajustamos pela paridade de poder de compra, o acesso a produtos internacionais, tecnologia e educação caiu. E o dólar virou um espelho torto da nossa economia. Discorda? Então vamos para o ouro...

É uma régua universal de valor ao longo do tempo há séculos. Em 1981, 1 kg de ouro custava Cr$ 1,4 milhão — 242 salários mínimos. Hoje, vale R$ 908 mil — 598 salários mínimos. O que isso significa? Que você precisa trabalhar 2,5 vezes mais para adquirir o mesmo ativo.

Mais trabalho, menos valor. Mais suor, menos patrimônio, menos gibis e menos ouro! É isso que chamam de “progresso”?

A moeda fraca cria o cidadão refém

O brasileiro médio não percebe que foi aprisionado. Ele vê o salário subir, mas não sente o avanço. Compra menos carne, menos lazer, menos viagem, menos tecnologia. Troca liberdade por sobrevida. Troca educação por sobrevivência — e o pior: em um mundo onde tudo ficou mais acessível com aumento de produtividade.

“A maioria das pessoas aceita pequenos controles em troca de promessas vagas de estabilidade.” — Friedrich Hayek

E a nossa estabilidade é uma mentira com selo oficial. Porque moeda fraca, em nosso caso, não parece uma escolha — e sim uma fatalidade.

A corrosão disfarçada de crescimento

O problema está além da inflação. Está no modelo de governo, na cultura de indexação, na política fiscal preguiçosa. Está na aceitação generalizada de que reajustar salários basta. Não basta. Se a moeda não compra, o número é só tinta em papel.

“É bom que o povo da nação não entenda o nosso sistema bancário e monetário, porque se entendesse, acredito que haveria uma revolução antes de amanhã de manhã.” — Henry Ford

A erosão da moeda é uma forma sofisticada de roubo institucional. O governo infla, o mercado reajusta, o trabalhador perde. E tudo isso acontece com cara de normalidade.

O erro de medir sucesso em reais

Empresas ainda adotam tabelas salariais “de mercado”, baseadas em valores absolutos. Profissionais ainda negociam aumento com base no INPC. E gestores de RH ainda defendem “ajustes lineares”. Todos presos a uma lógica que ignora o essencial: o quanto aquele salário compra, e quanto um trabalho gera de valor.

Sucesso real não se mede em reais. Mede-se em acesso, liberdade, capacidade de escolha. E cada vez mais brasileiros precisam escolher entre o básico e o necessário.

“A maioria das pessoas é tão pobre que tudo o que têm é dinheiro.” — Napoleon Hill

Educação financeira não é luxo — é libertação

A erosão da moeda ensina uma lição dura: dinheiro sem estratégia é ilusão. A única forma de escapar desse ciclo é entender o que significa valor — e como protegê-lo. Isso exige estudo, leitura, busca por ativos que preservam poder de compra e, principalmente, desconfiança dos discursos fáceis.

O brasileiro precisa entender que seu maior patrimônio não é o salário — é a capacidade de entender o que esse salário realmente significa.

E se você ainda mede sucesso pelo tamanho do contracheque, saiba: está jogando o jogo errado.

O futuro exige mais que aumento

A pergunta real de 2025 não é: “quanto você ganha?” É: “quanto isso compra? Por quanto tempo? Em qual moeda? Em qual país?” Porque, no fim das contas, a moeda é só o reflexo de algo mais profundo: nossa capacidade de gerar valor real, de forma eficiente, estável e sustentável. E nesse quesito, o Brasil está falhando há, no mínimo, 44 anos!

Cinco frases para refletir

“O dinheiro é um excelente servo, mas um péssimo mestre.” — P. T. Barnum
“Não é o salário que define seu valor, mas o que você faz com ele.” — Robert Kiyosaki
“Riqueza é o que você não vê. Ostentação é o que você mostra.” — Morgan Housel
“Você não fica rico ganhando mais, e sim perdendo menos valor.” — Jim Rohn
“Quem não entende de dinheiro, trabalha para quem entende.” — Dave Ramsey
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910# Castanha de La Paz??? — 09/11/25

Texto autoral RXO
Castanha de La Paz???

O Brasil é mestre em criar slogans. “Amazônia sustentável”, “potência verde”, “bioeconomia do futuro”. A criatividade para batizar é proporcional à incapacidade de construir valor. Porque quando o assunto é a castanha-do-pará — que, aliás, só leva esse nome por um capricho geográfico — o país que detém a floresta é o mesmo que abre mão do mercado.

E o pior: abre mão com aplausos.

Não faltam painéis sobre economia regenerativa. Não faltam ONGs com dossiês e PowerPoints. Mas falta o essencial: um pingo de vergonha diante da constatação que a Bolívia — com um território amazônico ínfimo se comparado ao nosso — é hoje o maior exportador de Castanha-do-Pará do mundo.

A castanha é brasileira. O nome internacional é Brazil Nut. A árvore só dá fruto em floresta nativa. E quem lucra com isso? Eles.

O país que tem o produto, mas não a cadeia

É difícil pensar em um retrato mais perfeito da falência estratégica brasileira. O Brasil tem a floresta, tem o fruto, tem o nome no rótulo internacional — e não tem o lucro. A cadeia mais lucrativa desse produto passa longe dos portos brasileiros.

A Bolívia compra parte da castanha bruta — inclusive vinda do nosso lado da fronteira —, beneficia, embala e exporta. E o mundo a reconhece como potência do setor. O Brasil, por sua vez, coleciona planos estratégicos de papel, relatórios bonitos e promessas de que “a Amazônia vai se tornar o centro da nova economia”.

Enquanto isso, o centro da economia real vai para La Paz.

O marketing é nosso. O mercado, não.

A hipocrisia institucionalizada

Nada disso é acidente. É escolha — ou pior, ausência dela. Enquanto se discute como “salvar a Amazônia” com painéis de acrílico em eventos de cúpula climática, a floresta segue sendo exportada como sempre foi: em estado bruto. O que mudou? O discurso. Agora é “sustentável”. Mas a lógica segue extrativista.

A diferença é que, antes, não havia vergonha em assumir que exportávamos riqueza primária. Hoje, há um teatro sofisticado tentando convencer o mundo de que estamos fazendo diferente. Mas a Castanha-do-Pará — essa mesma que carrega nosso nome — escancara o que ninguém quer admitir: seguimos apenas como fornecedor de insumo barato para países que têm estratégia.

A Bolívia, nesse sentido, nos dá uma lição dura. Não precisa ter a floresta toda — basta saber o que fazer com o que tem. E, sobretudo, não cair na armadilha da vaidade ambiental enquanto abre mão do faturamento real.

O discurso que rende like — e o país que não rende lucro

O Brasil adora ocupar a tribuna do protagonismo climático. Mas basta cruzar as informações mais básicas para ver o abismo entre o que se fala e o que se faz. O país que vive pedindo financiamento internacional para “preservar a floresta” não consegue transformar nem a castanha que colhe em um case de exportação relevante.

Exporta o fruto cru, importaria o senso de estratégia — se soubesse reconhecer.

O Brasil criou um novo tipo de atraso: o atraso ecológico vestido de modernidade. Fala em nome da floresta, mas não fala com quem vive dela. Projeta modelos de “futuro sustentável”, mas aceita que outro país use o produto mais simbólico da região como trampolim econômico.

O Brasil é um outdoor da Amazônia. Mas quem fatura são os vizinhos.

Toda vez que alguém repetir que “a Amazônia é o futuro do Brasil”, lembre-se deste detalhe cruel: o futuro já foi terceirizado.
A castanha que leva nosso nome não leva nosso valor. O discurso ficou com a gente.
O dinheiro? Passa direto pela fronteira.

Cinco frases para tatuar no LinkedIn

“Nada é mais caro que a ignorância estratégica.” — RXO
“É fácil parecer relevante quando ninguém exige resultado.” — Osvandré Lech
“Enquanto você faz marketing, alguém está fazendo mercado.” — T. Harv Eker
“O maior risco é o conforto da irrelevância com cara de protagonismo.” — Stephen Covey
“O discurso bonito nunca compensou o lucro perdido.” — Mario Henrique Meireles
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911# Não caia nessa! – 21/06/25

Texto autoral RXO
Não caia nessa! — RXO

A ideia de que existe um “plano de carreira” pronto, desenhado por alguém no RH ou pela liderança para te levar ao sucesso, é a maior "engabelação" institucional do mundo corporativo. Uma mentira embalada em slogans motivacionais e workshops de autoconhecimento. Um GPS profissional que promete conduzir sua trajetória com segurança, mas que, na prática, vive sem sinal e fora da rota.

Quem ainda acredita nisso precisa acordar.

A metáfora do plano de carreira se baseia em um erro conceitual: a suposição de que há um caminho pré-definido. Mas a realidade é que ninguém — absolutamente ninguém — sabe exatamente onde você vai chegar. Nem mesmo você. E é justamente essa incerteza que exige algo muito mais sofisticado do que um plano: exige estratégia.

RH Não Promove Ninguém

A maior contradição dos planos de carreira está na distância entre o discurso e a prática. Enquanto as empresas falam sobre desenvolvimento, valorização e crescimento, a realidade mostra profissionais engessados, líderes desqualificados sendo promovidos por conveniência política, e os verdadeiros talentos sendo esquecidos no meio do caminho. O resultado é previsível: frustração institucionalizada.

A verdade é simples e indigesta: carreira não é sobre seguir degraus. É sobre criar movimentos.

A Autonomia Que Liberta — e Amedronta

Assumir que o plano é seu — e de mais ninguém — é reconhecer que você é o único responsável por onde está e por onde pode chegar. Isso assusta. Porque se o caminho depende de você, então o fracasso também. E poucos estão prontos para essa honestidade.

Mas quem assume essa responsabilidade conquista algo raro: autonomia. E com ela, liberdade. A liberdade de construir sua trilha. De correr riscos. De crescer sem pedir licença.

Degraus São Coisa do Século XX

Carreira não é escada. É geometria estratégica. Há quem cresça mudando de empresa, pulando áreas, aceitando rebaixamentos que viram saltos. Crescimento não é altura — é deslocamento inteligente. O profissional relevante não espera por cargos. Ele constrói autoridade antes do crachá.

E isso exige clareza brutal sobre o que se quer. E mais: coragem para fazer o que precisa ser feito antes que alguém diga que “está pronto”.

Você É o Plano

Todo plano de carreira é, no fundo, um espelho. Reflita. A posição em que você está hoje é resultado direto das escolhas que fez. Dos riscos que correu — ou não. Das vezes que decidiu ficar quieto quando precisava ter gritado. Ou das que gritou... e não soube sustentar.

Enquanto você terceirizar o plano, terceiriza o resultado. E carreira com controle remoto na mão dos outros é receita certa para frustração profissional.

Pare de Buscar o Plano. Comece a Andar.

Não existe plano. Existe caminhada. E ela precisa de ritmo, leitura de cenário e disposição para errar. O erro estratégico educa. A estagnação protege o ego — e destrói a trajetória.

“O único lugar onde sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.” – Vidal Sassoon
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912# O velório da mãe... – 25/05/25

Texto autoral RXO
O velório da mãe... — RXO

— Alô, Sô Carlos? Aqui é o Uóshito, casêro do sítio.
— Pois não, Seu Washington. Que posso fazer pelo senhor? Houve algum problema?
— Ah, eu só tô ligano pra avisá pro sinhô que o seu papagaio morreu.
— Meu papagaio? Morreu? Aquele que ganhou o concurso?
— Êle mermo.
— Puxa! Que disgrama! Mas... ele morreu de quê?
— Dicumê carne istragada.
— Quem deu carne pra ele?
— Ninguém. Ele cumeu a carne dum cavalo morto.
— Cavalo morto?! Que cavalo?
— Aquele puro-sangue qui o sinhô tinha. Morreu de tanto puxá a carroça d’água.
— Carroça d’água?!
— Prapagá o incêndio...
— Incêndio?!
— Na sua casa. Uma vela caiu nas cortina.
— Mas aqui tem luz elétrica! Que vela era essa?!
— Do velório...
— Velório?! De quem?!
— Da sua mãe. Eu pensei que era ladrão e... dei um tiro nela.
Silêncio.
— Mas, sô Carlos... o sinhô num vai chorá por causa dum papagai, vai?

Essa anedota, por mais absurda que pareça, é a radiografia exata da comunicação em boa parte das empresas. Ninguém quer dizer o que realmente importa. A mãe morreu. Mas ao invés de começar por aí, inventa-se um rodeio de distrações: o papagaio, o cavalo, o incêndio, a vela. Cada detalhe é um amortecedor emocional que mascara o núcleo do problema: o fato grave, irreversível, e que exige coragem para ser dito — e enfrentado.

No ambiente corporativo, a "morte da mãe" é o colapso que ninguém quer admitir. É o erro de gestão, a fraude, o desastre financeiro ou ético que, de tão grave, vira inominável. Surgem os “papagaios” — apresentações cosméticas, jargões, rodapés em reuniões, relatórios diluídos. Tudo para ganhar tempo, suavizar o golpe, controlar percepções. Até que o dano fica tão visível que ninguém mais pode negar. Mas aí já é tarde — e o gestor, como sô Carlos, entra em choque, sem saber se reage ao sintoma ou à causa.

Essa "covardia" comunicacional se disfarça de diplomacia. Mas diplomacia sem verdade é omissão — e omissão na liderança é negligência com selo institucional. Toda organização que silencia a qualquer custo cria ruínas em câmera lenta. O incêndio sempre começa na cortina da omissão. E a carroça da operação vira funeral de reputações.

É preciso coragem para dizer: a mãe morreu. Sem metáforas, sem PPT, sem adorno. É preciso aprender a nomear o problema real antes que ele escale por caminhos irreversíveis. A liderança que não cria um ambiente onde a verdade — mesmo dura — pode ser dita sem medo, cultiva cavalos mortos e papagaios sacrificados todos os dias. E acredita que está sendo estratégica, quando na verdade está sendo cúmplice da tragédia que se recusa a ver.

Organizações saudáveis não eliminam problemas. Eliminam o medo de nomeá-los. A cultura do enfrentamento começa por uma frase simples, mas transformadora: “precisamos falar do que ninguém quer falar”.

Porque, no fim das contas, todo papagaio morto é apenas a distração. A verdade que nos assombra está sempre atrás da porta — com uma vela acesa e um silêncio criminoso à espreita.

“A verdade dita cedo dói. A verdade dita tarde destrói.” — RXO
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913# Já estamos no limite? – 25/04/25

Texto autoral RXO
Já estamos no limite? — RXO

Nos conforta pensar que ainda existe muito espaço disponível para a humanidade. Afinal, ocupamos "apenas 3% da superfície terrestre", certo? Essa afirmação, repetida em debates sobre superpopulação, passa uma falsa sensação de segurança. Mas ao olhar com mais atenção para os números reais, fica evidente: o planeta já opera perto do limite prático de ocupação sustentável.

A área urbana, de fato, corresponde a cerca de 3% da superfície terrestre habitável. Mas essa estatística ignora o que realmente importa: o impacto ambiental da nossa presença. Mesmo vivendo em cidades compactas, a humanidade se espalha por vastas áreas para produzir alimentos, extrair recursos e descartar resíduos.

Ocupamos pouco em termos físicos, mas impactamos quase tudo.

50% da Terra já está dedicada à nossa alimentação

Hoje, aproximadamente 50% da superfície terrestre dos continentes é usada para agricultura e pecuária. São plantações de grãos, campos de soja, pastagens para gado e plantações de cana, milho e arroz — todos sustentando mais de 8 bilhões de pessoas.

Esse dado mostra que muito do que parece "espaço livre" já é, na prática, ocupado para garantir nossa sobrevivência. A margem para expansão agrícola é mínima — e qualquer tentativa de crescer pressionaria ainda mais biomas naturais.

O mito do "espaço vazio": uma leitura rasa da realidade

Grande parte da Terra "não habitada" é, na verdade, território inóspito para ocupação humana. Vamos aos números reais:

  • Desertos como o Saara, o Gobi, o Atacama e o Deserto da Arábia cobrem cerca de 20% da superfície terrestre seca.
  • Áreas geladas como a Antártica, a Sibéria e o Ártico representam aproximadamente 15%.
  • Cordilheiras como os Andes, o Himalaia e os Alpes ocupam cerca de 5%.
  • Florestas tropicais como a Amazônia representam cerca de 7%.
  • Terras protegidas (como terras indígenas no Brasil) somam entre 1% a 3%.

Somando tudo, sobra uma margem ínfima — no máximo 2% da área seca — que seria minimamente viável para novos assentamentos humanos. E isso desconsiderando a necessidade de preservar ecossistemas e serviços ambientais essenciais.

A ideia de que temos "espaço sobrando" se desfaz diante da realidade dos territórios efetivamente disponíveis.

Degradação crescente: o solo fértil também está sumindo

Além da limitação natural de espaço, enfrentamos um agravante: a degradação acelerada das terras produtivas. Perdemos cerca de 12 milhões de hectares de solo agrícola por ano — algo como 33 mil hectares por dia — para erosão, desertificação e esgotamento de nutrientes.

Se as áreas férteis diminuem ano após ano, qualquer ilusão de expansão segura simplesmente não se sustenta.

Pegada ecológica oceânica: a fronteira invisível

Mesmo os mares, que cobrem 70% da superfície do planeta e pareciam imunes ao excesso humano, hoje mostram sinais graves de exaustão:

  • Cerca de 1/3 dos estoques pesqueiros globais já está sobreexplorado.
  • 11 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos todos os anos.

Nossa capacidade de impactar ecossistemas, mesmo longe dos olhos, revela que o problema nunca foi falta de espaço. Sempre foi excesso de exploração.

O crescimento do consumo: a verdadeira bomba-relógio

Não se trata apenas do número de pessoas. Se a população mundial adotar um estilo de vida próximo ao dos países mais ricos, a pressão sobre os recursos explodirá.

Segundo o Center for Sustainable Systems da Universidade de Michigan, seriam necessárias cerca de 5 Terras para suportar o padrão de consumo médio de um cidadão americano.

E o movimento é claro: com o crescimento econômico global, haverá aumento no consumo per capita de energia, alimentos, carne, açúcar, papel, combustível, chips, baterias, madeira, cimento — e consequentemente, um aumento proporcional na produção de resíduos.

Cada novo bilhão de habitantes não apenas ocupa espaço: consome mais e exige mais de um planeta que já está sobrecarregado.

"Espaço vago" não é espaço disponível

Outra falácia recorrente é imaginar que todo território não habitado por humanos pode ser livremente ocupado. Nada mais distante da realidade.

Muitos dos territórios considerados "livres":

  • Já servem como estoques de carbono (essenciais para controlar o aquecimento global);
  • Mantêm a biodiversidade necessária para a manutenção de cadeias ecológicas;
  • Garantem recursos hídricos e estabilidade climática.

Preencher esses espaços com cidades, estradas ou plantações seria equivalente a assinar a sentença de morte dos ecossistemas que sustentam nossa própria existência.

Limite real, não imaginário

A soma dos impactos — urbanos, agrícolas, industriais e marítimos — já mostra que o planeta não é tão elástico quanto gostaríamos de acreditar.

Chegamos no limite. Não o limite físico de ocupação, mas o limite ecológico — e este já foi ultrapassado em vários aspectos críticos.

O crescimento populacional futuro (cerca de 3 bilhões de pessoas a mais até 2100) exigirá não apenas mais espaço, mas revoluções em tecnologia agrícola, energias limpas, descarte de resíduos e, principalmente, na maneira como consumimos e interagimos com o planeta.

Sem isso, cada novo habitante se tornará um fardo insustentável para um sistema ecológico já frágil.

“O limite não é o espaço que resta — é o equilíbrio que perdemos.” — RXO

Cinco frases inspiradoras

  • “O futuro pertence àqueles que veem as oportunidades antes que elas se tornem óbvias.” – Theodore Levitt
  • “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” – Peter Drucker
  • “O sucesso é a capacidade de ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.” – Winston Churchill
  • “Se você quer mudar o mundo, comece mudando a si mesmo.” – Mahatma Gandhi
  • “Grandes oportunidades surgem das grandes crises.” – Napoleon Hill
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Vídeos

Vídeo 01# Comida Tipo Comida — 08/11/25

Vídeo comentado RXO

O vídeo “Comida Tipo Comida” desmonta um dos equívocos mais comuns sobre a indústria alimentícia: a ideia de que produtos “tipo alguma coisa” são resultado de má-fé corporativa. Na realidade, são consequência direta de uma estrutura tributária sufocante, da logística ineficiente e da renda média da população.

“Sem tipo iogurte, muita gente não teria nenhum iogurte.”
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Vídeo 02# Carro movido a água — 08/11/25

Vídeo comentado RXO

O vídeo “Carro movido a água” desmistifica um dos boatos tecnológicos mais persistentes das últimas décadas: a promessa de que a água pode substituir a gasolina sem violar as leis da física. Em linguagem acessível, o narrador mostra por que a termodinâmica não “tira férias”.

“Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é mentira.”
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Vídeo 03# Todo problema começa pequeno — 08/11/25

Vídeo comentado RXO

“Todo problema começa pequeno” é um lembrete brutalmente realista sobre a cultura de complacência dentro das operações industriais. O vídeo mostra como pequenos desvios e “gambiarras temporárias” viram catástrofes quando a prevenção cede lugar ao improviso.

“Os problemas não desaparecem porque são ignorados — eles se tornam monstros.” — Winston Churchill
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Vídeo 04# Banânia e o Milagre Econômico — 08/11/25

Vídeo comentado RXO

“Banânia e o Milagre Econômico” é uma parábola direta sobre o mito do dinheiro fácil: o governo deposita 1 milhão de “bananis” para cada cidadão e a euforia vira colapso. Sem aumento de produção, os preços disparam, o trabalho para, faltam bens e a moeda implode. A mensagem é simples e dura: prosperidade vem de produtividade, não de decreto — riqueza real se constrói, não se imprime.

“Se todo mundo é milionário, ninguém é rico.”
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Vídeo 05# Como Destruir com o Mercado Negro — 08/11/25

Vídeo comentado RXO

O vídeo propõe uma tese provocativa em tom satírico: se governos querem realmente destruir o mercado negro, basta submetê-lo ao mesmo ambiente hostil do setor formal — estatização, carga tributária total (ICMS, IPI, PIS/COFINS, ISS), CLT completa com benefícios e adicionais, licitações demoradas e um labirinto regulatório (sanitário, ambiental, marketing). Sem agilidade, com custos explosivos e decisões politizadas, a “eficiência” do mercado negro implode sem precisar de helicóptero ou megaoperações. Moral: mercados paralelos florescem onde há proibição, controle de preços e burocracia; sufocam quando submetidos às mesmas amarras que estrangulam o empreendedor comum.

“O mercado negro prospera quando se impõem controles de preços e proibições.” — (paráfrase de ideias de Milton Friedman)
“Nada é tão permanente quanto um programa temporário do governo.” — Milton Friedman
“A burocracia é a morte de qualquer eficiência.” — atribuída a diversos autores
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